terça-feira, 7 de novembro de 2017

A simplicidade e repetição no humor chapliniano


A Revista de Chaplin (The Chaplin Revue) reúne três histórias diferentes dos anos 20, período do cinema mudo, que nos revelam a essência da comédia e das histórias nem sempre roteirizadas de Charles Chaplin, que antecedeu Glauber Rocha no sentido de utilizar uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. O humor chapliniano tem como base poucos personagens, simplicidade na ação e a repetição dos “gags”, ou seja, efeitos cômicos que, numa representação, resultam do que o ator faz ou diz, jogando com o elemento surpresa ou o fato insólito, que vai além das expectativas da razão e atinge muitas vezes os limites do surreal. Na primeira história, Vida de Cachorro (A Dog’s Life) um vagabundo (Charles Chaplin), que não tem nem sequer onde dormir e vive vagando sem emprego pelas ruas sem conseguir nada, sobrevive de pequenos furtos de alimentos e frequentando ambientes nem sempre recomendáveis como o Lanterna Verde, um ambiente cheio de malandros e golpistas, acompanhados de garotas de programa. Certo dia, vendo uma briga de cachorros na rua disputando alimentos, ele acaba adotando um vira-lata a quem dá o nome de Scraps. Neste ínterim, o cachorro de Chaplin acha um dinheiro roubado por ladrões e ele se envolve numa disputa da qual sai vitorioso. Depois, se estabelece no campo, com a mulher e o cachorro, aliás uma cadela com as suas crias. No segundo filme, o vagabundo (Charles Chaplin) é um soldado desajeitado, que faz tudo ao contrário, em treinamento para guerra. O filme utiliza imagens reais das trincheiras ma Primeira Guerra Mundial com seus horrores de mortes sem sentido, disputas áreas limitadas de terra minada e uso de gases químicos, altamente tóxicos mas de efeitos letais para milhares de vitimas. O fato é que Chaplin apesar de ser um patinho feio num exército de pessoas normais, acaba virando herói, rendendo primeiro um pelotão de alemães; depois eliminando inimigos disfarçado de árvore e por fim, prende o Kaiser, numa ação também fora de qualquer lógica e sentido. O problema é que tudo não passa de um sonho e ele acorda no acampamento em que está sendo treinado para a guerra, ou seja, a luta da vida contra a morte, que sempre acaba vencendo no fim. No terceiro filme, um foragido (Charles Chaplin) se disfarça de padre para fugir do presídio, mas acaba sendo confundido com um pastor que ia fazer uma pregação pequena cidade de Devil's Gulch. Depois de se meter em trapalhadas durante a pregação, fazendo uma paródia sobre David e Golias que agrada a um moleque do público e lhe rende aplausos, ele depois tem como rival um ex-colega de cela, um ladrão incorrigível que tentava roubar os seus acólitos. Chaplin também enfrenta um menino mal educado, que não respeita os pais e nem a ele, e, além de chutar o menino por duas vezes – o que nos dias de hoje seria politicamente incorreto para os puristas -, também se envolve na confecção de um bolo, colocando glacê sobre o chapéu do pai do menino sapeca, mostrando que o riso escapa das fórmulas prontas e acabadas , evidenciando os caminhos para compreensão de Chaplin, que encarou os problemas do início do século: o avanço da exploração do petróleo, do cinema e da aviação, três fenômenos globalizados e que tiveram impacto na vida de todos nós, mas também contribuíram para achados cômicos e inteligentes, porque o humor é um indicador de inteligência e de visão critica da realidade. (KLeber Torres) Ficha Técnica: Título original: A Revista do Chaplin (:The Chaplin Revue) Data de lançamento 1959 Direção: Charles Chaplin Elenco: Charles Chaplin, Henry Bergman, Edna Purviance Gênero: Comédia Nacionalidade Reino Unido/ EUA Cor Preto & Branco 128 minutos

Nenhum comentário:

Postar um comentário