Ninguém distingue o que é realidade ou ficção, nem o
onírico ou o real em Paprika (Papurika), um filme japonês animado policial e de ficção cientifica produzido
em 2006 e dirigido pelo cineasta Satoshi Kon, já falecido em consequência de um
câncer de pâncreas aos 46 anos, mas que nos legou cinco filmes -um deles inacabado – e uma série, sendo o mais famoso deles Perfect Blue. Paprika teve o roteiro baseado no livro de
mesmo nome de Yasutaka Tsutsui, tendo
como referência o roubo de um aparelho – DC Mini - que permite aos terapeutas
entrarem nos sonhos dos pacientes para ajudá-los na solução de problemas ou traumas psicológicos.
A trilha sonora foi assinada
por Susumu Hirasawa e a primeira a usar
Vocaloid, ou seja, o recurso de cantoras virtuais nipônicas, que fazem shows em
hologramas. Paprika também é rico em referências a outros filmes como o Maior
Espetáculo da Terra, Tarzan ou mesmo na discussão sobre a elaboração de planos
e sequências, com reflexões sobre o cinema, a vida e a questão da privacidade,
como a possibilidade até da invasão de sonhos dos personagens. Afinal o que é
sonho ou real e o que seria o irreal
Tudo começa no futuro, com o
desenvolvimento de uma nova terapia em que um dispositivo, o DC Mini, permite
ao usuário visualizar e monitorar os
sonhos das pessoas. O trabalho coordenado pela médica Atsuko Chiba, que usa a máquina experimentalmente, mas sem
autorização para ajudar aos pacientes psiquiátricos fora do centro de pesquisa,
usando para isso Paprika, um espécie de alterego que navega e transita no mundo
dos sonhos.
Paprika
acompanha os sonhos do detetive Toshimi
Konakawa, atormentado por um pesadelo recorrente de um filme gravado em super
oito na sua juventude e que culmina na investigação de um possivel homicídio. Um
aliado de Chiba em suas pesquisas é o cientista Kosaku Tokita, o inventor do
Mini DC, um projeto inacabado e em fase de desenvolvimento, mas o equipamento
acaba desaparecendo gerando cobranças do chefe do departamento de pesquisas, Toratarō
Shima, que é um deficiente físico e acaba como vilão da história.
No filme os sonhos
e realidade se confundem. Assim, Paprika, torna-se uma entidade separada e
independente de Chiba graças aos sonhos e fusão realidade. Em meio ao caos,
Tokita, assume a forma de um robô gigante, come Chiba e se prepara para fazer o
mesmo para Paprika. Enquanto isso, o presidente do instituto de pesquisa assume
a forma de um pesadelo vivo, uma espécie de buraco negro que a tudo devora com
seus sonhos escatológicos de
onipotência, ameaçando escurecer e dominar um mundo de sombras com seus
delírios malignos, mas acaba detido por uma força antagônica muito além do equilíbrio
entre o yin e yang, mas inversamente
proporcional à sua, acabando com o que seria um pesadelo ou talvez o fim do mundo.
O
filme instigante, difícil, desafiador, mas
deveras interessante, inteligente e nos oferece uma oportunidade de releitura
da cultura oriental com sua sabedoria e simbolismos próprios, o que nos
aproxima através de um mundo cada vez mais globalizado e que continua redondo,
girando em torno do sol e adormecido na sombra da noite com seus sonhos ou pesadelos.
(Kleber Torres)
Ficha técnica:
Título : Paprika (Papurika)
Direção:
Satoshi Kon
Roteiro:
Yasutaka Tsutsui
Elenco: Megumi Hayashibara, Tōru Furuya, Tōru Emori. Seijirō Inui, Katsunosuke Hori, Akio Ōtsuka e Kōichi Yamadera
Trilha sonora: Susumu
Hirasawa
Ano : 2006
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