sábado, 12 de março de 2016

Os morangos silvestres de Bergman





A vida, a velhice, a morte, o amor e a falta de perspectiva diante da vida são os ingredientes de Morangos Silvestres, uma obra prima de Ingmar Bergman, contando num único dia a história do professor de medicina Isak Borg, interpretado por Victor Sjöström, que se dirige com sua nora Marianne  (Ingrid Thulin ) de Estocolmo para Lund, onde receberá o grau honorário da Universidade por seus 50 anos de atividades profissionais.
Na viagem para o jubileu, ele relembra os principais momentos de sua vida, temendo a morte inexorável que se aproxima e que o acompanha em sonhos em que aparece vivo e morto ao mesmo tempo, mas relembrando ao mesmo tempo a sua infância, juventude e a maturidade.
No caminho, ele conhece diversas pessoas, desde  a jovem Sara (Bibi Andersson) e os seus companheiros de viagem , Viktor e Anders – que discutem sobre os prazeres da vida e brigam a socos e pontapés ao debater sobre a existência de Deus -, os quais se dirigem para Itália. Ele também dá carona  a um casal que faz lembrar Isak a sua própria vida e casamento conturbados, a quem socorre após um acidente rodoviário.
Isak Borg faz também aos 78 anos uma retrospectiva da sua vida e da família, como o filho médico que é casado e não tem filhos, bem como da sua mulher Karim, já falecida e sua relação com a empregada Agda (Jullan Kindahl) com quem divide a casa, a mesa, o afeto e o respeito. Nos seus sonhos, que ganham corpo ao longo do filme em diversas sequências, ele se vê numa caminhada de rotina, mas se perde nas ruas de uma cidade desconhecida ou que não tem lembranças. Numa outra cena, ele vê um carro fúnebre quebrado e que transporta um caixão  no qual se vê no interior, mas morto.
O médico também reflete sobre a vida e o conhecimento adquirido, considerando que ao invés de lhe conceder o jubileu de professor, a universidade devia concedê-lo o título de idiota. Ele também tem consciência de que como pessoa,  é considerado um velho egoísta, frio, impassível, que não escuta a ninguém.
Na viagem  ele passa na casa onde viveu a infância e adolescência, recorda  de uma prima por quem era apaixonado, que casa com seu irmão Sigfried, e com quem colhia morangos silvestres, a quem diz numa cena de flashback que envelheceu e mudou bastante. Ele também reencontra a mãe, uma velha solitária e que vive reclusa, sem visitas de parentes e amigos, cercada de pessoas interessadas na sua herança.
Isak também aparece num exame de qualificação imaginário em que não vê nada no microscópio e nem sabe o que está escrito no quadro negro, alegando que não é linguísta e admitindo que o dever do médico é pedir perdão, mas alega que está velho e tem problemas cardíacos. No mesmo exame, ele diagnostica a morte de uma paciente, que depois ri para ele, mas acaba sendo considerado incompetente pelo examinador.
O filme faz uma anamnese  e uma revisão da vida de Isak Borg. Ele reavalia sua relação com a mulher falecida, que o traia e discute uma questão que sempre preocupou e aparece nos filmes de Bergamn: a relação conflitante entre a religião e a ciência, a partir da visão de um médico cético e materialista, que tem sonhos bizarros sobre a morte, mas insiste e  permanece vivo.
O filme conquistou vários prêmios e no Festival Internacional de Berlim (1958), recebeu o Urso de Ouro por Melhor Filme. Também foi indicado na categoria de Melhor Filme e de Melhor Ator Estrangeiro para Victor Sjöström, no Globo de Ouro (1960) e conquistou na categoria de Melhor Filme (estrangeiro) Oscar (1960). (Kleber Torres)


Ficha técnica
Direção : Ingmar Bergman
Produção : Allan Ekelund
Roteiro: Ingmar Bergman
Elenco: Victor Sjöström, Bibi Andersson, Ingrid Thulin, Gunnar Björnstrand, Jullan Kindahl, Folke Sundquist, Björn Bjelfvenstam e Naima Wifstrand
Música: Erik Nordgren

Direção de fotografia: Gunnar Fischer

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