terça-feira, 28 de outubro de 2014

Uma onda entre a anomia e a alienação




Onde começa o autoritarismo e onde termina?  Quais os limites e onde está a essência do poder? O que  é alienação política, a anomia ou mesmo como nasce uma ideologia exótica ? Esta resposta está de certa forma evidente em  A Onda,  um filme alemão de 2008 dirigido por Dennis Gansel. O elenco é formado por Jürgen Vogel, Frederick Lau, Jennifer Ulrich e Max Riemelt, e o filme  serve como uma reflexão profunda para todos nós sobre a questão da manipulação de massas e o poder. 
O filme  é inspirado num livro homônimo lançado em 1981, por Todd Strasser e é o remake  de um filme americano com o mesmo nome, contando  uma história é baseada em fatos reais ocorridos em 1967, em uma escola secundária da Califórnia, nos Estados Unidos. Ele começa com o professor Rainer Wenger (Jürgen Vogel) se dirigindo no seu carro à escola onde leciona ouvindo a todo volume "Rock 'n Roll High School".
No colégio, que está promovendo uma série de cursos e debates voltados para o campo político, Rainer, que tem uma queda pelo anarquismo, faz sua opção pela oficina sobre autocracia, porque o professor do curso sobre anarquismo, recusou-se a trocar de assunto pelo qual ele simpatizava. O fato é que mesmo com uma classe formada por  alunos da terceira geração após a Segunda Guerra Mundial e de formações familiares diferentes,  Rainer inicia um experimento com o objetivo de mostrar o quão fácil é manipular as massas e informações para implantação de um sistema autoritário  e ao mesmo tempo irracional.
 O professor começa exigindo que todos os alunos se dirijam a ele como  Senhor Wenger (Herr Wenger), levantando o braço para qualquer interpelação em classe e dando respostas sintéticas  e objetivas aos seus questionamentos.O senhor Wenger também muda o posicionamento das carteiras na sala, de modo que todas elas fiquem de frente para ele e separa os alunos em função das notas, eliminando os pequenos grupos de interesse e fazendo ao mesmo tempo com que cada dupla de alunos por carteira, seja formada por um estudante com notas baixas e outro com melhor desempenho na classe.
Como forma de impor o novo modelo, ele  ensaia na sala com  alunos como uma marcha em perfeita sincronia rítmica entre eles, dizendo palavras de ordem e fazendo ao mesmo tempo com que se sintam parte de um todo. O ensaio  ganha tanta força, que chega a incomodar propositadamente aos alunos do curso anarquismo, na sala no piso inferior gerando reclamações do outro professor.  Já os alunos que não se ajustam ao novo grupo social e não se submetem ao novo sistema, são simplesmente discriminados ou alijados e acabam deixado o curso e a oficina.
Passo a passo, o Senhor Wengler discute com os alunos um nome para o movimento – a Onda, que ganha uma logomarca, a qual se transforma em  adesivo e objeto de pichações, além de uma forma de saudação com o braço movimentado lateralmente  de forma ondular  e até um uniforme, quando todos os alunos do grupo devem vestir uma camisa branca e calças jeans, para que não haja mais distinções entre os mesmos.  A ideia do uniforme é a de oferecer maior coesão social e integração do grupo, seprando-os dos demais.
De formação liberal, a aluna Mona (Amelie Kiefer), que desde o início mostrou-se relutante a fazer parte do experimento, alega que o uso de uniformes vai comprometer com a individualidade de cada estudante e, alijada do grupo, acaba  trocando de turma, passando a integrar a classe de anarquismo e a  trabalhar para contestar a  proposta da Onda.  O projeto também começa a ser objeto de comentários nas casas dos alunos que melhoram o seu aproveitamento e se sentem motivados com o novo sistema.
Quem também acaba sancionada pelo grupo é uma  outra aluna, Karo (Jennifer Ulrich), que vem à aula do dia seguinte sem o uniforme, e descobre ser a única a não aderir ao modelo. Ela não tem nem mesmo a palavra quando se dirige ao professor, que não a considera como participante do curso.
