domingo, 5 de julho de 2020

A magia e encantamento dos filmes de um cineasta versátil e criativo

 

 

O documentário Spielberg, dirigido por Susan Lacy a partir de um minucioso trabalho de pesquisa e exibido pela HBO,  reúne diversas entrevistas e depoimentos  interessantes com artistas, diretores e pessoas ligadas ao mundo do cinema, mas também nos leva ao longo de 147 minutos a uma ampla reflexão sobre os filmes e a obra do cineasta mais expressivo do cinema mundial, que também investe na produção de filmes de outros autores e em projetos diversificados que movimentam bilhões de dólares.

 

O próprio Steven Spielberg considerou “uma experiência muito interessante ser o assunto de um filme, quando eu passei minha carreira inteira buscando assuntos para meus filmes. E estar repentinamente no centro das atenções  para mim foi intimidador e assustador”,  Ele não só venceu este desafio, como também falou em uma série de 17 entrevistas com a diretora sobre a sua insegurança e preocupação quase perfeccionista com cada cena que dirige e com o uso de um jogo de câmeras em cenas de impacto.

 

O cineasta admitiu em um dos seus depoimentos no filme sobre o terrível momento em que o diretor chega no set de filmagens  e não sabe o que vai fazer, mas também não pode revelar a ninguém sobre esta fragilidade, “senão não conseguir  ter o respeito de ninguém”, concluiu.

 

O cinema e as imagens sempre estiveram na vida do cineasta desde a juventude quando produzia filmes caseiros e de ficção no Arizona, com cenas até de combates aéreos. Ele conta que ainda adolescente assistiu diversas vezes Lawrence da Arábia, um épico dirigido por David Lean, em 1962 e que quase o levou a desistir do sonho e da carreira como cineasta em função da técnica primorosa do diretor.

 

Spielberg faz referências especiais a uma sequência da película como as imagens primorosas em que Peter Toole usando roupas brancas no deserto se vê numa faca utilizada como espelho, o que se contrapõe à cena em que ele aparece depois de uma luta com a mesma faca e as vestes manchadas de sangue

 

Com diversas entrevistas de diretores  que integram o seu circulo de amigos e parceiros, a exemplo de Martin Scorsese, Brian de Palma, Francis Ford Coppola e George Lucas, que acompanharam a sua trajetória e com quem troca informações e experiências, o filme inclui ainda depoimentos com atores que dirigiu entre os quais Daniel Craig, Laura Dern, Leonardo de Caprio, Harrison Ford, Tom Hanks, Dustin Hofmann, Liam Neeson e Richard Dreyfus que falaram sobre os filmes e do estilo do diretor, que produz filmes comerciais, mas imprime um toque pessoal e que leva o público a refletir sobre questões políticas, raciais e éticas.

 

 

“Eu não gasto muito tempo em qualquer tipo de autoanálise. De certa maneira, eu deixo meus filmes fazerem isso. E deixo vocês me entenderem por meio deles. Eu só gasto muito tempo buscando boas histórias e as conto”, declarou Spielberg, para quem seus filmes são uma terapia e incluem fatos ou passagens que marcaram a sua vida e a sua infância.

 

O cineasta falou de um dos seus primeiros filmes, Duel (Encurralado), de 1971, filmado em 13 dias e que  se passa em estradas quase deserta, mostrando um duelo anônimo e mortal  um caminhoneiro que usa o veículo para perseguir a um  vendedor de produtos eletrônicos. O filme ele definiu como a sua vida no tempo da escola, termina com a morte do caminhão agonizante como uma pessoa e sem a esperada explosão sugerida pela produtora.

 

Ele também fez filmes como Louca escapada, que o consagrou em 1974 e o convite para dirigir Tubarão, produzido quatro anos depois e que conquistou três Óscares. O filme sofreu vários atrasos em função das filmagens no mar, que são lenta e defeitos no tubarão mecânico,  o que levou muitas cenas a apenas sugerir a presença do predador simbolizado num tema musical ameaçador e minimalista criado pelo compositor John William.

 

Tubarão  também não tinha roteiro acabado e as sequências eram escritas 12 horas antes da filmagem, um verdadiero pesadelo para o diretor que não sabia se iria concluir as fimagens em função das dificuldades técnicas e operacionais que elevaram o custo do filme para mais de US$ 9 bilhões.

 

Em Tubarão, Spielberg descobriu um recurso que utilizaria em outros filmes de sua autoria, porque o que não se vê é mais assustador do que o que é visto. Ele também muito jovem começou a frequentar os estúdios de cinema e aos 20 anos, dirigiu Joan Crawford numa série televisiva de sucesso Galeria do terror (Night Galery), que o levou para a direção de filmes.

 

 O documentário centrado  no trabalho e na obra do diretor, mostra a relação do cineasta com os pais, o impacto pessoal da sua separação na vida do filho  e o relacionamento com as irmãs. A mulher e os filhos de Spielberg, aparecem referencialmente e as imagens mostram obras do cineasta e comentários de filmes como Contatos Imediatos (1977), que foi influenciado por 2001 – Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, Império do Sol (1987), ET – O extraterrestre (1992), Prenda-me se for capaz (2002) e outras obras do cineasta como o Resgate do Soldado Ryan (1998)  e a Lista de Schindler(1993), sobre a questão judaica e o holocausto.(Kleber Torres)

 

 

 Ficha Técnica

Título : Spielberg

Direção : Susan Lacy

Elenco : Martin Scorsese, Brian de Palma, Francis Ford Coppola,  George Lucas, Daniel Craig, Laura Dern, Leonardo de Caprio, Harrison Ford, Tom Hanks, Dustin Hofmann, Liam Neeson e Richard Dreyfus

Gênero : Documentário

HBO

147 minutos.


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