domingo, 9 de abril de 2023
A ascensão e queda de um 'tycoon' do automobilismo
O documentário John DeLorean: Visionário ou Vigarista? (2019), de Don Argott e Sheena M. Joyce, conta a história do executivo, empresário, inventor e engenheiro automobilístico, o tycoon John Zachary DeLorean (Alec Baldwin), fundador da DeLorean Motor Company (DMC), com passagens na Chrysler, Packard e General Motor, onde desenvolveu o projeto do Pontiac GTO e que teve uma carreira meteórica, mas, se tivesse feito tudo certo e não comprasse brigas com outros dirigentes teria chegado à presidência da empresa. O documentário revela as múltiplas facetas do homem considerado por muitos um visionário que revolucionou a indústria automobilística e, por outros, um grande vigarista que desviou US$ 17 milhões de investidores da sua empresa a DMC e chegou a ser preso o processado pelo envolvimento na compra de 90 quilos de cocaína, numa trama que envolveu um traficante, um falso banqueiro, informantes e agentes do FBI.
O filme revela sua ascensão e queda de um executivo de sucesso em meio ao envolvimento em escândalos, drogas, dinheiro, sexo e jogos de poder. A obra reúne imagens de filmes, reportagens, projetos, além de depoimentos de amigos, técnicos do setor automotivo, advogados, policiais, amigos e filhos de DeLorean, que morreu aos 80 anos, em 19 de março de 2005, casado com Sally Baldwin.
Aos 40 anos, como uma estrela em ascensão no jet set do automobilismo mundial, ele emergia como um executivo criativo e empenhado em resultados. O executivo também era vaidoso, fez cirurgias plásticas, praticava musculação e levantamento de peso, andava de colarinho aberto e sem gravata. Em paralelo, separa-se da sua primeira mulher, Elizabt Higgins, para casar-se com uma modelo de apenas 19 anos Cristina Ferrari (Morena Baccarin).
Como executivo, ele também percebeu tendências no mercado com os concorrentes importando carros menores e com maior eficiência energética, ou seja, menor consumo de combustível. Mas na GM ele criou uma série de arestas, tendo um discurso vazado para a imprensa de forma proposital com critica a outros executivos e à qualidade dos produtos da empresa, o que desagradou aos superiores hierárquicos.
A demissão inevitável ocorreu em 1975 e ele fundou a DMC, com uma ideia na cabeça: fabricar um veículo esportivo contemporâneo, exótico, de aço inoxidável e vendido em massa numa escala global, uma espécie de carro dos sonhos, com design avançado inclusive na abertura de portas e um alto padrão de qualidade.
Para a construção do DMC 12, ele contratou Bill Collins (Josh Charles), a quem considerava o melhor engenheiro automotivo e decidiu implantar a fábrica em Belfast, na Irlanda, que enfrentava conflitos constantes entre católicos e protestantes, com uma taxa de desemprego de mais de 40%. O projeto levava em conta incentivos fiscais oferecidos pelo governo inglês, além de recursos captados dos acionistas. Em dois anos, além da implantação da unidade industrial, a empresa começou a produzir chegando a fabricar mais de 35 mil carros.
As dificuldades começaram a se acumular nos início dos anos 80, quando os carros apresentavam problemas técnicos que provocaram seu encalhe nas distribuidoras e nos estacionamentos dos portos, porque as portas não fechavam direito, além de problemas na lataria e mesmo em termos de desempenho. Os problemas da economia mundial também se refletiam no desempenho da empresa, que também foi afetada com a posse de Margareth Thatcher, que ao contrario dos seus antecessores trabalhistas era mais rígida na concessão de subsídios e cortou US$ 75 milhões de incentivos fiscais pleiteados pela DMC.
