O cinema não é mais a sétima arte, mas
a oitava ao incorporar a tecnologia digital aos efeitos especiais e mais que
isto, associou definitivamente o uso dos computadores à sua linguagem, sem abdicar da estrutura narrativa,
da força dos enredos e nem da emoção dos espectadores. Com isso o cinema
associa não apenas fotografia, música, literatura, dança e coreografia
(movimento), teatro e escultura/arquitetura (volume), mas um novo ingrediente
tecnológico a arte digital.
Dois filmes podem ser considerados referenciais
em termos de apropriação de novos recursos tecnológicos pelo cinema. Cocoon, de
Ron Howard, indicado para o Oscar como o melhor filme de efeitos especiais, que
dá um banho de tecnologia do começo ao
fim e O Exterminador do Futuro, de James Cameron. Os dois filmes também tiveram
desdobramentos seriais.
Em Cocoon, a chegada de
extraterrestres tem uma marca
registrada. Mas alguns teóricos consideram que nada disto ocorre impunemente,
pois estas imagens poderiam estar associadas a um projeto ainda maior, para a
efetiva chegada dos extraterrestres ao nosso planeta se é que eles não estão
entre nós. Seria talvez uma espécie do
curso de alfabetização e de preparação para a chegada de um novo tempo.
Assim, Cocoon é um filme que permite
duas leituras distintas e até complementares entre si. Primeiro, a sua proposta
narrativa aparece de forma linear e de consumo para adolescentes e crianças. Numa
segunda inflexão a trama envolve uma maior complexidade e assume por si a sua
própria força e dimensão atá porque todos os dramas humanos podem ser
considerados infantis, quando se observa o lado emocional e pragmático das
coisas.
O ser humano é pragmático quando se
trata das coisas em termos materiais e reage de forma emocional na sua rotina,
no cotidiano, no trato com os filhos, com a mulher e a família, e na própria
vida, as reações em especial a situações adversas e de conflito são
imprevisíveis.
Como em arte não se questionam os
aspectos metafísicos, porque tudo é transcendente, também no cinema não é
diferente, porque a sua estrutura é complexa e não linear, admitindo cortes,
fusões e montagens de n formas através de flashbacks ou forwards. O cinema admite na sua linguagem planos,
sequências e toda uma estrutura de roteiro que permite alterações aleatórias,
além da intervenção natural do montador ou da sua sensibilidade. Seu mistério
esta em 24 fotogramas por segundo, que não é magia, mas permite o uso de recursos
os mais diversos como ilusão ótica, a sublimação e agora com a adoção de novas tecnologias.
Para fazer Cocoon, o diretor Ron
Howard reuniu um elenco de velhos e
experientes atores a exemplo de Don Ameche,
Wilford Brindey, Jack Gilford, Jessica Tandy e Herta Ware, numa história
humana, que tem como pano de fundo um asilo para idosos, para questionar a velhice,
a solidão e o abandono, bem como a sua profunda e simbiótica relação com a
decrepitude e a morte.
Cocoon também abre a janela ficcional
para um outro salto com a proposta de uma vida eterna, que não é uma questão
infantil, mas essencialmente metafísica, e que põe em cheque o próprio
materialismo sem ser deísta e nem de caráter essencialmente religioso. Neste ponto é que está embutida a questão da
sobrevivência e da longevidade.
No roteiro, um grupo de idosos que
vivia num abrigo americano com todo o conforto, se envolve em peraltices
infantis e ao usarem a piscina de uma mansão vizinha aparentemente abandonada, onde
redescobrem a juventude e os caminhos da vida eterna através de seres
extraterrestres. Seria a redescoberta da fonte e da essência da vida eterna?
O processo também envolve outras
implicações humanas essenciais com a redesocberta do amor, da sensualidade e
uma reconstrução da dignidade perdida, duramente castigada com o abandono na
velhice , quando os idosos são esquecidos e largados abrigos, talvez a única
alternativa que lhes reste antes do prenúncio da morte.
Em paralelo ao drama humano a história
ficcional é montada e não se contrapõe,
mas se soma com a utilização dos efeitos especiais chegando ao auge com a
elevação de um barco com 35 pessoas até
um disco voador, abrindo perspectivas para sua posterior continuação.
Um outro destaque para efeitos
especiais fica para O Exterminador do Futuro, um filme de James Cameron, com
desdobramentos seriais, que traz no elenco Arnold Shwarzenneger – que também
interpretou Conan, o Bárbaro - ao lado de Michael Blehn e Linda HamIlton, numa
película em que a maquiagem de Stan Winston aparece como um destaque ao lado
naturalmente de uma profusão de efeitos especiais.
Em ambos os filmes o computador e a
tecnologia digital aparecem como ferramentas de montagem e ate mesmo na
apresentação dos letreiros, que seria sua ficha técnica.Em o Extreminador do
Futuro os efeitos especiais encantam o espectador como por exemplo numa
autocirurgia do ciborg exterminador, que chega até a sangrar em função dos
ferimentos.
A própria resistência sobrehumana do
Ciborg é outro efeito especial a ser observado, porque em arte tudo é valido e
permitido. Vale lembrar que a função da arte em si mesma não é agradar ou
entreter, nem ser simples, bonita ou rasteira, cabe a ela também problematizar
e discutir questões éticas e morais, atraindo a atenção do espectador como
sujeito para mostrar problemas que se
somam, se multiplicam e no campo da ficção ou que podem até mesmo ocorrer no
dia a dia.
O Exterminador do Futuro nos reconduz
ao debate da questão da relação entre o homem e a máquina bem como da máquina
como extensão do homem. Também discute a criação de máquinas inteligentes, e
que se sobrepõem naturalmente ao homem como Hall, em 2001 Odisséia do Espaço. É a criatura se
contrapondo ao seu criador, numa revolução previsível, e que cabe aos autores
de ficção levar o debate às últimas conseqüências, até porque também é uma das
funções da arte a antecipação, prevendo o futuro, mesmo que este nunca
aconteça. (Kleber Torres)
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