Considerado um dos mais prolíficos e expressivos
cineastas, onde aparece ao lado de nomes como o Hitchcock e Kubrick, Sidney
Lumet nos legou uma obra de mais de 50 filmes, além sucessos consagrados
pela critica e reconhecidos pelo público como 12 Homens e uma Sentença (12
Angry Men, 1957), Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon, 1975), o antológico Rede de
Intrigas (Network, 1976) e O Veredito (The Verdict, 1982), todos com indicações
ao Oscar de melhor direção.
Um
tema recorrente da sua obra de cunho neorrealista está na crítica ao poder e à
corrupção na mídia e na polícia, bem como à burocrática lentidão da
justiça. Sua narrativa visual objetiva e
vigorosa, a atenção no trabalho com os atores e a utilização da câmera como uma
ferramenta de uma linguagem direta e objetiva, tornaram Sidney Lumet e sua
obra, simplesmente extraordinários, com
adaptações de peças e romances em produções grandiosas e comédias de
humor-negro no mais fino estilo novaiorquino, revelando conflitos psicológicos
e dramas universais.
Em1959,
ele dirigiu Marlon Brando e Joanne Woodward em Vidas em Fuga (The Fugitive
Kind), baseado na peça de Tennessee Williams, A Descida de Orfeu (Orpheus
Descending). Também dirigiu com competência Panorama Visto da Ponte (A View
From the Bridge, 1961), de Arthur Miller
e Longa Jornada Noite Adentro (Long Day's Journey Into Night, 1962), de Eugene
O’Neill, adaptação expressiva de mais um clássico do teatro para o cinema.
Também
leva a sua assinatura o antológico O Homem do Prego, selecionado pela
Biblioteca do Congresso para preservação no United States National Film Registry,
por sua significância cultural e histórica, contando o drama de um judeu que
viveu o terror dos campos de concentração. Foi o primeiro filme a mostrar o
Holocausto a partir da visão de um sobrevivente. Já Limite de Segurança aparece
como um libelo contra as armas nucleares e alerta para o risco nunca
descartável de uma guerra atômica.
Lumet
também assina filmes como O Grupo (2009), Chamada Para um Morto (The Deadly
Affair, 1967), baseado em Call For The Dead (1961), primeiro livro do britânico
John Le Carré, com seu personagem George Smiley, renomeado no fime como Charles
Dobbs e interpretado por James Mason, num elenco cinco estrelas que reuniu Simone
Signoret e Maximilian Schell.
Ele
também produziu um documentário antológico sobre Martin Luther King e que teve
a renda foi doada ao Fundo Especial Martin Luther King Jr. Já O Golpe de John
Anderson (The Anderson Tapes, 1971) foi pioneiro no enfoque de uma questão
prevalecente nos dias hodiernos: a invasão de privacidade por agências
governamentais através da tecnologia de vigilância eletrônica cada vez mais
sofisticada e aprimorada.
A
perda de privacidade foi ampliada em função do uso dos novos recursos tecnológicos
como o smartphone e a internet, que permitem aos serviços de segurança dos dias
de hoje nos localizar em tempo real e em qualquer circunstancia de tempo,
instalando um clima de paranóia e de desconfiança na relação entre o cidadão e
o estado, que funciona como uma espécie de Leviatã.
Em Serpico
(1973), ele nos conta uma história sobre poder e corrupção no Departamento de
Polícia de Nova York, a marcou uma série de
quatro filmes do cineasta sobre estes dois temas. O filme narra a
história verídica do policial honesto Frank Serpico, interpretado por Al Pacino
que atuava no Departamento de Policia de Nova York na década de 70 e que acaba
engolido por sistema corrupto e sanguinário, que não admite contestação.
A
sequência teve desdobramento com Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon, 1975)
inspirado num fato ocorrido em de agosto
de 1972, quando John "Sonny" Wojtowicz (Al Pacino) e Salvatore
Naturile (John Cazale) invadiram um banco, fazendo reféns e provocando um grande tumulto no centro de
Nova York. No meio das negociações, Sonny revela à polícia que o objetivo do
assalto era conseguir dinheiro para uma cirurgia de mudança de sexo de sua
mulher, Leon Schermer (Chris Sarandon).
Com
um autor polivalente, Lumet também dirigiu Assassinato no Expresso do Oriente
(Murder on the Orient Express, 1974), um mistério de Agatha Christie, resolvido
pelo notório detetive belga, Hercule Poirot interpretado por Albert Finney. Ele
atinge o ápice em Em Rede de Intrigas onde impõe um ritmo similar ao linguagem
telejornalística para denunciar o sensacionalismo e a manipulação da informação
num filme com a participação de William Holden, Robert Duvall, Peter Finch,
Faye Dunaway, Ned Beatty e Beatrice Straight.
O
filme foi aclamado pela crítica e foi premiado com nada menos que quatro
Oscars: o de melhor ator para Peter
Finch, de melhor atriz para Faye Dunaway, para a atriz co-adjuvante Beatrice
Straight) e para roteiro original assinado por Paddy Chayefsky e abocanhou de quebra mais quatro Globos de
Ouro como melhor filme, melhor ator dramático para Peter Finch, para melhor
atriz Faye Dunaway, melhor diretor para o próprio Sindey Lumet e roteiro para
Paddy Chayefsky.
Com
Equus, um complexo drama psicológico, Lumet
conseguiu conquistar mais três indicações ao Oscar: o de melhor ator para
Richard Burton, de ator co-adjuvante para Peter Firth e de roteiro adaptado. Em
1978, Lumet fez a adaptação de um musical da Broadway: O Mágico Inesquecível
(The Wiz) uma revisitação à fábula do Mágico de Oz, com Diana Ross, Michael
Jackson, Lena Horne e Richard Pryor, além da adaptação musical foi
supervisionada por Quincy Jones, um parceiro musical de vários filmes do autor.
Depois,
em O Príncipe da Cidade, que recebeu
indicações ao Oscar de melhor roteiro adaptado, e por sua autenticidade, ele
realizou outros filmes inclusive Os Donos do Poder (Power, 1986), que enfoca as
consequências da corrupção política em toda a sua extensão, seguido de O Peso
de um Passado (Running on Empty, 1988), uma história real inspirada nos líderes do grupo radical Weather Underground,
o mesmo que sabotou uma instalação militar que produzia de napalm durante a
Guerra do Vietnã. Lumet afirmava que
"não é o objetivo da busca que me intriga, e sim, a condição
obssessiva."
Em
Sombras da Lei (Night Falls on Manhattan, 1997) e depois em Sob Suspeita, ele conta a história real do mafioso Di Norscio,
que fez a sua própria defesa num processo demorado e complicado sobre a Máfia,
num filme em que a maior parte dos testemunhos foram transcritos diretamente
dos registros oficiais do julgamento. Neste filme, Lumet retoma a temática de
corrupção, intrigas, traições e a preservação da integridade moral.
Ele
assina ainda Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto (Before the Devil
Knows You're Dead, 2007), selando assim a sua participação definitiva na
história do cinema mostrando, não apenas versatilidade ao experimentar
diferentes técnicas e estilos, como também conquistando grandes prêmios e o
reconhecimento da critica especializada e do público.