quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Quando e como o goleiro tem medo diante do pênalti






Considerado uma metáfora do esporte e da própria  vida, o filme O Medo do Goleiro diante do Pênalti (Die Angst des Tormanns beim Elfmeter), de 1972, foi o primeiro longa-metragem do alemão Wim Wenders, que se notabilizou em filmes como Paris, Texas e O Sal da Terra, e assinou o roteiro a partir de um livro homônimo do escritor austríaco Peter Handke. Tudo tem como foco a história do goleiro Joseph Bloch interpretado por Arthur Brauss, que, se revolta com um juiz depois um pênalti durante um jogo de futebol, acaba expulso e depois, acaba se envolvendo num assassinato de uma mulher.
O filme sem cortes e de baixo custo, que foi remasterizado com uma revisão da trilha sonora, tem desdobramentos lentos e diálogos existenciais mesclado com muitas comparações entre o futebol, os sonhos que não têm sentido  e a vida dos personagens. Depois de expulso, o goleiro deixa o campo, leva um jornal e começa a vagar pela cidade.
Ele chega à cidade, aluga um quarto de hotel,  vai ao cinema, e depois do filme não consegue completar uma chamada telefônica, porque o telefone estava como defeito. Bloch voltar sozinho para o hotel barato onde está hospedado e vai dormir.
Praticamente repetindo o roteiro do dia anterior, ele volta ao cinema, pede uma poltrona espaçosa e acaba  marcando um encontro com a moça da bilheteria do cinema interpretada por Edda Köchl, com quem dorme e depois de tomar banho e café, a mata sem motivo aparente, num apartamento próximo ao aeroporto.
Depois do crime, ele foge de ônibus, se envolve numa série de incidentes e sempre procura acompanhar o caso do assassinato através da leitura de jornais.Numa cidade pequena, ele se aproxima de Glória (Erika Pluhar), que foi no passado sua companheira e que hoje, tem um restaurante e vive em companhia da filha de quatro anos.
Bloch ali se envolve em brigas, é assaltado,  e tem um comportamento errático, por fim, se depara, ao assistir um jogo de futebol, com um delegado que investiga o caso do homicídio em que está envolvido, o qual, segundo os jornais, já estaria elucidado. Como tudo é metafórico, faltou o árbitro encerrar a partida, que pode ser um retrato colorido ou em preto e branco da própria vida.(Kleber Torres)


Ficha Técnica :
Titulo: O Medo do Goleiro diante do Penalty(
Direção : Win Wenders
Roteiro: Wim Wenders e Peter Handke

Música : Jürgen Knieper

Elenco: Arthur Brauss, Bert Fortell,  Edda Köchl, Erika Pluhar e Ernst Meister
Alemanha

domingo, 20 de outubro de 2019

O pesadelo da ressurreição do fascismo




O velho Karl Marx considerava que a história se repete, a primeira vez como tragédia e na segunda, como farsa. Mas o filme Estou de Volta (Sono Tornato), uma produção italiana de 2018, dirigida por Luca Miniero, nocauteia esta tese e mostra concretamente,  que ela pode se repetir como comédia até de humor negro, como a da ideia de ressurreição do fascismo que ainda tem os seus adoradores e viúvas.
Tudo começa  após 70 anos da morte de Benito Amilcare  Andrea Mussolini, interpretado por Massimo Popolizio, que  ressurge em Roma, depois de passar através  de um portal que interligava magicamente o mundo dos vivos e dos mortos. O Duce, que se considerava o aeronauta do pensamento –os filósofos que se cuidem -, fica confuso e horrorizado ao ver a decadência do país que governou e se propõe a viajar pela Itália de hoje, onde nada funciona, nem mesmo os correios e nem os hospitais.
Mussolini também critica a miscigenação racial, a migração dos africanos e de gente de outros países europeus, o que o faz acreditar na necessidade de uma revolução e para isto, propõe  como lema para as mudanças: “vamos salvar a Itália juntos’. Também questiona os valores democráticos por considerar que o voto  não tem  nenhuma utilidade se o eleitor não sabe o que fazem de concreto os políticos eleitos.
Um repórter acredita que o misterioso personagem é um sósia do ex-ditador fascista e mesmo assim, o ajuda a começar na televisão como um comediante, que fazia questão de afirmar que era o verdadeiro Mussolini e que suas práticas e propostas  continuavam iguais às do tempo do fascismo.
A produtora Katia Bellini (Stefania Rocca) se entusiasma e pensa num show para este novo ator, o Mussolini Show e cria até uma conta de e-mail para o novo astro, que ganha pontos crescentes de audiência. Teatral, Mussolini faz caras e bocas na telinha, onde impõe silêncio e pausas planejadas, lembrando que: “todos vocês têm medo do silêncio. Se um rato entra em sua casa, você não chama um humorista, mas um dedetizador. Quando falo isto, vocês querem rir, por isso que em 1940 nós só produzíamos comédias. Depois de 70 anos, eu volto aqui e descubro que vocês continuam um povo analfabeto, conversando nas redes de sociais. Você estão sós, invejosos e cheios de rancor.”
Mussolini  faz duras criticas à sociedade de consumo, considerando que,  “estamos perdendo a batalha antes de começarmos a luta contra a pobreza entre jovens e idosos. Nós precisamos mais do que o whatsapp para nos dizer que estamos afundando .” O programa faz sucesso e consegue 33 pontos de audiência, alcançando 60% entre os jovens, o que leva Mussolini a todos os programas da emissora.
Dizendo que encontrou a Itália transformada numa Rodésia Setentrional, num Congo ou numa Nigéria, ele fala entre os planos para o futuro e defende a construção de um império: “voltei para ajustar o tiro! Pou!!!”. A tarefa para ele, é reconquistar a Itália e a memória nacional, desafiando os radicais de direita condescendentes com os guetos: “os políticos de direita têm medo de ser chamados direitistas e os de esquerda, de dizer coisas verdadeiras”, complementou.
Na sua metralhadora giratória, Mussolini se recusou até a falar do globalizado futebol italiano, onde os dirigentes são de Pequim, a bola indiana e os jogadores africanos. Quanto à política, ele sugere aos governantes que primeiro escutem os desejos do povo e depois façam obras e ações que atendam às suas expectativas.
A popularidade do fascista ressuscitado começa a ser questionada quando  ele é mostrado matando  um cão a tiros em um vídeo. Mussolini se defende dizendo que atirou, porque foi atacado e mordido pelo animal, mas não escapa uma agressão de defensores mascarados  dos animais. Outro golpe fatal na desconstrução deste personagem, foi Ariella Reggio (Nonna Lea), uma idosa com lapsos de memória, mas que reconheceu como o ditador assassino, que provocou a morte de seus pais, expulsando-o de sua casa.
Tudo termina quando o Duce, depois de um atentado, acaba reabilitado pelos italianos após ser perdoado pela dona do cachorro que matou, o que abre a porta para que avance com o seu carisma pelos caminhos, nem sempre retilíneos e para uma indefectível escalada ao poder, que às vezes corrompe absolutamente e por nos levar a muitos descaminhos. (Kleber Torres)