Em seu depoimento o filho do empresário, Zachary DeLorean, que hoje vive num apartamento pequeno e modesto, fala sobre a sua relação de amor e de ódio em relação com o carro que foi a causa dos problemas econômicos e desestruturação da família. Já a ex-mulher, Cristina Ferrari, que se separou dele após o processo por tráfico de drogas e que revelou ter visto o empresário falsificar documentos para o desvio dos recursos da empresa e que poderia assegurar o seu capital de giro no momento de crise, considerava no tempo das vagas gordas, que havia se casado com um príncipe encantado como declarou numa entrevista a uma emissora de televisão.
A filha Kathryn também falou das lembranças da infância e da relação do carro com a história da família. Ela chegou a montar um painel cronológico com fotos e manchetes da ascensão e da queda do pai com a DMC.
A vida da família mudou de ponta a cabeça em 19 de outubro de 1982, quando um telefonema recebido pelo Cristina Ferrari dava conta da prisão de John De Lorean, num hotel em Los Angeles, através de um flagrante armado pelo informante do FBI James Hoffman (Michael Ripoli), que o acusava de envolvimento com o traficante William Hetrick, num negócio envolvendo 90 quilos de cocaína. A trama teve ainda a participação do Banco Eureka e DeLorean passou dez dias preso, mas acabou sendo julgado como inocente em 1984. A sua imagem ficou arranhada em função do incidente com o tráfico de drogas e pela falência da empresa DMC.
Da prisão também reverberou na mídia o comentário gravado pelos agentes do FBI no momento da comemoração da transação de venda da cocaína para o empresário, quando DeLorean comentou: “é melhor do que ouro, e pesa mais que isso.” No dia do julgamento, quatro anos depois, ele se mostrou preocupado com a cor da gravata para aparecer nas revistas que o fotografassem e declarou a um jornalista que o questionou sobre a expectativa do julgamento: “Está tudo nas mãos de deus!”
Mas o inferno astral não acabou aí. Antes de deixar a empresa DMC, o projetista Bill Collins já havia alertado John DeLorean sobre despesas em duplicidade com o projeto do veículo ainda na pracheta, assunto que ele desconversou.
Em 1982, o DMC saiu de linha, mas entrou para a história do automobilismo através da triologia De Volta para o Futuro (Back to the Future) e DeLorean enviou uma carta ao produtor Bob Gale agradecendo o uso do seu carro no filme. Ele também foi acusado pelo desvio de recursos da ordem de US$ 17 milhões para uma empresa fantasma criada por ele e um sócio ligado à Formula I. No julgamento do caso das drogas, DeLorean se disse vitima do sistema e de uma drama desmascarada pelos seus advogados. Já no caso do desvio do dinheiro dos acionistas da DMC, ele juntou uma série da provas sobre empréstimos irregulares e que esmagou os sonhos de investidores que aplicaram de boa fé seus recursos no empreendimento.
Em sínteses, o documentário revela as múltiplas facetas de um a executivo polêmico, que foi bom pai, durante a infância e adolescência dos filhos, mas que acima do bem e do mal machucou pessoas, roubou e legou uma história de vida, bem como o projeto de um carro avançado para o seu tempo, que era único e com um design futurista. Ele viveu modestamente os seus últimos anos de vida morando num apartamento de um quarto e com sonhos de fazer uma DMC 2, mas os planos do novo carro e nem da recuperação da indústria não se concretizaram. (Kleber Torres)
Ficha técnica
Título : Framing John DeLorean / John DeLorean : visionário ou vigarista
Diretor : Don Argott / Sheena M. Joyce
Roteiro : Dan Greeney / Alexandra Orlon
Elenco : Alec Balwin, Morena Baccarin, Josh Charles, Dean Winters, Michael Ripoli, Jason Jones, Dana Ashbrook e Joe Cooke
Fotografia : Don Argott e Matthew Santo
Montagem : Demian Fenton
Música : Brooke e William Blair
Gênero : documentário
Colorido
2019
109 minutos
Estados Unidos
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