domingo, 17 de julho de 2016

Um filme muito além da marginalidade, da morte ou da loucura





A decadência, a vida, a loucura  e a morte estão presentes em Ironweed, um filme denso e pesado de Hector Babenco, baseado  roteiro de William Kennedy Albany,  a partir de um livro escrito  em 1938 e tendo como referência a grande depressão que afetou  a economia americana e consequentemente mundial, com a marginalização de milhões de desempregados, afetados pela desagregação familiar, desemprego  e pelo alcoolismo . O elenco conta com a competência  de Jack Nicholson, que interpreta   Francis Phelan, um homem atormentado por fantasmas do passado e nos limites da loucura e de Helen Archer, uma mulher de origem burguesa, que acaba marginalizada até  mesmo pela própria familia que lhe sonega até os direitos à herança.
Os dois interpretam um casal de alcoólatras que vive junto há nove anos,  num mundo de fantasia para sobreviver às lembranças e tragédias do passado à base de álcool e diálogos densos.  Francis convive o drama de ter sido o responsável pela morte do próprio filho recém-nascido, ao deixá-lo cair no chão 22 anos antes, enquanto Helen vive das lembranças de ter sido uma celebridade como  cantora e pianista, que acabou esquecida jogadas nas ruas, com algumas malas com pertences restantes  do tempo de glória e um gramofone .
Ele fala da sua tragédia na relação com as pessoas e com o mundo, resignando-se com a condição de mendigo e tem como parceiro um amigo bêbado, que aparece bem vestido com as roupas que recebeu num hospital depois de diagnosticado com câncer, quando o médico lhe deu mais seis meses de vida indiferente à sua condição, pois bebendo ou não  ele iria morrer de qualquer forma.  O câncer foi a única coisa concreta que o bêbado conseguira em vida.
Enquanto  Francis tenta sem sucesso  voltar à realidade,  assombrado por fantasmas com quem conviveu ao longo da vida, inclusive das lembranças com ex-jogador de beisebol  e conseguir um emprego para dar um pouco de conforto à companheira Helen, já muito doente e enfraquecida, ela reúne as últimas economias, cerca de 12 dólares  e se hospeda num hotel. Ali, ela  acaba morrendo e é encontrada sem vida pelo companheiro, que cansado de tragédias não se abate com a sua morte e retoma o seu mundo de marginalização embarcando sem destino num trem que o levará a qualquer lugar com suas lembranças amargas e restos de passado.
Hector Babenco, trata, o filme com  lentidão  e  a tensão dos dramas humanos dos outlaws sem comida, sem teto e expostos aos rigores do frio, expondo personagens como Francis Phelan, uma espécie de anti-herói  e  vagabundo, que junta algum dinheiro e tenta voltar ao lar que abandonou trazendo um peru de pouco mais de seis quilos. Numa cena antológica Meryl Streep canta um bar uma canção no bar, mas recebe poucos aplausos.
Como resultado filme recebeu duas indicações para o Oscar 1988 (EUA) nas categorias de Melhor Ator (Jack Nicholson) e Melhor Atriz (Meryl Streep) e recebeu indicação para o Globo de Ouro do mesmo ano também  nos Estados Unidos para Jack Nicholson) como melhor ator. Ironweed também competiu no Festival de Moscou em 1989, na Rússia e valeu a indicação de Héctor Babenco, que morreu recentemente, ao prêmio Golden St. George, da New York Film Critics Circle Awards. (KLEBER TORRES)

Ficha Técnica
Ironweed (Estranhos na Mesma Cidade) (PT)
Direção - Hector Babenco
Roteiro -William Kennedy
Elenco   - Jack Nicholson, Meryl Streep, Carroll Baker, Michael O'Keefe
Gênero -              drama
 Estados Unidos
1987
 cor

 143 min 

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