quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O Navio de Teseu






O Navio de Teseu  nos fala de uma embarcação original que teve gradualmente todas as suas peças substituídas. O paradoxo é saber qual dos dois é o navio de Teseu, se o original ou o que foi substituído.
Segundo as  lendas gregas, e um  relato de Plutarco:  esse seria o navio a remos com que Teseu e os jovens de Atenas  retornaram de Creta, e foi preservado pelos atenienses até o tempo de Demétrio de Falero, porque eles usavam uma estrategia: removiam as partes velhas que apodreciam e colocavam partes novas, substituindo-as sempre que necessário..
O paradoxo do navio se tornou motivo de discussão entre os filósofos da antiguidade como Heráclito e Platão para identificar o conjunto de caracteres próprios e exclusivos com os quais se podem diferenciar objetos inanimados uns dos outros. O tema foi retomado  por pensadores como Thomas Hobbes, John Locke e Gottfried Leibniz e é tema de livros e até de um filme.
O Navio de Teseu também é o tema de um filme inteligente de ficção indiano, dirigido por Anand Ghandi e que apresenta como questão central saber se as partes de um navio são substituídas, pedaço por pedaço, esse é ainda o mesmo navio?
A história nos leva a uma fotógrafa que lida com a perda de sua visão após um procedimento clínico mal sucedido e precisa de um transplante de córnea; um monge erudito que enfrenta um dilema ético frente à sua ideologia de vida, tem de escolher entre seus princípios e a morte – ele não toma remédios que provocaram o sacrifício de animais e precisa de um transplante de figado; e por fim um jovem corretor da bolsa de valores, seguindo o rastro de um rim roubado, adquirido no mercado negro, e aprende como a moralidade e a ética podem ser complexas numa sociedade capitalista, que privilegia o lucro.
Seguindo estes elementos isolados de suas viagens filosóficas, e sua eventual convergência, o filme Navio de Teseu explora questões fundamentais da identidade, da justiça, da beleza, do entendimento e  da morte. Isso sem falar que vivemos num mundo transitório e somos passageiros de uma mesma nau de insensatos.
No filme um dos personagens diz: “Somos todos cegos tentando compreender um elefante”, numa referência a uma parábola sobre pessoas sem visão que foram conhecer um elefante, que é fino na cauda, enorme no seu bojo, mole nas orelhas de abano e roliços nas pernas ou na tromba, a depender do local em que ele foi apalpado.
Outro personagem infere que toda molécula do universo é afetada por nossas ações e isso nos dá uma visão holística da complexidade de um paradoxo que nos inquieta desde a mais remota antiguidade e nos afeta até o mundo hodierno.

Ficha técnica:
Título: O Navio de Teseu ; The Ship of Theseus
Direção e roteiro: Anand Gandhi
Elenco: Aida Al-Khashef, Neeraj Kabi, Sohum Shah
Música: Naren Chandavarkar, Benedict Taylor, Rohit Sharma
Edição: Adesh Prasad, Sanyukta Kaza, Satchit Puranik

Duração : 139 minutos 

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