quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A História do Mundo







O humor é, sem dúvida alguma, a forma mais refinada de inteligência e desta forma Mel Brooks reescreve cinematograficamente com muita competência e irreverência a sua versão caricata da História do Mundo I, com sarcasmo, ironia e curtição. No filme,  ele faz  uma releitura da história com sinopses da Idade da Pedra, da revolução francesa, da Inquisição e do Império Romano, em sua glória e decadência.
O próprio Mel Brooks interpreta  alguns dos papéis principais em cada um dos capítulos do filme onde contracena com  Don de Louise e Harvey Korman, reescrevendo a história a seu modo com competência suficiente para recolocar no final Adolfo Hitler como um patinador e re(avaliar) ficcionalmente a conquista do espaço pelos judeus.
A obra de fôlego  é pretensiosa como sátira, redefinindo e reescrevendo a história do homem desde o Homo Sapiens e curtindo as invenções desde a descoberta do fogo, das armas e consequentemente da guerra, bem como os contatos ritualistas do homem com a morte e as suas descobertas primevas.
Um salto qualitativo no enredo está na sequencia do Império Romano, onde o freak Caesar Park e companhia aparece ao lado do maior cigarro de maconha já produzido na história do cinema e do mundo, o Big John, que derruba com  humor o espectador mais sisudo e careta. Afinal, como dizia Millôr Fernandes, o humor é a quintessência da seriedade e naturalmente do deboche.
A corrupção também é referenciada no decadente Império Romano, e também é transfigurada em imagens sutis e com muita propriedade por Mel Brooks, cineasta que tem a seu crédito filmes como Banzé no Oeste e Banzé na Russia, dentre outros, sempre como um critico arguto e que usa os recursos da metalinguagem. Assim, ele reproduz e reduz no cinema a linguagem do próprio cinema de forma questionadora e ao mesmo tempo bem humorada.
          No caso da sequencia da inquisição espanhola, Brooks a transforma numa opera rock muito louca, onde a caricatura da tortura assume a sua função desconstrutivista e Toequemada, o inquisdor mor, passou para o ridículo, que seria o seu papel real na história.
Mas a reescrevência  da história aparece como algo importante neste contexto critico e do humor, numa contraposição com uma aparente deturpação da realidade numa dialética  em que os vilões são heróis e as vitimas os bandido.  Assim, Brooks tem a felicidade de redefinir os papéis e de modificar o contexto  dos fatos, com piadas picantes e as vezes ingênuas, que em muitos casos podem até não serem entendidas pelo espectador menos culto, mais ingênuo ou desatento.         
Na revolução Francesa ele retoma o pique e goza dos reis, dos revolucionários, dos bastidores do poder e mergulha na critica da própria sociedade e das suas contradições, recompondo não a história e nem a estória, mas os dramas humanos embutidos por trás de duas questões básicas :a sobrevivência  e a dignidade. Neste sentido o filme aparece como um libelo contra governos autoritários e ditatoriais, o que também é uma tarefa do humor na luta contra os opressores de plantão.
Mel Brooks não é porem um humorista simplista, ele desce ao nível de analise e mergulha nas questões sociais subjacentes. Ele é um político ao seu modo, ou seja, com humor, mordacidade e irreverência, usando os recursos e atributos da inteligência. Também questiona como judeu o próprio humor judaico com ironia e sem esboços do intelectualismo.
Brooks vai a fundo na critica ao rock, às drogas, à sociedade de consumo e à hipocrisia e esboça o seu próprio quadro multifacetado da história em relação ao século XX, sabendo que o homem pós-moderno é o mesmo e que não mudou e nem tem chances para tal. Por isso mesmo a maior chance estaria no humor, no riso e talvez numa nova proposta anárquica decerto, pois parece que ele sabe que o destino do homem acima e antes de tudo é ser feliz e se preciso contestador.(Kleber Torres)

Ficha técnica:
Título: History of the World: Part I (Original)
Direção: Mel Brooks
Elenco: Cloris Leachman, Dom DeLuise, Gregory Hines, Harvey Korman, Madeline Kahn, Mel Brooks, Orson Welles
Roteiro: Mel Brooks
Duração       92 minutos

Ano : 1981

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