O fato é que gradualmente o grupo começa a mudar o seu  comportamento e até mesmo  o relacionamento com colegas de outras salas e de grupos antagônicos, como os anarquistas, que eram considerados os outros. Um integrante da Onde defende um colega que sofria bullying  por parte de anarquistas e chega a sacar um revólver para intimidar os seus antagonistas. Outro integrante do grupo escalou o prédio da prefeitura, o mais alto da cidade, para pichar um logo  da Onda na fachada do edifício.
Outro integrante, o Tim, filho de uma família desestruturada,  queima todas as suas roupas de marca e vai à casa do senhor  Wangler, a quem se oferece para ser seu guarda-costas. O professor o convida para jantar, e deixa evidente que  não precisa deste tipo proteção, mas a sua mulher Anke (Christiane Paul), que também é  professora na mesma escola, começa a questionar o  experimento e a sua dimensão, mas a sua sugestão acaba gerando um rompimento entre o casal, que acaba se separando, quando Reiner considera que ela tem inveja do seu projeto.
Enquanto cresce o movimento de oposição à Onda liderado por duas alunas,  Karo e Mona, um jogo de polo aquático, da equipe é liderada pelo Senhor Wengler, acaba numa briga entre os atletas o que provoca  a suspensão e o cancelamento da partida. Ao mesmo tempo, os integrantes  d'A Onda começam uma briga nas arquibancadas com torcedores do time rival, momento em que   Karo e Mona, inicialmente  impedidas de entrar no local sem a farda branca,  aproveitam a confusão e espalham panfletos anti-Onda no meio das torcidas.
Em seguida, Marco discute com a namorada Karo e acaba agredindo-a, acertando um golpe  no rosto e que provoca sangramento. Em seguida, arrependido,  ele vai até a casa do senhor Wangler,  e pede que ele acabe com A Onda. O professor resolve então  convocar uma assembléia com os alunos no auditório da escola para uma avaliação dos resultados.
Durante o  encontro, ele pede que as portas sejam trancadas  e lê uma série de depoimentos dos alunos com referência às  suas atuações e expectativas  do grupo e até mesmo enaltecendo as chances que o movimento teria de mudar os rumos da Alemanha. Um aluno protesta, e o professor o acusa de traição, pedindo que os membros o tragam para o palco para ser punido.
Em seguida, o professor  fez com que os alunos percebessem a dimensão da  Onda e o quanto os mesmos foram  sendo manipulados pela ideia, embora  acreditando no início da experiência que um regime como o Nazismo jamais poderia voltar a dominar a Alemanha novamente do século XXI. Ele então declara o fim d'A Onda, mas um dos alunos, Tim saca um revólver e se recusa a aceitar que o grupo acabou, com medo de voltar a ser sozinho e mais um na multidão, atirando em direção a um colega e se suicidando em seguida na frente dos demais alunos.
O filme termina com a prisão do professor que é levado numa  viatura, enquanto os demais  alunos, seus respectivos pais,  os professores e até sua mulher o observam.  Em essência o filme discute duas questões a alienação e  anomia social, com a perda da essência de valores e a desorganização do indivíduo,  mostrando que o autoritarismo não está morto e afeta até países do primeiro mundo. Vale salientar, que na história real, que se passou nos Estados Unidos há quatro décadas, o desfecho foi menos trágico, pois,  um aluno perdeu a mão ao tentar preparar um coquetel molotov, ao fabricar uma bomba com uma garrafa cheia de gasolina.
Vale frisar que a  Onda é o terceiro filme de Dennis Gansel, nascido em Hannover, Alemanha, em 1973. Ele também dirigiu Garotas procuram... (Mädchen, mädchen, 2001) e  Napola, antes da queda (Napola, Elite für den Führer, 2004). Em 2010, ele As Damas da Noite (We are the Nigth). (Kleber Torres - do livro Princípios das Ideias) 

Ficha Técnica:
Titulo :A Onda  / Die Welle
Direção: Dennis Gansel
Roteiro: Dennis Gansel ePeter Thorwarth
Elenco: Jürgen Vogel, Frederick Lau, Max Riemelt, Jennifer Ulrich, Jacob Matschenz
Gênero: Drama
Música:  Heiko Maile
Alemanha

2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário