sábado, 9 de janeiro de 2021

O outra morte matada de João Heleno dos Britos



 40 anos depois de morte de John Lennon,  um dos integrantes dos Beatles, num atentado ocorrido no edifício Dakota, em 8 de dezembro de 1980, na cidade de Nova York, a tragédia ganha uma releitura tupiniquim com o curta metragem João Heleno dos Britos, como uma saga 100% nordestina, underground e envolvendo uma narrativa criativa com um jeitinho bem brasileiro, voando por 20 minutos nas asas agrestes  da ficção.

O  João  Heleno do faroeste sertanejo  começa com uma disputa de poder entre os Britos e Arapuã. O filme inicia com um tiroteio no agreste, onde seu Brito jovem (Giovani Gomes)  enfrenta um grupo da família dos Arapuã, num confronto mortal. Quase sem munição e  apenas com  uma bala no revólver,  ele dá o tiro derradeiro e a bala se choca  com o projetil de um pistoleiro rival provocando um verdadeiro panavuê.

As balas  explodem e, num milagre só possível no sertão e no mundo encantado da invenção, os  fragmentos se dispersam, matam logos dois pistoleiros,  explodem  um urubu azarado, que voava em local e hora errados, e liquida  aos demais jagunços encerrando a primeira parte de uma história manchada de sangue, se transformando numa lenda contada de boca a boca, como uma história do c* ou como uma robusta colhuda.  

Doente e enfraquecido, o patriarca da família dos Britos (Sóstenes Lennon Fonseca),   chama os dois últimos herdeiros, inclusive  a João Heleno dos Britos, recomendando para  que vocês “não deixem, um condenado daqueles (os Arapuãs)  encostarem um dedo e nem pensar uma cruzeta contra os Britos”, exalando seu último suspiro.

Com a  morte do velho Brito, começa uma série de confrontos que se transformam num rio de sangue, o qual esguicha em abundância dos feridos até a morte. Neste ínterim e no meio da disputa mortal,  João  Heleno dos Brito conhece e se apaixona  por uma  japonesa Ono Yoka (Harumi Harada), cujo nome se parece com o de Yoko Ono a verdadeira mulher do Beatle morto na vida real.

Apaixonados, os dois acabam se casando, tendo filhos e João Heleno  dispensa os jagunços a seu serviço e propõe o fim da disputa  entre as famílias rivais. A decisão repercute nos jornais da terra que trazem nas manchetes de primeira página informações sobre 10 anos sem uma morte em Caruaru e mostrando uma cidade vivendo em paz.

A suspensão do acordo  termina de forma abrupta, quando o locutor de uma emissora local volta do lanche comendo o sanduiche e ao invés de ler e comentar as manchetes dos jornais locais, anuncia num furo de reportagem e,  como na história do ídolo  do rock John Lennon, ele informa que o João Heleno dos Brito, foi  morto a tiros de revólver 38, por um pistoleiro. A notícia repercute e uma mulher comenta: “tira os meninos da rua, que mataram João Heleno dos Brito” e num átimo as ruas se esvaziam, com gente correndo para suas casas.

No fim, tudo acaba bem, num campo verdejante com pessoas ouvindo músicas de cítara e instrumentos de percussão indianos e o João Heleno beatificado num outro plano astral. Afinal o que é realidade e o que não é quando se fala do sertão e de coisas como a chegada de Lampião no céu ou no inferno, mas isto o leitor é que escolhe.(Kleber Torres)

 

Ficha Técnica :

Título :João  Heleno dos Britos

Duireção e Roteiro : Neco Tabosa

Elenco : Tagore  Suassuna, Harumi Harada, Daniel Araújo, Giovanni Gomes e Sóstenes Lennon Fonseca

Cinematogafista : Roberto Yuri

Brasil

20 minutos

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