terça-feira, 7 de outubro de 2014

Magnicídio






A contracultura não morreu e uma prova está em Magnicídio (Jubilee), de Derek  Jarman, considerado o primeiro filme punk da história do cinema. O enredo é  uma mistura de vídeo clip e documentário, uma fantasia muito elogiada pelo jornal Variety, reunindo no elenco Adam Ant, Jenny Runacre. Toyah Wilcox e Little Nell.
O filme é em si mesmo uma parábola sobre o poder, as relações no seu entorno e suas transversais, bem como sobre a arte, a vida e a morte, sob a ótica visual dos punks e darks num universo caótico e violento no qual a morte se mistura com a vida e com o amor. O filme também transpira humor negro  e antagonisticamente, poesia.
Ele pode ser visto e compreendido a partir de vários  planos, como por exemplo a partir das pesquisas esotéricas de uma rainha inglesa, que salta no tempo orientada por um mago e prevê não apenas o seu próprio assassinato, mas o mundo caótico no futuro, onde prevalece o absurdo em todos os níveis. Há a prevalência do non sense e da irreverência para retratar um sistema corroído e anárquico na sua essência.
A própria policia não combate à violência, mas pelo contrário, participa ativamente da sua promoção através do abuso do poder e do autoritarismo, inclusive assistindo passivamente aos atentados ou participando dos mesmos como se fosse uma gang motorizada. A polícia também  promove atentados e a desordem, mesmo envolvida numa guerra dura e sem quartel com outros marginais.
Em contrapartida ao poder da rainha, se sobrepõe uma nova elite, sem origem nobiliárquica, mas comandada por um misterioso personagem, Borgia Ging, que consegue com sua máquina multimídia e em escala industrial, a produção de shows, discos, filmes e vídeos, colocando no mercado russo nada menos que 15 milhões de exemplares em apenas três dias.
Com a cultura punk o comunismo  implode e dá lugar a uma sociedade que discrimina negros, homossexuais e ao mesmo tempo é permissiva com o tráfico e o uso de drogas, mas que valoriza o luxo e o glamour dos grandes limousines  com vidro fumê, motoristas fardados e tudo o mais a representação física do poder e sua essência.
Em termos metafóricos, Borgia seria talvez uma alusão aos Borgia italianos da idade media que imperaram e corromperam a Itália renascentista, representando o poder em todas as suas dimensões. No filme. ele controla a tudo e a todos, desde a NBC, a ITV, NTV, KGB  e o C do E, porque “para mim tiveram de reformular o alfabeto’, o que é normal num mundo que  prescinde da arte, do trabalho e onde a violência se transforma  numa rotina. O filme é uma distopia cinematográfica e que pode ser digerida a cores, no que seria uma dissecação da vida urbana pós-moderna..        
Vale salientar que a maioria das musicas da trilha sonora do filme é de Brian Eno, com apoio dos grupos Chelsea (Right to Work), Siouxsie e The Banshees (Love in a void) e Zuze Pims, interpretando Rule Britannia, que pode ser visto e compreendido em parte ou totalmente com um anárquico hino punk.(Kleber Torres)

Ficha técnica:
Direção: Derek Jarman
Roteiro: Derek Jarman
Elenco : Adam Ant, Jenny Runacre, Nell Campbell, Little Nell, Toyah Willcox,  Hermine Demorian e Ian Charleson
Gênero: Drama/Música/Terror
Origem: Reino Unido
Duração: 100 minutos

          

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