O Navio de Teseu nos fala de uma embarcação original que teve gradualmente todas as suas peças
substituídas. O paradoxo é saber qual dos dois é o navio de Teseu, se o original
ou o que foi substituído.
Segundo
as lendas gregas, e um relato de Plutarco: esse seria o navio a remos com que Teseu e os
jovens de Atenas retornaram de Creta, e foi preservado pelos atenienses até o
tempo de Demétrio de Falero, porque eles usavam uma estrategia: removiam as partes velhas que
apodreciam e colocavam partes novas, substituindo-as sempre que necessário..
O
paradoxo do navio se tornou motivo de discussão entre os filósofos da
antiguidade como Heráclito e Platão para identificar o conjunto de caracteres
próprios e exclusivos com os quais se podem diferenciar objetos inanimados uns
dos outros. O tema foi retomado por pensadores como Thomas Hobbes,
John Locke e Gottfried Leibniz e é tema de livros e até de um filme.
O Navio de Teseu
também é o tema de um filme inteligente de ficção indiano, dirigido por Anand Ghandi e que
apresenta como questão central saber se as partes de um navio são substituídas,
pedaço por pedaço, esse é ainda o mesmo navio?
A história nos leva a uma fotógrafa que lida com a perda de sua visão após um procedimento clínico mal sucedido e
precisa de um transplante de córnea; um monge erudito que enfrenta um dilema ético
frente à sua ideologia de vida, tem de escolher entre seus princípios e a morte
– ele não toma remédios que provocaram o sacrifício de animais e precisa de um transplante
de figado; e por fim um jovem corretor da bolsa de valores, seguindo o rastro
de um rim roubado, adquirido no mercado negro, e aprende como a moralidade e a ética podem ser complexas
numa sociedade capitalista, que privilegia o lucro.
Seguindo estes elementos
isolados de suas viagens filosóficas, e sua eventual convergência, o filme Navio de Teseu explora questões fundamentais da
identidade, da justiça, da beleza, do entendimento e da morte. Isso sem falar que vivemos num mundo
transitório e somos passageiros de uma mesma nau de insensatos.
No
filme um dos personagens diz: “Somos todos cegos tentando compreender um
elefante”, numa referência a uma parábola sobre pessoas sem visão que foram conhecer
um elefante, que é fino na cauda, enorme no seu bojo, mole nas orelhas de abano
e roliços nas pernas ou na tromba, a depender do local em que ele foi apalpado.
Outro
personagem infere que toda molécula do universo é afetada por nossas ações e
isso nos dá uma visão holística da complexidade de um paradoxo que nos inquieta
desde a mais remota antiguidade e nos afeta até o mundo hodierno.
Ficha
técnica:
Título: O Navio de Teseu ; The Ship of
Theseus
Direção e roteiro: Anand Gandhi
Elenco: Aida Al-Khashef, Neeraj Kabi, Sohum
Shah
Música: Naren Chandavarkar, Benedict Taylor, Rohit Sharma
Edição: Adesh Prasad, Sanyukta Kaza, Satchit
Puranik
Duração : 139 minutos
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