quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O outro lado da história oficial




Laureado com o Oscar 1986 de melhor filme estrangeiro, e por prêmios em diversos festivais  internacionais de cinema em Cannes, Toronto e Cartagena, o filme História Oficial (The Official Story) traça um retrato em preto e branco sobre a ditadura militar que dominou a Argentina, deixando um saldo de 30 mil mortos pela repressão policial, uma economia em ruínas e uma fragorosa derrota na Guerra das Malvinas, em que custou a vida de milhares de jovens recrutas num confronto com a Inglaterra.
O filme dirigido por Luis Puenzo, que também cuidou da elaboração do roteiro, narra, sempre em linguagem direta e objetiva, a história de uma família de classe média que adota uma criança Gaby, que teve seus pais assassinados  pelo sistema repressivo e acabou sendo adotada por um casal sem filhos, com bom nível social e considerado integrado ao sistema.
Tudo gira em torno das investigações iniciadas pela mãe adotiva da criança, Alicia, uma professora de história que ensinava no curso médio,  e em uma escola para estudantes de famílias abastadas com alto padrão de renda.  Se na escola ela era posta em cheque pelos alunos que contestavam a própria história oficial e o regime militar vigente na Argentina, em casa,  vivia um drama pessoal.
Pesava a suspeita sobre a criança trazida pelo marido, um executivo em ascensão e com ligações com a máquina de repressão política e social, fortalecidas por uma série de indícios, e que se confirmam após os seus primeiros contatos com as mulheres da Plaza de Mayo, que montaram uma central de informações e um centro de pesquisas  para localizar familiares dos desaparecidos  e crianças tomadas dos seus pais pela policia para adoção por profissionais  liberais e mesmo por agentes policiais, que se encarregariam de dar uma educação integrada ao sistema  e de acordo com as regras do jogo político vigente para estes jovens filhos de dissidentes do regime.
No filme tudo é verossímil. O elenco reúne nomes como os de Hector Alterio, Norma alleandro, Hugo Arana, Guillermo Battaglia, Chela Ruiz e Patricio Contreras,  com um excelente desempenho dramático e conseguindo revelar com realismo o drama de um povo submetido a uma das mais sangrentas ditaduras, que não apenas determinava as regras do jogo do poder e da vida, como também interferia como todas as ditaduras de direita e de esquerda na própria falsificação da história,  fazendo da mentira a verdade,  ou até mesmo colocando potenciais assassinos como fabricantes da história.
Historia Oficial é um filme importante, porque recompõe como se fosse um documentário, os bastidores de um drama humano e real, demonstrando que a arte pode servir de instrumento de denuncia sem precisar cair na roda viva do panfleto e da mera oposição política pela oposição.  O drama vivido pelos personagens é universal e isto é que resultou na conquista de prêmios internacionais, além  de um espaço definitivo para o cinema argentino no caminho da maturidade.
Vale salientar que entre as mais de 500 crianças afastadas de suas famílias durante a ditadura na Argentina, cerca de 120, o equivalente  25% haviam sido   localizadas até 2014 pelas avós da Praça de Maio, que permanecem em sua vigília até os dias de hoje.(Kleber Torres)


Ficha Técnica

Título original: La Historia Oficial
Direção: Luis Puenzo
Elenco: Hector Alterio, Norma alleandro, Hugo Arana, Guillermo Battaglia, Chela Ruiz e Patricio Contreras, 
Gênero: Drama
Ano de Lançamento (Argentina): 1985

Duração: 112 min

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