Ficha técnica

Título : Estou de volta (Sono tornato)
Direção: Luca Miniero
Roteiro: Luca Miniero e Nicola Guaglianone
Elenco: Massimo Popolizio , Ariella Reggio, Gioele Dix (Daniele Leonardi), Guglielmo Favilla (diretor de TV), Luca Avagliano (Gianni), Massimo De Lorenzo (Giorgio), Stefania Rocca (Katia Bellini), Frank Matano, Elenora Belcamino e Alessandro Cattelan
lançamento: 1 de fevereiro de 2018
Itália

sábado, 19 de outubro de 2019

O Favorito perde no jogo político e ganha no amor





Há um adágio brasileiro que considera a política como as nuvens, mudando constantemente em função do vento e do tempo, o que se aplica ao caso de Gary Hart, interpretado por  Hugh Jackman, em O Favorito (The Front Runner). O filme é  um drama biográfico sobre um carismático político do Colorado, por onde foi senador por dez anos e se torna o grande candidato do partido Democrata, liderando com folga  a disputa das eleições presidenciais de 1988.
O filme dirigido por Jason Reitman, de Obrigado por fumar, Juno, Tully e Amor em escalas, que assina o roteiro juntamente com Matt Bai e Jay Carson, conta a história real do mais jovem candidato, que aos 46 anos tenta chegar  à presidência dos Estados Unidos.  
A maré começa a mudar quando eclode o escândalo de seu envolvimento com uma jovem modelo, o que põe em risco não apenas a sua candidatura, mas o destino de todos ao seu redor, inclusive a mulher  Lee Hart (Vera Farmiga) e a  filha Andrea (Keitlyn Dever) .
Ao ser questionado por jornalistas, Hart sugere: “é só me seguir, fiquem na minha cola, vocês ficarão entediados”. Os repórteres aceitam o desafio, o seguem, e descobrem o seu relacionamento com uma jovem modelo Kansas, Donna Rice (Sara Pakston). A princípio, ele admite que ela não faz parte da sua campanha.
Mas a investigação jornalística não cessa, e numa entrevista sobre sucessão presidencial, ao invés de tentar focar o  debate sobre economia, política externa e outros temas recorrentes a uma candidatura presidencial, os jornalistas optaram por indagar se ele  fez sexo com ela ou se vai manter a sua candidatura à presidência?
Hart, ao perceber o clima hostil de uma imprensa  que reflete  as ideias de uma sociedade conservadora como a americana, telefona para a mulher informando sobre uma reportagem sobre o seu relacionamento  com uma mulher na casa de do casal, em Washington. A mulher o lembra de que havia pedido ao senador é que não a envergonhasse.
Procurada por jornalistas, Donna Rice, informou que pretendia trabalhar na campanha e simpatizava com as ideias do candidato. Gary Hart contra ataca à denúncias defendo sua privacidade. Mas os rumores se aquecem com o aparecimento de um envelope amarelo com mais fotos comprometedoras do candidato com outras mulheres, evidenciando que ele seria um mulherengo incorrigível e mentiroso contumaz
Ele ainda viaja pelo interior e tenta traçar estratégias para reassumir o comando  do discurso daquela campanha inicialmente fácil e vitoriosa, mas que, acaba sucumbido diante de uma avalanche de denúncias. Para assessores, Hart compara metaforicamente os jornalistas com os caçadores e aos candidatos como a caça, lembrando: “eu envergo, mas não quebro. Cometi alguns  erros, mas sou um idealista que sonha e quer servir ao povo”. Como azar no jogo pode  dar sorte no amor, ele continuou casado com Lee Hart pelo menos até o final das filmagens de O Favorito, que traz lições sobre marketing político e erros que não se pode conviver numa campanha qualquer.(Kleber Torres)



Ficha Técnica

Titulo: O Favorito (The Front Runner)
Direção : Jason Reitman
Roteiro: Jason Reitman, Matt Bai e Jay Carson
Elenco : Hugh Jackman, Vera Farmiga, J.K.Simmons,  Alfred Molina, Kaitlyn Dever, Ari Graynor, Molly Ephraim e Sara Paxton
Música: Rob Simonsen
Gênero : Drama, Biografia