quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Uma reflexão sobre a vida e questões muito além da solidão e do tédio



A questão da velhice, da solidão, da falta de amor, o tédio cotidiano e a pobreza formam  o tema central do filme Manglehorn, que conta a história de Angelo Mangelhorn (Al Pacino), um chaveiro recluso e solitário que vive no  Texas, onde passa o tempo escrevendo cartas de amor para a sua ex-mulher e  distante  do seu filho Jacob, um empresário bem sucedido e que atua no mercado financeiro.
A rotina de Menglehorn é previsível, ele dissipa  os seus dias monotonamente  na loja e oficina ou atendendo clientes, cuidando do seu gato ou  escrevendo cartas de amor sem receber respostas na caixa do correio, que  pelo desuso e abandono acaba abrigando uma colmeia em formação de abelhas.
A sua rotina previsível e cansativa é rompida sempre às sextas feiras, quando vai ao banco, onde é atendido pela caixa Dawn (Holly Hunter), uma mulher muito mais jovem que ele e também uma pessoa solitária em busca de amor e carinho.
Os dois acabam se encontrando em jantares e visitas, mas tudo cai por terra  quando em um jantar do casal ele tece loas a sua ex-mulher, por quem manifesta um grande encantamento, perdendo assim a chance de transformar o encontro com Dawn num namoro e assim, construir uma futura paixão, assim, ele volta ao seu universo limitado pela solidão, descrença e falta de perspectivas, coisas de quem perde a dimensão do tempo e não acredita no amanhã como explica o personagem num dos monólogos muitos ao longo do filme.
O diretor Gordon Green faz a opção correta  no personagem interpretado Pacino, um ator experiente e que mostra a construção gradativa do homem  socialmente desinteressado e agressivo Angelo Manglehorn, como um ex-treinador de uma equipe escolar de futebol americano. Do relacionamento com ex-alunos e com um filho ficam pistas sobre o crescente isolamento do personagem, de quem as pessoas também se afastaram quando entrou em decadência. 
Em termos didáticos, o diretor usa de forma ampla  fusões de imagens e sequências que revelam as reflexões do personagem sobre a vida e a solidão, mostrando ao mesmo tempo o outro lado da moeda, ou seja, um personagem romântico que sonha na reconquista do amor perdido, que se dissipou no tempo, vivendo em companhia de um gato em quem investe suas poupanças numa cirurgia complicada.
O filme é construído em partes distintas e que se somam: de um lado, o monólogo interior de Pacino que tenta avaliar a dimensão e extensão do seu isolamento ou questionar sobre a sua vida. Há ainda uma cantoria de um cliente e uma funcionária do banco onde Down trabalha e que fala de questões como o amor na sua essência e na fé, isso sem falar nas intervenções de um mímico que surge alegoricamente em várias ocasiões inclusive no final.
Cabem  ainda no filme os diálogos de Menglehorn com o filho a quem chama de tubarão e que o procura quando investigado por supostos crimes no mercado financeiro, a quem pode oferecer apenas o sofá cama na sala modesta e suja da casa onde vive.
O filho, que teve os bens bloqueados, queria palavras de apoio e lembra que não tem com quem falar ou pedir conselhos. Para Menglehorn quando escolhemos esta vida não temos ninguém, pois no mundo é cada um por si. Ele lembra por experiência própria  que nos momentos de crise e de dificuldades   ou na decadência ninguém nem mesmo atende ao telefone e o que é mais grave, “você acaba invisível, nós somos invisíveis”. 
Mas Angelo Manglehorn também tem seus momentos de resiliência e isso é lembrado pelo filho, pois quando irritado, o personagem central quebrou tudo em casa e sem agredi-lo. Cita ainda que ao voltar da escola a casa estava em ordem, a televisão quebrada substituída e o pai apenas comentou que teve uma manhã difícil, mas sem lamentações. Essa capacidade de reconstrução, o Menglehorn tenta numa reaproximação com Down, afinal sempre há espaço e condições para recomeçarmos e até terminarmos alguma coisa antes da morte que é inevitável. (Kleber Torres)

Ficha técnica

Título : Manglehorn
Direção: David Gordon Green
Roteiro: Paul Logan
Elenco: Al Pacino , Holly Hunter , Chris Messina , Harmony Korine
Música : David Wingo
Duração: 97 min
País

2014

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