A
contracultura não morreu e uma prova está em Magnicídio (Jubilee), de Derek Jarman, considerado o primeiro filme punk da
história do cinema. O enredo é uma
mistura de vídeo clip e documentário, uma fantasia muito elogiada pelo jornal
Variety, reunindo no elenco Adam Ant, Jenny Runacre. Toyah Wilcox e Little
Nell.
O
filme é em si mesmo uma parábola sobre o poder, as relações no seu entorno e
suas transversais, bem como sobre a arte, a vida e a morte, sob a ótica visual
dos punks e darks num universo caótico e violento no qual a morte se mistura
com a vida e com o amor. O filme também transpira humor negro e antagonisticamente, poesia.
Ele
pode ser visto e compreendido a partir de vários planos, como por exemplo a partir das
pesquisas esotéricas de uma rainha inglesa, que salta no tempo orientada por um
mago e prevê não apenas o seu próprio assassinato, mas o mundo caótico no futuro,
onde prevalece o absurdo em todos os níveis. Há a prevalência do non sense e da
irreverência para retratar um sistema corroído e anárquico na sua essência.
A própria
policia não combate à violência, mas pelo contrário, participa ativamente da
sua promoção através do abuso do poder e do autoritarismo, inclusive assistindo
passivamente aos atentados ou participando dos mesmos como se fosse uma gang
motorizada. A polícia também promove
atentados e a desordem, mesmo envolvida numa guerra dura e sem quartel com
outros marginais.
Em
contrapartida ao poder da rainha, se sobrepõe uma nova elite, sem origem
nobiliárquica, mas comandada por um misterioso personagem, Borgia Ging, que
consegue com sua máquina multimídia e em escala industrial, a produção de
shows, discos, filmes e vídeos, colocando no mercado russo nada menos que 15
milhões de exemplares em apenas três dias.
Com
a cultura punk o comunismo implode e dá
lugar a uma sociedade que discrimina negros, homossexuais e ao mesmo tempo é permissiva
com o tráfico e o uso de drogas, mas que valoriza o luxo e o glamour dos
grandes limousines com vidro fumê,
motoristas fardados e tudo o mais a representação física do poder e sua
essência.
Em
termos metafóricos, Borgia seria talvez uma alusão aos Borgia italianos da
idade media que imperaram e corromperam a Itália renascentista, representando o
poder em todas as suas dimensões. No filme. ele controla a tudo e a todos,
desde a NBC, a ITV, NTV, KGB e o C do E,
porque “para mim tiveram de reformular o alfabeto’, o que é normal num mundo
que prescinde da arte, do trabalho e
onde a violência se transforma numa
rotina. O filme é uma distopia cinematográfica e que pode ser digerida a cores,
no que seria uma dissecação da vida urbana pós-moderna..
Vale
salientar que a maioria das musicas da trilha sonora do filme é de Brian Eno,
com apoio dos grupos Chelsea (Right to Work), Siouxsie e The Banshees (Love in
a void) e Zuze Pims, interpretando Rule Britannia, que pode ser visto e compreendido
em parte ou totalmente com um anárquico hino punk.(Kleber Torres)
Ficha técnica:
Direção:
Derek Jarman
Roteiro:
Derek Jarman
Elenco : Adam Ant, Jenny Runacre, Nell Campbell,
Little Nell, Toyah Willcox, Hermine
Demorian e Ian Charleson
Gênero:
Drama/Música/Terror
Origem:
Reino Unido
Duração:
100 minutos
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