A vida, a velhice, a morte, o amor e a falta de
perspectiva diante da vida são os ingredientes de Morangos Silvestres, uma obra
prima de Ingmar Bergman, contando num único dia a história do professor de
medicina Isak Borg, interpretado por Victor Sjöström, que se dirige com sua
nora Marianne (Ingrid Thulin ) de
Estocolmo para Lund, onde receberá o grau honorário da Universidade por seus 50
anos de atividades profissionais.
Na viagem para o jubileu, ele relembra os principais
momentos de sua vida, temendo a morte inexorável que se aproxima e que o
acompanha em sonhos em que aparece vivo e morto ao mesmo tempo, mas relembrando
ao mesmo tempo a sua infância, juventude e a maturidade.
No caminho, ele conhece diversas pessoas, desde a jovem Sara (Bibi Andersson) e os seus
companheiros de viagem , Viktor e Anders – que discutem sobre os prazeres da
vida e brigam a socos e pontapés ao debater sobre a existência de Deus -, os
quais se dirigem para Itália. Ele também dá carona a um casal que faz lembrar Isak a sua própria
vida e casamento conturbados, a quem socorre após um acidente rodoviário.
Isak Borg faz também aos 78 anos uma retrospectiva da sua
vida e da família, como o filho médico que é casado e não tem filhos, bem como
da sua mulher Karim, já falecida e sua relação com a empregada Agda (Jullan
Kindahl) com quem divide a casa, a mesa, o afeto e o respeito. Nos seus sonhos,
que ganham corpo ao longo do filme em diversas sequências, ele se vê numa
caminhada de rotina, mas se perde nas ruas de uma cidade desconhecida ou que
não tem lembranças. Numa outra cena, ele vê um carro fúnebre quebrado e que
transporta um caixão no qual se vê no
interior, mas morto.
O médico também reflete sobre a vida e o conhecimento
adquirido, considerando que ao invés de lhe conceder o jubileu de professor, a
universidade devia concedê-lo o título de idiota. Ele também tem consciência de
que como pessoa, é considerado um velho
egoísta, frio, impassível, que não escuta a ninguém.
Na viagem ele passa
na casa onde viveu a infância e adolescência, recorda de uma prima por quem era apaixonado, que
casa com seu irmão Sigfried, e com quem colhia morangos silvestres, a quem diz
numa cena de flashback que envelheceu e mudou bastante. Ele também reencontra a
mãe, uma velha solitária e que vive reclusa, sem visitas de parentes e amigos, cercada
de pessoas interessadas na sua herança.
Isak também aparece num exame de qualificação imaginário
em que não vê nada no microscópio e nem sabe o que está escrito no quadro negro,
alegando que não é linguísta e admitindo que o dever do médico é pedir perdão,
mas alega que está velho e tem problemas cardíacos. No mesmo exame, ele
diagnostica a morte de uma paciente, que depois ri para ele, mas acaba sendo
considerado incompetente pelo examinador.
O filme faz uma anamnese
e uma revisão da vida de Isak Borg. Ele reavalia sua relação com a
mulher falecida, que o traia e discute uma questão que sempre preocupou e
aparece nos filmes de Bergamn: a relação conflitante entre a religião e a
ciência, a partir da visão de um médico cético e materialista, que tem sonhos
bizarros sobre a morte, mas insiste e permanece vivo.
O filme conquistou vários prêmios e no Festival
Internacional de Berlim (1958), recebeu o Urso de Ouro por Melhor Filme. Também
foi indicado na categoria de Melhor Filme e de Melhor Ator Estrangeiro para
Victor Sjöström, no Globo de Ouro (1960) e conquistou na categoria de Melhor
Filme (estrangeiro) Oscar (1960). (Kleber Torres)
Ficha
técnica
Direção : Ingmar Bergman
Produção : Allan Ekelund
Roteiro: Ingmar Bergman
Elenco: Victor Sjöström, Bibi Andersson, Ingrid Thulin, Gunnar
Björnstrand, Jullan Kindahl, Folke Sundquist, Björn Bjelfvenstam e Naima
Wifstrand
Música: Erik Nordgren
Direção de fotografia: Gunnar Fischer
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