A questão da velhice, da solidão, da falta de amor, o
tédio cotidiano e a pobreza formam o
tema central do filme Manglehorn, que conta a história de Angelo Mangelhorn (Al
Pacino), um chaveiro recluso e solitário que vive no Texas, onde passa o tempo escrevendo cartas
de amor para a sua ex-mulher e
distante do seu filho Jacob, um
empresário bem sucedido e que atua no mercado financeiro.
A rotina de Menglehorn é previsível, ele dissipa os seus dias monotonamente na loja e oficina ou atendendo clientes,
cuidando do seu gato ou escrevendo
cartas de amor sem receber respostas na caixa do correio, que pelo desuso e abandono acaba abrigando uma
colmeia em formação de abelhas.
A sua rotina previsível e cansativa é rompida sempre às
sextas feiras, quando vai ao banco, onde é atendido pela caixa Dawn (Holly
Hunter), uma mulher muito mais jovem que ele e também uma pessoa solitária em
busca de amor e carinho.
Os dois acabam se encontrando em jantares e visitas, mas
tudo cai por terra quando em um jantar
do casal ele tece loas a sua ex-mulher, por quem manifesta um grande
encantamento, perdendo assim a chance de transformar o encontro com Dawn num
namoro e assim, construir uma futura paixão, assim, ele volta ao seu universo
limitado pela solidão, descrença e falta de perspectivas, coisas de quem perde
a dimensão do tempo e não acredita no amanhã como explica o personagem num dos
monólogos muitos ao longo do filme.
O diretor Gordon Green faz a opção correta no personagem interpretado Pacino, um ator
experiente e que mostra a construção gradativa do homem socialmente desinteressado e agressivo Angelo
Manglehorn, como um ex-treinador de uma equipe escolar de futebol americano. Do
relacionamento com ex-alunos e com um filho ficam pistas sobre o crescente
isolamento do personagem, de quem as pessoas também se afastaram quando entrou
em decadência.
Em termos didáticos, o diretor usa de forma ampla fusões de imagens e sequências que revelam as
reflexões do personagem sobre a vida e a solidão, mostrando ao mesmo tempo o
outro lado da moeda, ou seja, um personagem romântico que sonha na reconquista
do amor perdido, que se dissipou no tempo, vivendo em companhia de um gato em
quem investe suas poupanças numa cirurgia complicada.
O filme é construído em partes distintas e que se somam:
de um lado, o monólogo interior de Pacino que tenta avaliar a dimensão e
extensão do seu isolamento ou questionar sobre a sua vida. Há ainda uma
cantoria de um cliente e uma funcionária do banco onde Down trabalha e que fala
de questões como o amor na sua essência e na fé, isso sem falar nas
intervenções de um mímico que surge alegoricamente em várias ocasiões inclusive
no final.
Cabem ainda no
filme os diálogos de Menglehorn com o filho a quem chama de tubarão e que o
procura quando investigado por supostos crimes no mercado financeiro, a quem
pode oferecer apenas o sofá cama na sala modesta e suja da casa onde vive.
O filho, que teve os bens bloqueados, queria palavras de
apoio e lembra que não tem com quem falar ou pedir conselhos. Para Menglehorn
quando escolhemos esta vida não temos ninguém, pois no mundo é cada um por si.
Ele lembra por experiência própria que
nos momentos de crise e de dificuldades ou na decadência ninguém nem mesmo atende ao
telefone e o que é mais grave, “você acaba invisível, nós somos
invisíveis”.
Mas Angelo Manglehorn também tem seus momentos de
resiliência e isso é lembrado pelo filho, pois quando irritado, o personagem central
quebrou tudo em casa e sem agredi-lo. Cita ainda que ao voltar da escola a casa
estava em ordem, a televisão quebrada substituída e o pai apenas comentou que
teve uma manhã difícil, mas sem lamentações. Essa capacidade de reconstrução, o
Menglehorn tenta numa reaproximação com Down, afinal sempre há espaço e
condições para recomeçarmos e até terminarmos alguma coisa antes da morte que é
inevitável. (Kleber Torres)
Ficha técnica
Título : Manglehorn
Direção: David Gordon Green
Roteiro: Paul Logan
Elenco: Al Pacino , Holly Hunter , Chris Messina ,
Harmony Korine
Música : David Wingo
Duração: 97 min
País
2014
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