“O que matou Elvis segundo os médicos, foi o coração;
outros médicos dizem que foram os comprimidos;
alguns dizem que fui eu. Vou te contar o que matou Elvis: foi o amor. O seu amor por vocês”, estas declarações do coronel Tom Parker (Tom Hanks) explica em
parte na cinebiografia Elvis, a
trajetória de a ascensão e decadência do
roqueiro Elvis Presley interpretado por Austin
Butler. Um drama humano que envolveu sexo, drogas e rock’n roll, que rendeu aos
seus produtores US$ 286 milhões.
O filme evidencia a
parceria tóxica entre o cantor de origem
humilde e pouco instruído, com o seu
empresário que se apresentava como coronel Tom Parker -ninguém sabe se
este é efetivamente o seu nome-, que ao longo de mais de duas décadas, cuidou
de contratos nem sempre favoráveis ao rei do rock. Ele o submetia a ações de
marketing meramente comerciais sem agregar valor à carreira do artista, inclusive
com a produção de filmes de classe B, colocando o astro do rock como vendedor
de gadgets e eletrodomésticos além de outros produtos vendáveis para uma sociedade de consumo.
O filme tem como
contraponto a expansão dos EUA como potência
econômica e militar hegemônica e os conflitos
pessoais de Elvis ao longo dos anos como cantor branco, mas profundamente
influenciado pelo jazz, o blues e pela música gospell. A cinebiografia mostra também
a relação de Elvis com a mulher Priscilla Presley (Olivia DeJonge), com quem
teve uma filha e que tentava influenciá-lo positivamente, tentando dar um rumo para sua carreira como
artista e inspirando-o na tomada de decisões que o tornaram um referencial para
outros artistas brancos e negros os quais o sucederam após a sua morte em 1977 aos 42 anos..
Dirigido
por Baz Luhrmann de "Moulin Rouge", "O Grande Gatsby" e
"Romeu e Julieta", que assinou o roteiro juntamente com Sam Brommell, Craig Pearce e
Jeremy Doner, Elvis tem uma narrativa a partir do ponto de vista Tom Parker,
que assume o comando da história e até o protagonismo da história deixando em
segundo plano o biografado. Mostra também como um empresário circense e
inescrupuloso, que descobre a sua mina
de ouro a partir de um jovem branco, interiorano e o qual começava a se apresentar
em eventos dançando como um negro e cantando rock.
Ao
assumir o controle da carreira do artista emergente e que acabou se tornando
uma superestrela do rock, levando suas fãs ao êxtase e deixando os seus críticos
irados, o coronel Parker investe em contratos lesivos visando quitar suas
dívidas de jogo nos cassinos e manter um elevado padrão de vida. Em paralelo à
trajetória de Elvis o filme tem inserções sobre seu relacionamento com artistas
negros como BB King e Little Richards, que o inspiravam bem como a autores de estilos variados
como rap e o hip hop nos dias de hoje, apresentando como
pano de fundo os grande eventos que marcaram a história num mundo dividido pela
guerra fria, pela guerra do Vietnã, pela contracultura e até com o surgimento
dos Beatles.
Além da relação conturbada
entre Elvis e o seu antagonista, o filme também mostra a sua relação do artista
com a mãe, Gladys (Helen Thomson) e o pai, Vernon (Richard Roxburgh), com a mulher e com os amigos
que o cercavam na mansão de Graceland, em Memphis, no Tenesse, onde nasceu e
morreu. A influência das drogas e seu afastamento gradual de Priscila, também revela a
deterioração da saúde física e mental de Elvis, que acaba sucumbindo ainda
jovem.
A direção do filme também investiu com esmero no resgate dos cenários da
época e em sequências antológicas em Las
Vegas, onde Elvis passou a se apresentar em shows nos cassinos final já no estágio final de sua carreira. O filme é
de certa forma lento, tenta mostrar um Elvis ingênuo, mas a história do rei do
rock é de certa forma roubada pela força do seu antagonista o coronel Parker,
numa excelente interpretação de Tom Hanks, experiente ganhador de dois Óscares em
Forrest Gump e Philadelphia, que deverá
ser indicado para a disputa do troféu pela sexta vez
A atuação Austin
Butler é convincente e pode também leva-lo à disputa do Óscar em
2023, sendo reforçada pela trilha sonora estruturada por Elliott
Wheeller, que além de incluir sucesso do próprio Elvis, teve ainda de lambuja a participação de
artistas como Doja Cat, Måneskin, Eminem e CeeLo Green. A lição que fica é que
apesar da sua morte física, Elvis não morreu. Ele revive nas telas do cinema e até
em teorias conspiratórias tão em voga nestes tempos de fake News. Há quem diga
que ele teria sumido da vida pública por diversos motivos, o que poderia ser
tema de outro filme ou quem sabe, de até um romance, pois se o Rei está morto,
Viva ao Rei!(Kleber Torres)