O velho
Karl Marx considerava que a história
se repete, a primeira vez como tragédia e na
segunda, como farsa. Mas o filme Estou
de Volta (Sono Tornato), uma produção italiana de 2018, dirigida por Luca
Miniero, nocauteia esta tese e mostra concretamente, que ela pode se repetir como comédia até de
humor negro, como a da ideia de ressurreição do fascismo que ainda tem os seus
adoradores e viúvas.
Tudo começa após 70 anos da morte de Benito Amilcare
Andrea Mussolini, interpretado por Massimo
Popolizio, que ressurge em Roma, depois
de passar através de um portal que
interligava magicamente o mundo dos vivos e dos mortos. O Duce, que se
considerava o aeronauta do pensamento –os filósofos que se cuidem -, fica confuso
e horrorizado ao ver a decadência do país que governou e se propõe a viajar
pela Itália de hoje, onde nada funciona, nem mesmo os correios e nem os
hospitais.
Mussolini
também critica a miscigenação racial, a migração dos africanos e de gente de
outros países europeus, o que o faz acreditar na necessidade de uma revolução e
para isto, propõe como lema para as
mudanças: “vamos salvar a Itália juntos’. Também questiona os valores
democráticos por considerar que o voto
não tem nenhuma utilidade se o
eleitor não sabe o que fazem de concreto os políticos eleitos.
Um
repórter acredita que o misterioso personagem é um sósia do ex-ditador fascista
e mesmo assim, o ajuda a começar na televisão como um comediante, que fazia
questão de afirmar que era o verdadeiro Mussolini e que suas práticas e
propostas continuavam iguais às do tempo
do fascismo.
A
produtora Katia Bellini (Stefania Rocca) se entusiasma e pensa num show para
este novo ator, o Mussolini Show e cria até uma conta de e-mail para o novo
astro, que ganha pontos crescentes de audiência. Teatral, Mussolini faz caras e
bocas na telinha, onde impõe silêncio e pausas planejadas, lembrando que:
“todos vocês têm medo do silêncio. Se um rato entra em sua casa, você não chama
um humorista, mas um dedetizador. Quando falo isto, vocês querem rir, por isso
que em 1940 nós só produzíamos comédias. Depois de 70 anos, eu volto aqui e
descubro que vocês continuam um povo analfabeto, conversando nas redes de sociais.
Você estão sós, invejosos e cheios de rancor.”
Mussolini
faz duras criticas à sociedade de consumo,
considerando que, “estamos perdendo a
batalha antes de começarmos a luta contra a pobreza entre jovens e idosos. Nós
precisamos mais do que o whatsapp para nos dizer que estamos afundando .” O
programa faz sucesso e consegue 33 pontos de audiência, alcançando 60% entre os
jovens, o que leva Mussolini a todos os programas da emissora.
Dizendo
que encontrou a Itália transformada numa Rodésia Setentrional, num Congo ou
numa Nigéria, ele fala entre os planos para o futuro e defende a construção de
um império: “voltei para ajustar o tiro! Pou!!!”. A tarefa para ele, é
reconquistar a Itália e a memória nacional, desafiando os radicais de direita
condescendentes com os guetos: “os políticos de direita têm medo de ser
chamados direitistas e os de esquerda, de dizer coisas verdadeiras”, complementou.
Na sua metralhadora
giratória, Mussolini se recusou até a falar do globalizado futebol italiano,
onde os dirigentes são de Pequim, a bola indiana e os jogadores africanos. Quanto
à política, ele sugere aos governantes que primeiro escutem os desejos do povo
e depois façam obras e ações que atendam às suas expectativas.
A
popularidade do fascista ressuscitado começa a ser questionada quando ele é mostrado matando um cão a tiros em um vídeo. Mussolini se defende
dizendo que atirou, porque foi atacado e mordido pelo animal, mas não escapa uma
agressão de defensores mascarados dos
animais. Outro golpe fatal na desconstrução deste personagem, foi Ariella
Reggio (Nonna Lea), uma idosa com lapsos de memória, mas que reconheceu
como o ditador assassino, que provocou a morte de seus pais, expulsando-o de sua
casa.
Tudo termina
quando o Duce, depois de um atentado, acaba reabilitado pelos italianos após ser perdoado pela dona do cachorro que
matou, o que abre a porta para que avance com o seu carisma pelos caminhos, nem
sempre retilíneos e para uma indefectível escalada ao poder, que às vezes corrompe
absolutamente e por nos levar
a muitos descaminhos. (Kleber Torres)
Ficha técnica
Título : Estou de volta (Sono tornato)
Direção: Luca Miniero
Roteiro: Luca Miniero e Nicola
Guaglianone
Elenco: Massimo Popolizio , Ariella
Reggio, Gioele Dix (Daniele Leonardi), Guglielmo Favilla (diretor de TV), Luca Avagliano (Gianni), Massimo De Lorenzo (Giorgio), Stefania Rocca (Katia Bellini), Frank
Matano, Elenora Belcamino e Alessandro Cattelan
lançamento: 1 de
fevereiro de 2018
Itália
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