sábado, 9 de março de 2019

Paprika uma viagem onírica além do universo real



Ninguém distingue o que é realidade ou ficção, nem o onírico ou o real em Paprika (Papurika), um filme japonês animado  policial e de ficção cientifica produzido em 2006 e dirigido pelo cineasta Satoshi Kon, já falecido em consequência de um câncer de pâncreas aos 46 anos, mas que nos legou cinco  filmes -um deles inacabado –  e uma série, sendo o mais famoso deles  Perfect Blue. Paprika teve  o roteiro  baseado no livro de mesmo nome  de Yasutaka Tsutsui, tendo como referência o roubo de um aparelho – DC Mini - que permite aos terapeutas entrarem nos sonhos dos pacientes para  ajudá-los na solução de problemas ou traumas psicológicos.
A trilha sonora foi assinada por Susumu Hirasawa e a  primeira a usar  Vocaloid, ou seja, o recurso de cantoras virtuais nipônicas, que fazem shows em hologramas. Paprika também é rico em referências a outros filmes como o Maior Espetáculo da Terra, Tarzan ou mesmo na discussão sobre a elaboração de planos e sequências, com reflexões sobre o cinema, a vida e a questão da privacidade, como a possibilidade até da invasão de sonhos dos personagens. Afinal o que é sonho ou real e o que seria o irreal
Tudo começa no futuro, com o desenvolvimento de uma nova terapia em que um dispositivo, o DC Mini, permite ao usuário visualizar e monitorar  os sonhos das pessoas. O trabalho coordenado pela médica  Atsuko Chiba, que  usa a máquina experimentalmente, mas sem autorização para ajudar aos pacientes psiquiátricos fora do centro de pesquisa, usando para isso Paprika, um espécie de alterego que navega e transita no mundo dos sonhos.
Paprika acompanha os sonhos  do detetive Toshimi Konakawa, atormentado por um pesadelo recorrente de um filme gravado em super oito na sua juventude e que culmina na investigação de um possivel homicídio. Um aliado de Chiba em suas pesquisas é o cientista Kosaku Tokita, o inventor do Mini DC, um projeto inacabado e em fase de desenvolvimento, mas o equipamento acaba desaparecendo gerando cobranças do chefe do departamento de pesquisas, Toratarō Shima, que é um deficiente físico e acaba como vilão da história.
No filme os sonhos e realidade se confundem. Assim, Paprika, torna-se uma entidade separada e independente de Chiba graças aos sonhos e fusão realidade. Em meio ao caos, Tokita, assume a forma de um robô gigante, come Chiba e se prepara para fazer o mesmo para Paprika. Enquanto isso, o presidente do instituto de pesquisa assume a forma de um pesadelo vivo, uma espécie de buraco negro que a tudo devora com seus sonhos  escatológicos de onipotência, ameaçando escurecer e dominar um mundo de sombras com seus delírios malignos, mas acaba detido por uma força antagônica muito além do equilíbrio entre o yin e yang, mas  inversamente proporcional à sua, acabando com o que seria um pesadelo ou talvez o fim do mundo.
O  filme instigante, difícil, desafiador, mas deveras interessante, inteligente e nos oferece uma oportunidade de releitura da cultura oriental com sua sabedoria e simbolismos próprios, o que nos aproxima através de um mundo cada vez mais globalizado e que continua redondo, girando em torno do sol e adormecido na sombra da noite com seus sonhos ou pesadelos. (Kleber Torres)


Ficha técnica:

Título : Paprika (Papurika)
Direção: Satoshi Kon
Roteiro: Yasutaka Tsutsui
Elenco:  Megumi Hayashibara, Tōru Furuya, Tōru Emori. Seijirō Inui, Katsunosuke Hori,  Akio Ōtsuka e  Kōichi Yamadera
Trilha sonora: Susumu Hirasawa 

Ano : 2006

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