O History Channel exibiu recentemente o documentário “A Verdadeira História da Ficção Cientifica”, que em realidade é a história da imaginação, até porque uma das ideias mais instigantes é a da viagem no tempo, um processo em que as pessoas transitam do presente para o futuro ou para o passado remoto, um tema que atrai grandes escritores e cineastas famosos, encantando leitores e telespectadores.
A questão não é nova e em 1895, H.G.Wells publicou o antológico “Máquina do Tempo” (The Time Machine) em que um inventor criativo constrói um equipamento capaz de transportá-lo no tempo levando-o em direção ao futuro. Vale lembrar que este livro foi escrito na época vitoriana, um período de mudanças marcado por um grande desenvolvimento econômico e industrial da Inglaterra, além das conquistas coloniais de novas terras e novos horizontes.
Na Era Vitoriana, a Inglaterra tornou-se o país mais rico e poderoso do mundo. Além do mais, Wells explorou de forma criativa uma série de temas que foram mais tarde aprofundados por outros escritores de ficção científica, e que ganharam repercussão junto à critica e ao público em livros como A Máquina do Tempo, O Homem Invisível e A Guerra dos Mundos, que ganharam adaptações cinematográficas.
Outra obra importante e que chegou as telas quase um século depois foi o filme de “Volta ao Futuro”, dirigido por Robert Zemeckis, escrito por ele em quatro mãos com Bob Gale e estrelado por Michael J. Fox, Christopher Lloyd, Lea Thompson, Crispin Glover e Thomas F. Wilson. O filme conta a história de Marty McFly (Michael J. Fox), um adolescente que volta no tempo até 1955 com a ajuda de um cientista Dr. Emmett Brown (Christopher Lloyd), com uma excelente interpretação.
Nesta viagem no tempo em um veículo adaptado e movido pela energia de um raio, ele conhece seus futuros pais no colégio e acidentalmente faz sua futura mãe ficar interessada sentimentalmente por ele. Para evitar o que seria um paradoxo e um desastre, Marty deve consertar o que seria um erro na história fazendo com que seus pais se apaixonem e, para isso contaria com a ajuda do amigo cientista para encontrar um modo de voltar para 1985.
Em sua essência, a ficção científica reflete um universo de criatividade de escritores e roteiristas, que se inspiram pensando coisas novas e buscando novas ideias, o que deu uma nova dimensão à questão da viagem no tempo. A questão também envolve paradoxos como o de uma pessoa alterando o passado, o que implicaria em mudanças no futuro – um exemplo seria você encontrar os seus avós no passado e os matando, mesmo circunstancialmente, inviabilizaria o seu nascimento no futuro.
A história da ficção cientifica também tem como referência um clássico do cinema Metropolis, de 1927, um longa metragem dirigido por Fritz Lang, que nos mostra uma sociedade distópica, bem como a contradição entre ricos e os pobres, numa referencia à luta de classes, os quais vivem à margem num mundo subterrâneo, que seria uma metáfora das grandes distorções entre os que têm dinheiro e os desvalidos.
O roteiro foi baseado em romance de Thea von Harbou e escrito por ela, em parceria com Lang, que dirigiu o filme mais caro e considerado um marco do expressionismo, sendo uma referência para o nosso tempo.
Outro destaque no documentário sobre ficção cientifica é o conto “Um Som de Trovão” (A Sound of Thunder), de Ray Bradbury, publicado originalmente na revista Collier's em 1952 e que permanece em primeiro lugar entre as dez histórias de FC mais reimpressas em todos os tempos, contando a história de uma viagem no tempo para caçar dinossauros.
Assim, para evitar aquilo que seria um paradoxo temporal, os personagens agem com cuidado para deixar o curso dos acontecimentos intacto, visto que mesmo uma alteração mínima poderia gerar mudanças no futuro. Desta forma os viajantes só poderiam abater animais que iriam morrer em breve, que estavam em fase de extinção, e não poderiam sair de uma trilha demarcada previamente, que flutua acima do solo. O problema é que numa destas incursões, um dos caçadores pisa casualmente em uma borboleta, e, ao voltar ao futuro, redescobre o mundo completamente mudado, imerso no mais absoluto caos. A questão tem como parâmetro a da teoria do caos, em que uma borboleta bate asas na China e pode gerar uma tempestade em outro continente.
O documentartio incursiona ainda em “Uma aventura fantástica” de Bill e Ted, uma comédia americana com Keanu Reeves e Alex Winter, em 1989 e Doctor Who, uma série de ficção científica britânica, produzida pela BBC desde 1963, mostrando as aventuras do Doutor, que viaja no tempo para salvar as civilizações, ajudar as pessoas comuns e corrigir erros. As referências incluem ainda TX 1118, dirigido por George Lucas, que leva numa viagem ao futuro, a um mundo distópico em que as pessoas vivem em grandes cidades subterrâneas e onde as emoções são controladas por meio de medicação obrigatória.
Também são referencias históricas do rico universo de ficção cientifica o Logans Run (Fuga do Século XXIII), um filme americano de ficção e que deu origem a uma série de televisão em 1977. Mas, o grande marco da Ficção Cientifica é, sem dúvida, o Blade Runner, de Ridley Scott, com Rutger Hauer e Harrosin Ford, que tem como cenário uma decadente e futurista Los Angeles em novembro de 2019, afetada pela poluição, pelo consumismo exacerbado e a consequente busca de novas formas de colonização, um processo para o qual as pessoas são convidadas a se aventurarem, em viagens interplanetárias, em face do colapso da civilização, numa falência em termos materiais e morais.
O diretor Ridley Scott foi visionário na medida em que a globalização tão amplamente acentuada nas últimas décadas, encontra no filme, um final catastrófico, melancólico e deprimente, com animais extintos clonados e replicados a exemplo dos replicantes humanos, como sói acontecer com uma profusão de culturas, etnias, credos e costumes.Tudo ocorre tal qual podemos vislumbrar o preâmbulo nas sociedades hodiernas, onde metade das coisas que fazemos não funcionam, não fazem sentido e geram uma crise existencial mostrando que a vida é confusão e o caos inexorável..
Blade Runner nos revala um padrão de visão do futuro em termos de linguagem, e o próprio Harrison Ford ficou inteiramente confuso com as frase e xingamentos de um androide, numa mistura de línguas ocidentais e orientais, que se fundem e se completam, como ocorre hoje num mundo cada vez mais globalizado. BR explora a própria crise da América, com uma sociedade cada vez mais urbana e desintegrada. O filme ocorre no momento em que o sonho americano começava a desmoronar.
Mas os filmes de ficção científica saem dos limites estritos daiagem no tempo e da caça de andróides, para emergir na invasão da privacidade, com telefones e câmeras monitorando a vida da pessoas, ações que também são acompanhadas por drones, neste caso uma referência é 1984, de George Orwell. No filme “12 Macacos” a humanidade é ameaçada por um vírus letal e cabe a Bruce Wills evitar a catástrofe final.
A ficção cientifica também nos remete a uma situação esdrúxula, ou seja, ao homem assistir a sua própria morte. Também nos deixa cara a cara com “Looper” (Assassinos do Futuro), de 2012), que nos fala do salto quântico na viagem no tempo. Assim, cabe questionar como este tipo de viagem em outra dimensão afeta as pessoas. O problema é saber qual a história que queremos, os valores e afinal num universo real ou de ficção, sabermos o que realmente somos ou para onde vamos. (Kleber Torres)
Nenhum comentário:
Postar um comentário