quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Entre a poesia e o sexo no drama das mil e uma noites



As Mil e uma Noites (Mille e uma Notte) de Pier Paolo Pasolini é um filme onírico que envolve drama, erotismo, pornografia e até comédia, tendo como base uma frase do próprio cineasta ao considerar que a verdade não está num sonho, mas em muitos sonhos superpostos. Tudo começa quando um homem inicia uma estranha viagem à procura de sua amante, uma bela escrava chamada Zumurrud, que foi raptada por um ser de olhos azuis.
Na sua longa e aventureira busca, ele vai cruzar com uma série de outros personagens com seus dramas humanos envolvidos em traições, cobiças e desejos eróticos. O filme mostra o leilão de uma escrava que se recusa a ser vendida  e pode ser encarado como uma grande alegoria formada por pequenas histórias que se somam tendo como pano de fundo relações hetero e homossexuais em abundância.
Um dos personagens diz que o que Deus quer acontece e o que não quer não acontece e o filme faz parte de Trilogia da Vida  produzida no período de 1971 a 1974, inciada por Decameron,  seguido de Os Contos de Canterbury e de As 1001 Noites,  obras polêmicas e que dividiram a opinião do público e da própria  crítica. Ela foi encerrada com o assassinato Pasolini em circunstâncias consideradas misteriosas, em novembro de 1975.
No filme As Mil e uma Noites tudo é metafórico, chocante  e superdimensionado, misturando poesia belas com imagens como a de uma espécie de Eros,  que usa um arco e flecha com um pênis na ponta como se fosse um vibrador. Há também a relação dúbia  entre  Aziz (Ninetto Davoli)/Aziza e ainda o caso da Rainha Dunya, que odeia homens e tem um jardim particular, num contexto que envolve sexo, prazer, sadomasoquismo e a morte inexorável.
Um personagem faz referência à importância da ciência, arte e literatura, lembrando que sem conhecimento não há nada, numa sociedade que valoriza apenas o dinheiro. Já um sapato deixado numa tumba nos remete à história da Gata Borralheira  e depois há uma  referência a conhecer o mundo numa viagem pelo mar.
Numa outra sequência, Franco Citti, com cabelos vermelhos, interpreta um demônio que mantém como prisioneira uma jovem branca, uma cor que contrasta com  a dos demais personagens do filme, inclusive da bela nativa africana com seus olhos claros. Assim, quando um jovem entra  por acidente no local, não consegue resistir à  beleza da moça, que também se apaixona por ele. Quando o demônio retorna ao local, descobre que não há nada mais que ele possa fazer, então  corta-lhe os braços, depois  as pernas, mas a vítima em sua resistência ainda é capaz de fazer amor com os olhos.
O filme também é premonitório quando mostra um jovem assassinado, o que aconteceu na vida real um ano depois com o próprio cineasta. Como comunista e homossexual, Pasolini revela em seus filmes uma critica à política e ao sexo mostrando personagens às vezes de carne e osso, que respiram, amam, comem, bebem, trepam e dormem para depois sonhar. O problema é sabermos  onde está o limite do sonho ou da realidade num mundo conturbado e às vezes cruel, onde nem sempre a razão ou até mesmo o prevalecem.(Kleber Torres)
Ficha técnica
 Direção e roteiro: Pier Paolo Pasolini
Elenco : Ninetto Davoli, Franco Merli e Inês Pelegrini
Gênero Drama, comédia e erotismo   
Ano : 1974
Duração: 3h10min

Uma produção Franco/Italiana 

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