domingo, 16 de abril de 2023
Cry Macho não tem choro, mas uma reflexão sobre a vida, a velhice e o mundo dos cowboys
Decididamente Cry Macho: o caminho da redenção (2021) não é o melhor filme de Clint Eastwood – ganhador de quatro Oscars e autor de filmes antológicos como Imperdoáveis, Menina de Ouro, Sobre Meninos e Lobos, Cartas de Iwo Jima e J.Edgard (Hoover), mas é sem duvida o mais humano, dirigido com competência por um homem aos 91 anos e que também é o personagem central da trama, o cowboy Mike Millo (Clint Eastwood). Certa vez, dialogando com um amigo, ele confessou que o segredo da sua vitalidade era não deixar o velho entrar no seu dia a dia, o que é um exemplo para todos nós.
O filme revela a história de um cowboy decadente, ganhador de cinco prêmios nacionais em rodeios, que é envelhece e é também vítima de circunstâncias adversas da própria via como um acidente que matou a mulher e o filho, acelerando a própria decadência agravada pela bebida e até mesmo pelo vício em drogas. Em Cry Macho, o cowboy que tem como missão resgatar um adolescente rebelde Rafo (Eduardo Mineti), que vive em companhia de uma mãe alcoólatra no México a pedido do seu pai Howard Polk(Dwigth Yoakam), um rancheiro texano, que vive nos Estados Unidos, iniciando uma série de incidentes e perseguições.
Tudo começa quando Howard Polk demite o cowboy campeão e que cuidava dos seus cavalos, dizendo que ele estava velho e atrasado para esvaziar a sua sala. Como resposta, Mike Milo responde: “eu sempre achei você um homem fraco, pequeno e covarde, mas sabe não vou não vou querer ser grosseiro você”. Um ano depois, esse mesmo patrão o procura em sua casa e pede para que ele resgate seus filho que está com a mãe no México. Mas não revela que por trás da disputa, também estão os bens do casal, que ficaram em parte em poder da ex-mulher.
O cowboy vai até a casa de Leta (Fernanda Urrejola) e ela lhe conta que a sua missão é quase impossível. O primeiro enviado está mofando na cadeia e o segundo, simplesmente foi embora e desistiu da missão. A mulher recomenda a Mike que o melhor a fazer seria partir e esquecer, até porque o filho de uma família disfuncional como o seu “é um animal que vive na sarjeta, participando de brigas de galo.” Com esta informação o cowboy procura e acaba encontrando o adolescente numa rinha esvaziada depois de uma blitz da polícia no local.
Mike explica a Rafo que foi mandado pelo pai para levá-lo para os Estados Unidos, onde o mesmo tem um rancho no Texas. O menino tem um galo, o Cry Macho, que dá nome ao filme sem nenhuma metáfora e o acompanha por todos os lugares, sendo em paralelo um personagem não humano importante na história, atacando pessoas que tentam qualquer coisa contra o jovem e participando das sequências de tensão e violência.
Já a mãe, ao ser informada por Mike de que havia encontrado o adolescente para levá-lo aos Estados Unidos, ameaça chamar os federais denunciando que o filho foi sequestrado e lhe deu um prazo de cinco minutos para que o cowboy deixasse o filho e país, o que deflagraria uma série de perseguições e fugas da dupla, que acaba se escondendo por um período no interior do México até chegar à fronteira americana.
O filme faz referências ao mito do cowboy, conhecido pela coragem, lealdade, companheirismo, capacidade de luta, autossuficiência, resiliência, gentileza com as mulheres e até mesmo no trato humanizado para com os animais. Há também embutida na história uma crítica explicita ao machismo e à misoginia. Outra referência é quando o adolescente pede para usar o chapéu do vaqueiro e ele não o oferece alegando que ele ainda não era um cowboy.
Numa discussão banal entre os dois, Rafo alerta que “você fica muito irado e isso não é bom para uma pessoa de sua idade”. Num bar, o menino pede uma tequila e é impedido de beber pelo cowboy, mas quando os dois saem um homem tenta sequestrar o garoto no estacionamento, mas é impedido por uma intervenção do cowboy e do galo, mas quando um grupo de mexicanos vem em socorro do agressor, o menino revela ao grupo que ele é que estava sendo sequestrado.
Os dois fogem e novamente são perseguidos por federais e depois têm até a pick-up roubada por ladrões, acabando numa pequena cidade mexicana onde conseguem um outro veículo e daí chegando no restaurante de Marta numa vila distante, que os atendeu e fechou o estabelecimento ao estranhar a presença dos federais na localidade e que estavam na captura dos dois fugitivos.
Ele não só remunera Marta pelas refeições, como faz comida em sua casa, lembrando que “eu vim aqui para trazer coisas e não tirar a comida de ninguém”. Enquanto está na pequena cidade, ele ensina a Rafo a ser cowboy, a domar e montar cavalos selvagens. Também é procurado pelos moradores da comunidade para tratar de porcos, patos, gatos e cachorros. No caso do animal da mulher do subdelegado que o procurou, ele contou: ”trato dos animais, mas não sei como curar a velhice, mas o que seu animal precisa é repouso e ele pode dormir no pé da cama de vocês”.
Mike conta para Rafo que a sua mulher morreu em um acidente e que daí, ele surtou, bebeu demais, ficou sem rumo na vida e o seu pai o salvou lhe dando um trabalho e devolvendo a sua vida e “você é minha retribuição”. Como num filme de ação, os dois são perseguidos também por policiais corruptos, em busca de drogas no carro em que viajavam e há um relacionamento afetiva entre Mike e Marta.
Para Rafo, que critica Mike Milo pela idade em diversas partes do filme, ele já foi bom, diz referindo-se à velhice do personagem, mas “agora é fraco, não é nada”, ao que o cowboy responde: “eu costumava ser muita coisa, e agora, não sou. Esta coisa de macho é relativa.“ Cry Macho é uma reflexão profunda de um cineasta experiente a partir de um romance de N.Richard Nash. Também nos deixa um ensinamento afinal, todos têm de fazer uma escolha na vida e isso implica até a opção de redescobrir o amor na velhice que parece precedente à morte. (Kleber Torres)
Ficha técnica :
Título : Cry Macho / Cry Macho: o caminho da redenção
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Nick Schenk e N. Richard Nash
Elenco: Clint Eastwood, Eduardo Minett, Dwight Yoakam, Fernanda Urrejola e Natália Traven
Fotografia: Don Davis
Editor : Joel e David Cox
Gênero : Drama
Estados Unidos
104 minutos
2021
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