O documentário Spielberg, dirigido por Susan Lacy a
partir de um minucioso trabalho de pesquisa e exibido pela HBO, reúne diversas entrevistas e depoimentos interessantes com artistas, diretores e pessoas
ligadas ao mundo do cinema, mas também nos leva ao longo de 147 minutos a uma
ampla reflexão sobre os filmes e a obra do cineasta mais expressivo do cinema
mundial, que também investe na produção de filmes de outros autores e em
projetos diversificados que movimentam bilhões de dólares.
O próprio Steven Spielberg considerou “uma experiência
muito interessante ser o assunto de um filme, quando eu passei minha carreira
inteira buscando assuntos para meus filmes. E estar repentinamente no centro
das atenções para mim foi intimidador e assustador”, Ele não só venceu este desafio, como também
falou em uma série de 17 entrevistas com a diretora sobre a sua insegurança e
preocupação quase perfeccionista com cada cena que dirige e com o uso de um
jogo de câmeras em cenas de impacto.
O cineasta admitiu em um dos seus depoimentos no filme
sobre o terrível momento em que o diretor chega no set de filmagens e não sabe o que vai fazer, mas também não pode
revelar a ninguém sobre esta fragilidade, “senão não conseguir ter o respeito de ninguém”, concluiu.
O cinema e as imagens sempre estiveram na vida do
cineasta desde a juventude quando produzia filmes caseiros e de ficção no
Arizona, com cenas até de combates aéreos. Ele conta que ainda adolescente
assistiu diversas vezes Lawrence da Arábia, um épico dirigido por David Lean,
em 1962 e que quase o levou a desistir do sonho e da carreira como cineasta em
função da técnica primorosa do diretor.
Spielberg faz referências especiais a uma sequência
da película como as imagens primorosas em que Peter Toole usando roupas brancas
no deserto se vê numa faca utilizada como espelho, o que se contrapõe à cena em
que ele aparece depois de uma luta com a mesma faca e as vestes manchadas de
sangue
Com diversas entrevistas de diretores que integram o seu circulo de amigos e
parceiros, a exemplo de Martin Scorsese, Brian de Palma, Francis Ford Coppola e
George Lucas, que acompanharam a sua trajetória e com quem troca informações e
experiências, o filme inclui ainda depoimentos com atores que dirigiu entre os
quais Daniel Craig, Laura Dern, Leonardo de Caprio, Harrison Ford, Tom Hanks,
Dustin Hofmann, Liam Neeson e Richard Dreyfus que falaram sobre os filmes e do
estilo do diretor, que produz filmes comerciais, mas imprime um toque pessoal e
que leva o público a refletir sobre questões políticas, raciais e éticas.
“Eu não gasto muito tempo em qualquer tipo de
autoanálise. De certa maneira, eu deixo meus filmes fazerem isso. E deixo vocês
me entenderem por meio deles. Eu só gasto muito tempo buscando boas histórias e
as conto”, declarou Spielberg, para quem seus filmes são uma terapia e incluem
fatos ou passagens que marcaram a sua vida e a sua infância.
O cineasta falou de um dos seus primeiros filmes,
Duel (Encurralado), de 1971, filmado em 13 dias e que se passa em estradas quase deserta, mostrando
um duelo anônimo e mortal um caminhoneiro
que usa o veículo para perseguir a um vendedor de produtos eletrônicos. O
filme ele definiu como a sua vida no tempo da escola, termina com a morte do
caminhão agonizante como uma pessoa e sem a esperada explosão sugerida pela produtora.
Ele também fez filmes como
Louca escapada, que o consagrou em 1974 e o convite para dirigir Tubarão, produzido
quatro anos depois e que conquistou três Óscares. O filme sofreu vários atrasos
em função das filmagens no mar, que são lenta e defeitos no tubarão mecânico, o
que levou muitas cenas a apenas sugerir a presença do predador simbolizado num
tema musical ameaçador e minimalista criado pelo compositor John William.
Tubarão também não tinha roteiro acabado e as sequências
eram escritas 12 horas antes da filmagem, um verdadiero pesadelo para o diretor
que não sabia se iria concluir as fimagens em função das dificuldades técnicas
e operacionais que elevaram o custo do filme para mais de US$ 9 bilhões.
Em Tubarão, Spielberg descobriu um recurso
que utilizaria em outros filmes de sua autoria, porque o que não se vê é mais assustador
do que o que é visto. Ele também muito jovem começou a frequentar os estúdios de
cinema e aos 20 anos, dirigiu Joan Crawford numa série televisiva de sucesso
Galeria do terror (Night Galery), que o levou para a direção de
filmes.
O documentário centrado no trabalho e na obra do diretor, mostra a
relação do cineasta com os pais, o impacto pessoal da sua separação na vida do
filho e o relacionamento com as irmãs. A
mulher e os filhos de Spielberg, aparecem referencialmente e as imagens mostram
obras do cineasta e comentários de filmes como Contatos Imediatos (1977), que
foi influenciado por 2001 – Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, Império do
Sol (1987), ET – O extraterrestre (1992), Prenda-me se for capaz (2002) e
outras obras do cineasta como o Resgate do Soldado Ryan (1998) e a Lista de Schindler(1993), sobre a questão
judaica e o holocausto.(Kleber Torres)
Ficha Técnica
Título : Spielberg
Direção : Susan
Lacy
Elenco : Martin
Scorsese, Brian de Palma, Francis Ford Coppola, George Lucas, Daniel Craig, Laura Dern,
Leonardo de Caprio, Harrison Ford, Tom Hanks, Dustin Hofmann, Liam Neeson e
Richard Dreyfus
Gênero :
Documentário
HBO
147 minutos.
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