terça-feira, 19 de março de 2024

Uma experiência radical na busca da inguagem e da forma para uma outra dimensão do terror

Considerado um trabalho experimental inovador, o canadense “Skinamarink: Canção de Ninar”, dirigido e roteirizado por Kyle Edward Ball, tem toda a ação num ritmo vagaroso e apresenta uma estrutura narrativa fragmentada, com contornos impressionistas a partir das imagens difusas ou do contraste de sombras e luzes, o que aponta para a busca de uma nova linguagem e de uma nova forma para o filme de terror. O filme também é uma incursão no universo do suspense e da fantasia através de uma abordagem inovadora no gênero, mas que se tornou viral circulando através do Reddit, TikTok e do YouTube após ser exibido em festivais de cinema na segunda metade de 2022, ano do seu lançamento no mercado global. A narrativa envolve dois irmãos, Kaylee (Dale Rose Tetreaut), de seis anos, e Kevin (Lucas Paul), de quatro, que acordam numa manhã de 1995 e descobrem que os pais simplesmente sumiram. Em paralelo, como complicador, todas as portas e janelas de casa – um prédio com dois andares e um porão - desapareceram. No meio de imagens difusas, como num fime amador, uma das crianças pergunta a um amigo invisível se ele está se escondendo e conta lentamente até três. Sem imagens de personagens, como ocorre em quase todo o fime, emerge a voz do pai (Ross Paul) narrando no telefone um suposto acidente domestico, dizendo que o filho caiu e bateu a cabeça. Já a criança chama várias vezes pelo pai, mas sem resposta. A televisão é ligada e começa a exibir antigas fitas de vídeo com desenhos animados, em paralelo fatos estranhos começam a ocorrer no interior do imóvel. Uma das crianças diz que não consegue dormir com as luzes acesas. Em seguida Kaylee chama Kevin e pergunta se não está na hora de levantar. Os dois começam a procurar pelos pais e uma voz feminina explica que ele pode ter saído com a mamãe. Kaylee diz que não quer falar sobre a mãe. Ao mesmo tempo coisas misteriosas começam a ocorrer com desaparecimento de objetos diversos no interior do imóvel, como por exemplo o vaso sanitário. No andar superior luzes acendem e apagam, enquanto uma voz masculina diz à menina para que suba as escadas, ela obedece e não vê nada depois de orientada para olhar até debaixo da cama. Uma voz materna diz a Keylee e a Kevin, que ela e o pai o amam. Depois, a mesma mulher manda Kaylee fechar os ohos e em seguida manda a menina voltar para o andar inferior. Ela leva suco para o irmão, enquanto os objetos são movidos diante a televisão. A dúvida para o espectador é se existe alguém na casa ou se há uma força sobrenatural atuando e cuidando das crianças. O fato é que“Skinamarink” compartilha uma série de semelhanças com o cinema impressionista. Nele há o uso inovador de recursos visuais e sonoros para criar uma atmosfera de medo e desconforto, a partir do contraste de luzes e sombras, o que reforça a sua estrutrura experimental e inovadora complementada pela ausência visual dos personagens, como foco na participação de vozes difusas, deixando fluir a imaginação do espectador. Numa outra sequência, Kevin é chamado pela voz misteriosa a ir para o porão. E Kaylee, com medo, chama pelo irmão e diz que está se sentindo estranha. Emerge a imagem difusa de uma muher e o som de passos correndo pea casa, enquanto só brinquedos das crfianas são desarrumados, uma outra voz diz a Kevin para que durma. Nesse interim, os binquedos voltam para a sala e a voz do homem informa que ele quer brincar. Kevin chora e desperta ofegamte quando é acordado pela voz, que lhe diz que pode fazer quaquer coisa, demonstrando sua força e poder sobrenatural. A voz diz a Kaylee não o obedeceu e lhe disse que preferia ficar com o pai, por isso ele tapou a sua boca . Depois, o homem chama Kevin e promete protegê-lo. Num registro, 572 dias após o início do drama, os brinquedos se acumulam na parede e no teto, Kevin chama Keylee e pergunta se algo alegra ao misterioso personagem que o manda dormir, mas não responde quando perguntado pela criança qual o seu nome. Esse hiato tempo informado no fime pode oferecer várias explicações numa anáise para o espectador. A primeira seria a possibiidade de que Kevin havia entrado em coma após cair da escada num acidente doméstico. Nesse interim, o que se passa no fime e que o assustaram e à sua irmã seriam as experiências no subconsciente da criança durante o coma, quando as pessoas ouvem e têm em muitos casos consciência do que se passa no seu entorno. Outra visão implicita, seria a de que uma entidade sobrenatural estaria atuando na casa e poderia manipular o tempo e o espaço afetando vidas humanas e mudando inclusive a essência das coisas, muito além das leis da própria física. Assim, o período de tempo da narrativa representa o tempo que passou entre o desaparecimento do pai de Kevin e o momento em que ele vê a sua face difusa, ou seja, quando acorda do coma. O nome do filme “Skinamarink”, que não tem nem significado espeecífico e nem tradução para o português, pega como referência uma canção de ninar que se tornou muito popular no início do século XX nos Estados Unidos e que foi escrita para uma produção da Broadway, “The Echo”, apresentada em 1910. Na versão brasileira o título “Skinamarink: Canção de Ninar”, evoca uma canção de ninar que foi transformada num pesadelo que transita entre o real e o sobrenatural. Como obra experimental, se observa em “Skinamarink”a construção de uma história minimalista que associa os múltiplos contrastes entre a ausência de personagens, com sons do ambiente e imagens difusas entre luzes e sombras, o que nos remete a sequências nostálgicas e a filmes amadores. Tudo isso gera uma atmosfera instigante, que deixa os espectadores desorientados e desconectados sobre o próprio enredo da história com as suas multiplas alternativas, o que dificulta a compreensão da obra e deve alertar sobre os múltiplos caminhos da arte e da invenção ou não. (Kleber Torres) Ficha técnica: Título : Skinamarink / Skinamarink : Canção de Ninar Direção e roteiro : Kyle Edward Ball Elenco : Lucas Paul, Dali Rose Tetreault, Ross Paul e Jaime Hill Fotografia : Jamie Mcrae Origem : Canadá 2022

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