quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Tecnologia digital torna o cinema a oitava arte





O cinema não é mais a sétima arte, mas a oitava ao incorporar a tecnologia digital aos efeitos especiais e mais que isto, associou definitivamente o uso dos computadores à  sua linguagem, sem abdicar da estrutura narrativa, da força dos enredos e nem da emoção dos espectadores. Com isso o cinema associa não apenas fotografia, música, literatura, dança e coreografia (movimento), teatro e escultura/arquitetura (volume), mas um novo ingrediente tecnológico a arte digital. 
Dois filmes podem ser considerados referenciais em termos de apropriação de novos recursos tecnológicos pelo cinema. Cocoon, de Ron Howard, indicado para o Oscar como o melhor filme de efeitos especiais, que dá um banho de tecnologia  do começo ao fim e O Exterminador do Futuro, de James Cameron. Os dois filmes também tiveram desdobramentos seriais.
Em Cocoon, a chegada de extraterrestres tem uma marca  registrada. Mas alguns teóricos  consideram que nada disto ocorre impunemente, pois estas imagens poderiam estar associadas a um projeto ainda maior, para a efetiva chegada dos extraterrestres ao nosso planeta se é que eles não estão entre nós.  Seria talvez uma espécie do curso de alfabetização e de preparação para a chegada de um novo tempo.
Assim, Cocoon é um filme que permite duas leituras distintas e até complementares entre si. Primeiro, a sua proposta narrativa aparece de forma linear e de consumo para adolescentes e crianças. Numa segunda inflexão a trama envolve uma maior complexidade e assume por si a sua própria força e dimensão atá porque todos os dramas humanos podem ser considerados infantis, quando se observa o lado emocional e pragmático das coisas.
O ser humano é pragmático quando se trata das coisas em termos materiais e reage de forma emocional na sua rotina, no cotidiano, no trato com os filhos, com a mulher e a família, e na própria vida, as reações em especial a situações adversas e de conflito são imprevisíveis.
Como em arte não se questionam os aspectos metafísicos, porque tudo é transcendente, também no cinema não é diferente, porque a sua estrutura é complexa e não linear, admitindo cortes, fusões e montagens de n formas através de flashbacks ou forwards.  O cinema admite na sua linguagem planos, sequências e toda uma estrutura de roteiro que permite alterações aleatórias, além da intervenção natural do montador ou da sua sensibilidade. Seu mistério esta em 24 fotogramas por segundo, que não é magia, mas permite o uso de recursos os mais diversos como ilusão ótica, a sublimação e agora com a  adoção de novas tecnologias.
Para fazer Cocoon, o diretor Ron Howard   reuniu um elenco de velhos e experientes atores a exemplo de Don Ameche,  Wilford Brindey, Jack Gilford, Jessica Tandy e Herta Ware, numa história humana, que tem como pano de fundo um asilo para idosos, para questionar a velhice, a solidão e o abandono, bem como a sua profunda e simbiótica relação com a decrepitude e a morte.
Cocoon também abre a janela ficcional para um outro salto com a proposta de uma vida eterna, que não é uma questão infantil, mas essencialmente metafísica, e que põe em cheque o próprio materialismo sem ser deísta e nem de caráter essencialmente religioso.  Neste ponto é que está embutida a questão da sobrevivência e da longevidade.
No roteiro, um grupo de idosos que vivia num abrigo americano com todo o conforto, se envolve em peraltices infantis e ao usarem a piscina de uma mansão vizinha aparentemente abandonada, onde redescobrem a juventude e os caminhos da vida eterna através de seres extraterrestres. Seria a redescoberta da fonte e da essência da vida eterna?
O processo também envolve outras implicações humanas essenciais com a redesocberta do amor, da sensualidade e uma reconstrução da dignidade perdida, duramente castigada com o abandono na velhice , quando os idosos são esquecidos e largados abrigos, talvez a única alternativa que lhes reste antes do prenúncio da morte.
Em paralelo ao drama humano a história ficcional é montada  e não se contrapõe, mas se soma com a utilização dos efeitos especiais chegando ao auge com a elevação  de um barco com 35 pessoas até um disco voador, abrindo perspectivas para sua posterior continuação.
Um outro destaque para efeitos especiais fica para O Exterminador do Futuro, um filme de James Cameron, com desdobramentos seriais, que traz no elenco Arnold Shwarzenneger – que também interpretou Conan, o Bárbaro - ao lado de Michael Blehn e Linda HamIlton, numa película em que a maquiagem de Stan Winston aparece como um destaque ao lado naturalmente de uma profusão de efeitos especiais.
Em ambos os filmes o computador e a tecnologia digital aparecem como ferramentas de montagem e ate mesmo na apresentação dos letreiros, que seria sua ficha técnica.Em o Extreminador do Futuro os efeitos especiais encantam o espectador como por exemplo numa autocirurgia do ciborg exterminador, que chega até a sangrar em função dos ferimentos.
A própria resistência sobrehumana do Ciborg é outro efeito especial a ser observado, porque em arte tudo é valido e permitido. Vale lembrar que a função da arte em si mesma não é agradar ou entreter, nem ser simples, bonita ou rasteira, cabe a ela também problematizar e discutir questões éticas e morais, atraindo a atenção do espectador como sujeito  para mostrar problemas que se somam, se multiplicam e no campo da ficção ou que podem até mesmo ocorrer no dia a dia.

O Exterminador do Futuro nos reconduz ao debate da questão da relação entre o homem e a máquina bem como da máquina como extensão do homem. Também discute a criação de máquinas inteligentes, e que se sobrepõem naturalmente ao homem como Hall, em 2001  Odisséia do Espaço. É a criatura se contrapondo ao seu criador, numa revolução previsível, e que cabe aos autores de ficção levar o debate às últimas conseqüências, até porque também é uma das funções da arte a antecipação, prevendo o futuro, mesmo que este nunca aconteça. (Kleber Torres)

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