O filme, que também trás alusões constantes aos lideres Kim Il-sung e dos seus sucessores Kim Jong-il e,
posteriormente, por Kim Jong-um, que estão em tudo na vida do pais e são representados
por gigantescas estátuas e retratos megalômanos, começa com Len Zi Mi falando
que vive no país mais belo da Ásia, depois embarcando num ônibus para a escola e mostrado a seguir um veículo tipo van com um
autofalante convocando nas ruas a população de um bairro para a ginástica do
povo, visando fortalecer os braços, as pernas e troncos dos participantes de
todas as idades.
Numa sequencia seguinte, aparece a família em destaque num apartamento com televisão em
cores ligada numa emissora que faz apologia do regime, enquanto o marido
trabalha na montagem de um móvel ou equipamento. Numa outra cena, numa escola a professora de Len
Zi Mi – compara o país com um coração
unido e que caminha em direção a uma grande e inquebrantável união nacional,
mostrando ao mesmo tempo “a vontade do povo para construir um pais unido, forte
e próspero.”
A mestra – uma jovem bonita – fala da batalha do camarada
Kim Jong-um ( o atual líder e guia da nação)
no sentido de preservar os valores básicos da Coreia e as crianças cantam
uma música que fala de um país belo e tranquilo, enquanto depois a professora
fala da revolução liderada por Kim Il-sung, que expulsou os inimigos japoneses
a pedradas. Ela também destaca o ódio os japoneses, americanos e seus
fantoches, bem como aos inimigos da Coreia do Norte.
Outra sequência fala do feriado do Dia da Estrela Brilhante
e as imagens do filme no apartamento da família são acompanhadas e orientadas por agentes do
governo que acompanham uma refeição do casal e da filha, com o pai mandando a
filha comer kimchi, comida tradicional do pais, que cura o câncer, e é um
alimento completo em vitaminas e carboidratos.
Num estádio lotado é filmada a celebração do Dia da Estrela
Brilhante, que marca os festejos do aniversário natalício do de cujus Kim Il-sung,
que foi o comandante supremo da revolução comunista e pai dos herdeiros da
corte. Na cerimônia até as palmas são sincronizadas mecanicamente e culmina com a cerimônia de iniciação dos
novos membros da União das Crianças, que recebem um lenço vermelho com um nó no
pescoço dado por padrinhos militares e nada diferentes dos usados pelos
escoteiros ocidentais. Até a saudação da instituição se parece com o sempre alerta
dos nossos escoteiros e bandeirantes, substituído por um ameno “sempre
preparado”, talvez numa alusão a uma possível guerra uma vez que a Coreia do Norte
nunca assinou um tratado de paz com o Sul.
O documentário também
se revela uma farsa. O pai da criança, que na vida real era jornalista, aparece
em cenas como engenheiro numa indústria de roupas considerada modelo, ditando
as regras da moda e os padrões de qualidade. Já a mãe, cujo nome também não foi
revelado, que trabalhava em um refeitório do estado, aparece como uma reluzente
trabalhadora numa fábrica de leite de soja.
As imagens não revelam alunos entrando ou saindo nas
escolas, que funcionam como internatos e apenas no filme mostra uma
movimentação pré-fabricada de alunos no seu entorno. Há a suspeita que em
função dos “indicadores de produtividade” os trabalhadores sejam “voluntariamente
obrigados a dormir e viver em dormitórios nas fábricas e quartéis cruéis da
ditadura preservando os seus amados empregos. No mais, a grande verdade do filme é retratada na
expressão facial de Len Zi Mi, que durante todo o filme exibia uma expressão de
medo e pavor, mas não conteve as lágrimas no final e lembra como coisa mais agradável
da sua vida o juramento de lealdade aos senhores de plantão.(Kleber Torres)
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