O filme Hector and the Search for Happiness (Hector e a Procura
da Felicidade) nos ensina duas coisas
importantes: a primeira, de que todos nos temos a obrigação de ser felizes e em
segundo lugar, nos mostra que um dos caminhos mais acessíveis é através da
descoberta do amor e da importância do outro nas nossas vidas. O filme, que tem uma proposta inteligente, às vezes se
mostra ingênuo para o mundo complexo e conturbado em que vivemos, marcado pela
corrupção, violência e pela mentira em
escala global, e é resultado de uma
produção germano-canadense-britânica dirigida por Peter Chelsom e com roteiro
de Tinker Lindsay e Maria von Heland, tendo como referência o romance Le Voyage
d'Hector ou la Recherche du bonheur de François Lelord.
O roteiro é simples e tem o gosto
de uma comédia em que psiquiatra Hector
(Simon Pegg) entediado com a rotina da sua vida e com problemas de seus
pacientes, a quem cobrava um preço justo e não reajustado pelas consultas há
vários anos, resolve se reinventar frustrado por não conseguir ajudar seus
pacientes e nem a si próprio a encontrarem a felicidade. Assim, com o incentivo da namorada Clara (Rosamund Pike), ele inicia uma viagem
ao redor do mundo, passando por Londres,
Xangai, pelo Tibete, com uma incursão no interior de um país africano e sem
nenhuma infraestrutura e por fim em Los
Angeles, onde vai busca de novas experiências fazendo anotações e desenho num
caderno de viagem.
Em todo este percurso marcado por
aventuras e peripécias , Hector questiona ao longo tempo as pessoas e sobre o que
as faz feliz, mas se dá conta que precisa questionar-se a si mesmo diante da
vida e mesmo de um mundo às vezes hostil e muito mais cheio de perigos.
O filme começa com um
pequeno avião antigo de acrobacia e lugares apenas para um piloto e um passageiro. O piloto
é o Hector e no banco de trás, o do carona,
vai um cachorro que cai durante um looping. Misteriosamente, em seu lugar aparece um
grandalhão que tenta matá-lo apertando o seu pescoço. Hector acorda de repente, assustado com o
pesadelo, depertado por Clara, que aparece no quarto com as mãos em direção ao
companheiro dizendo: “Bom dia, querido. Hora de levantar e
brilhar”, revelando que tudo não passava de um pesadelo e colocando suspense no ar sobre a relação do casal.
Os dois residiam num belo apartamento às margens do Tâmisa,
em Londres, onde tudo parecia ocorrer de forma perfeita, com a mulher cuidando
dos detalhes da casa, da gravata do namorado e até da chave esquecida na
cômoda. Mas nem isso e nem a sua clientela não o deixam realizado e ele começa
a se questionar sobre se eles são felizes ou ainda o que os motiva.
Tudo muda quando Hector participa de uma festa da empresa onde Clara trabalhava
e que estava promovendo uma comemoração num bar para festejar o sucesso de uma
campanha publicitária bem sucedida a partir de uma idéia de Clara para um novo tranquilizante
. É neste cenário que ele encontra uma mulher de 60 anos presumíveis e que fala
sobre a felicidade e a realização pessoal duas preocupações do psicanalista, que
prepara as malas e embarca para Xangai, hoje uma cidade cosmopolita e que se
transformou num dos maiores centros mundiais de consumo.
Na viagem, onde é
deslocado da classe executiva para a primeira classe, ele conhece um banqueiro Edward,
que o hospeda em um hotel de luxo e com quem participa de um lauto banquete,
descobrindo a felicidade que o dinheiro pode de certa forma comprar. O próprio
empresário ao ser questionado sobre a essência da felicidade diz: “quando se
trabalha tanto quanto eu não se tem tempo
para fazer este tipo de pergunta, porque ou você faz alguma coisa ou
simplesmente se aposenta”. Ele se define como um viciado, um divorciado e para
ele o mundo que se dane, pois precisava ganhar mais 20 milhões de dólares.
Ele também conhece a felicidade na China através de uma
mulher a quem encontra de forma casual e com quem dorme num hotel de luxo, mas
descobre no dia seguinte que ela era apenas uma garota de programa, que estaria
a serviço do banqueiro Edward para agradá-lo. Daí ele parte para o Tibete e
depois para o distante e pobre continente africano, mostrando o contraponto da
riqueza de Xangai e de Londres, onde convive com a violência e a pobreza.
O diretor Peter Chelsom desenvolve com competência o
desenrolar do enredo, mostrando como contraponto, que Hector vai anotando cada
passo da viagem numa agenda que ganhou de Clara, bem como mostrando as
conclusões a que vai chegando sobre o que é a felicidade e os caminhos para o
seu alcance.
A agenda aberta, com desenhos e anotações pessoais se transforma no filme numa janela para uma
série de animações aberta de forma criativa para o espectador. Numa das
anotações Hector observa que muitas pessoas acham que a felicidade se restringe
de forma simplista a ser rico ou importante importante.
Hector anota também na sua agenda que “algumas vezes a
felicidade é não saber de toda a
história inteira” ou que ela pode ser a
arte de amar a mais de uma mulher ao mesmo tempo, e
ainda que a “a felicidade é saber como
celebrar” e até mesmo saber ouvir, como
declara um paciente em estado gravíssimo que ele ajuda e a quem escuta
longamente, no vôo entre a África e Los Angeles, onde visita o professor Coreman, um cientista que desenvolveu
uma máquina capaz de mostrar em cores as sensações e para quem “nós deveríamos
nos preocupar não tanto com a busca da felicidade, mas com a felicidade da
busca”, revelando o outro lado dialético da mesma questão.
Quanto ao amor e a felicidade, um personagem considera que a
pessoa tem todas as cartas na mão e que o importante seria saber se a pessoa a
quem se ama a deixa feliz ou bem triste.
Para uma mulher entrevistada por Hector, a felicidade pode estar na própria casa,
na família, e até mesmo em levar uma vida normal e com saúde, mas ficam outras
conclusões a mais: “felicidade é você ser amado pelo que você é” ou “está em
sentir-se completamente vivo”.(KLEBER TORRES)
Ficha técnica:
Título: Hector and
the Search for Happiness (Hector e a Procura da Felicidade)
Direção: Peter
Chelsom
Elenco: Simon
Pegg, Barry Atsma, Chad Willett, Ming
Zhao, Christopher Plummer e Deborah Rosan
Argumento Peter
Chelsom, Tinker Lindsay e Maria von Heland
baseado no livro Le Voyage d'Hector ou la Recherche du bonheur de François
Lelord
Música: Dan Mangan e
Jesse Zubot
Direção de arte: Michael Diner
Figurino: Guy Speranza
Fotografia : Kolja Brandt
Edição: Claus Wehlisch
Gênero : Comédia
Uma produção da Alemanha, Canadá e Reino Unido
Ano: 2014
cor
120 minutos
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