A morte
precoce e até de certa forma antecipada de Rainer Werner Fassibinder não impediu
que ele trilhasse os caminhos da genialidade e uma prova está no filme “O casamento
de Maria Braun”. A película é considerada como uma metáfora e ao mesmo tempo
uma sátira a partir da análise de que a arte esta embutida no real e na sua própria
critica.
O
filme reúne no elenco Hanna Schygulla, no papel de Maria Braun, uma mulher que
se casa durante a guerra e tem uma convivência de apenas um dia com o marido
Hermamn Brauns, interpretado por Kaus Lowitsch, para construir a partir de uma
trama simples, uma história que culmina numa tragédia a dois. O filme também revela
a inutilidade e o absurdo da guerra, com seu reflexo na vida das pessoas.
Como
soldado do exército alemão Hermann Braun é deslocado para a frente russa de combate. Como ele não retornou após
o final da guerra, sua mulher se prostitui, o que seria uma alternativa de
sobrevivência num tempo de dificuldades e de fome generalizada num pais
devastado pelo pelos bombardeios aliados.
Para
sobreviver, Maria passa a freqüentar um bar que tem como principais clientes os
soldados americanos da força de ocupação e onde o acesso de alemães do sexo
masculino não é sequer permitido. Ela acaba tendo um caso com um soldado
americano negro, o qual termina morto pelo seu marido, o qual retorna à
Alemanha depois de cair prisioneiro dos russos na frente soviética e não havia
morrido como ela imaginava.
O
crime afastou o casal mais uma vez. Com Hermann preso e sem condições de manter
a família, coube à sua mulher assumir o sustento pessoal e assim, consegue um
trabalho com Osvald (Ivan Desny), um empresário a quem com sua experiência
de ex-prostituta, acaba ajudando a
superar as dificuldades enfrentadas nos negócios.
Com
Osvald, ela também mantém um caso, o que acaba chegando ao conhecimento do seu
marido. Ela por seu turno, vai assumindo o comando dos negócios e se transforma
numa empresária, adquirindo bens, inclusive uma casa de campo onde passa a
viver isolada como uma rica executiva. Hermann
depois de solto da prisão, viaja para o Canadá, onde foi tentar a sua
sorte, porque não queria depender da mulher.
Quando
ele retorna à Alemanha, encontra em Maria Braun uma mulher emancipada,
inteiramente independente e liberada, que para fugir da solidão contrata
parceiros sexuais. Osvald morre de
ataque cardíaco e acaba legando sua fortuna para o casal Hermann e Maria , que
se reencontra de forma dúbia e trágica,
para a vida e para a morte, pois, não tiveram a sorte e o tempo para serem
felizes.
Essa
história aparentemente simples e que poderia terminar com um final feliz, ganha
força e dramaticidade , porque por atrás de Maria Braun estavam a lucidez e a
loucura, embora não haja loucura nenhuma menor que a guerra e a prevalência da
morte. Assim, no filme Tanatos brincava com Eros numa sequência ilógica de
fatos, numa espécie de jogo de esconde-esconde e que revela profundamente o
perfil e contornos da alma humana, onde estavam de plantão e em vigor a
falsidade se contrapondo ao amor.
O
filme consegue segurar o espectador por 118 minutos sem pieguice e narrando uma
história verossimil, que poderia ter acontecido na primeira, na segunda ou numa
próxima guerra, afinal nos revela caminhos que são aparentemente convergentes,
acima do real ou do irreal e da lógica.
Ficha
técnica:
Titulo:
O Casamento de Maria Braun / Die Ehe Der Maria Braun
Direção: Rainer Werner Fassbinder
Elenco: Gisela Uhlen, Gottfried John, Hanna Schygulla,
Ivan Desny, Klaus Löwitsch
Género:
Drama
ALE,
1978,
Duração:
118 min.
“
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