quinta-feira, 7 de julho de 2016

Isabela Rossellini uma lição sobre a vida e a liberdade na maturidade







 “Isabella Rossellini, Além do Cinema”  exibido no ‎Arte1Documenta e que em inglês recebeu o título “My Wild Life’, revela a vida da atriz, modelo e cineasta Isabella Rossellini, uma das mulheres mais belas da história do cinema, filha da atriz sueca Ingrid Bergman com o cineasta italiano Roberto Rossellini. No documentário produzido em 2010, ela fala sobre sua própria vida e mergulha numa revisão da sua história pessoal e  obra, abordando questões como ativismo político, casamento, separação, relacionamento com os filhos, bem como sobre o envelhecimento, a maturidade e a sexualidade.
Ela começa narrando sobre a sua infância repleta de viagens e descobertas, bem como a separação dos pais e a vida em um hotel. O filme tem como cenários Roma, Paris e Nova York, bem como uma propriedade rural onde viveu com seu segundo marido David Lynch, de quem está separada há anos, mas os dois continuam amigos e se falam.
A atriz e cineasta também fala do seu casamento com Martin Scorsese, a quem conheceu em Nova York como correspondente internacional de um programa Domingo Diferente, que fazia juntamente com Renzo Arbore e Roberto Benigni, exibido na Itália. Neste trabalho ela também entrevistou celebridades Mahomed Ali, Barbra Streisand  e Woody Allen.
Ela fala de sexo com liberalidade e o colocou inclusive como tema num outro filme com a sua assinatura Green Porno (Pornô Verde), em que personagens como um camarão e uma abelha ou insetos questionam o machismo e  a sexualidade. Também visita a Instituto de Biologia Marinha para ver a reprodução do ouriço do mar e conta que ainda se sente confusa com relação à sexualidade e os tabus culturais de quem nasceu nos anos 50 do século passado:  “para quem a sexualidade era muito complicada”.
Uma parte do filme é dedicada ao pai Roberto Rosellini, que morreu quando ela tinha 24 anos, uma época de transição na sua vida, cuja fase mais difícil foi o período entre os 18 e os 26 anos quando lutava para sair do casulo e conquistar a própria liberdade.
Ela fala ainda do filme “Meu pai tem 100 anos” de Guy Maddin, rodado em 2005, sobre Roberto Rossellinio  onde fala dos três fatores que motivaram a sua vida o medo, o desejo e a necessidade de conhecer. Também fala da relação do pai com  a Nouvelle Vague e seus filmes – Europa 51, Romance na Itália, Roma, Cidade Aberta  e Stronboli -que ficaram esquecidos e sem seguidores, mesmo com enredos trabalhados, com um enquadramento simples e objetivo. O trabalho do cineasta também não foi bem recebido e nem reconhecido pela crítica cinematográfica.
Em Meu pai tem 100 anos há um depoimento de Ingrid Bergmamm falando da sua relação com Rossellini, um homem  forte e que a encorajou para a vida, mas também fala da separação do casal.
Benigni e Arbore têm participação em “Isabella Rossellini – Além do Cinema”, onde falam sobre a carreira da atriz e cineasta, destacando a sua competência e beleza.  Ela conta que vai pouco à Italia, país onde uma mãe solteira não pode adotar uma criança e ela havia adotado um filho, Roberto, de origem africana, o  que seria criminalizado pela lei italiana, que considera um pais machista e onde a mulher se define por quem se casa ou com quem transa.
Mas mesmo assim, ela sente falta do convívio com amigos e familiares italianos, com quem se reúne em restaurantes quando viaja sozinha para Roma, que faz parte do cenário do documentário, dizendo: “sinto falta da beleza, das amizades e dos jantares, afinal estamos aqui para aproveitar a vida”.
Ela também fala do sucesso da filha que tem sido capa e objeto de reportagens de revistas de moda, numa profissão que como a de atriz exige graça, elegância e muita emoção. Também lembra que aos 40 anos fez um filme publicitário que ganhou repercussão ao divulgar um creme contra envelhecimento, uma coisa ligada à sociedade de consumo.
Isabelle Rossellini também fala de uma ponta que fez no filme Questão de tempo, de Vicent Minelli, em 1976, onde contracena como uma jovem noviça, ao lado da mãe Ingrid Bergmann, que fazia o papel de uma condessa que morre. O filme valeu para ela por ter podido passar mais um dia em companhia da mãe hoje falecida.
Ela comenta ainda sobre sua participação no cult movie “Veludo Azul”, de David Lynch, em 1986 e que apesar de ser um filme de certa forma violento, se sentiu confortável, pois usou a experiência de uma agressão que sofrera de um namorado na adolescência para uma das cenas onde contracenou com Kyle MacLachlan e com Dennis Hooper, que faz o papel de um  psicopata enlouquecido.
Conta ainda que a cena em que fica nua numa rua no mesmo filme, foi vista por David Lynch na vida real e que a colocou no filme. Na interpretação, ela conta que assumiu o mesmo gestual de uma menina que teve as roupas e o corpo queimado  por uma bomba napalm na guerra do Vietnã, ficando com os braços abertos e estendidos de forma lateral, uma imagem muda do medo, do desespero e da dor.

Ela fala da separação como um momento difícil. A de Scorsese  ocorreu porque ela descobriu que ele amava mais o cinema do que qualquer outra coisa na vida e a de David Lynch foi de certa forma mais dolorosa, porque a decisão partiu dele, mas hoje, os dois são amigos fraternos. O filme também traz uma lição importante de que a leveza e a liberdade podem ser atingidas na maturidade, quando as pessoas ficam parecidas com as borboletas.(Kleber Torres)

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