sábado, 5 de setembro de 2020

A magia caótica do Ted Bundy das finanças

 



 

Comparado metaforicamente com o Ted Bandy  (Theodore Robert Bundy um notório assassino em série americano que sequestrou, estuprou e matou 36 mulheres jovens na década de 1970, mas as autoridades acreditam que o número de assassinatos seja superior a 100 mortes), o que nunca aceitou, o empresário Bernie Madoff, ex-presidente e fundador da Nasdaq,  foi o pivô central de um rombo de US$ 100 bilhões no mercado financeiro americano, o que provocou uma espécie de terremoto com dimensões globais. A quebrada pirâmide  deixou milionários empobrecidos, provocou mortes e suicídios.

 

O filme The Wizard of Lies (O Mago das Mentiras) parte da premissa de uma entrevista do Bernie Madoff (Robert de Niro), à jornalista Diana Henriques, sobre a quebra de um fundo dirigido pelo empresário, que operou por décadas uma espécie de pirâmide no mercado financeiro. O golpe foi desmascarado pelo consultor financeiro Henry Marko Polo, ao analisar o gráfico da  performance do fundo, que  tinha uma direção única, sempre para cima, sem nenhuma variação uma tendência que fugia à lógica do sistema financeiro e das bolsas.

 

Ele apontou as evidências de irregularidades para a SEC (U.S. Securities and Exchange Commission) do mercado americano, que se omitiu e não investigou a denúncia  e nem ao Depository Trust & Clearing Corporation ( DTCC ) que monitora a pós-negociação dos serviços financeiros, a compensação e liquidação para os mercados. Madoff, num rasgo de arrependimento diz no filme que preferiria que o mundo acabasse, lembrando como exemplo o atentado do 11 de setembro, que deixou a Wall Strret num alerta vermelho.

 

A fraude era conhecida do operador de Madoff, que ocupava um andar na sede da sua empresa, com acesso restrito até aos  funcionários  e familiares, mas que vinha fazendo água com frequentes retiradas de clientes com saques crescentes nos seus saldos. Ele chegou a pedir um aporte de mais de US$ 250 milhões a um investidor que tinha mais de US$ 300 milhões aplicados no fundo piramidal.

 

Na entrevista, Madoff diz que chegou a cogitar em suicídio, porque achava que ele que foi venerado no mercado, e agora, era  odiado por todos. Comparou a quebra da sua empresa com a segunda feira negra de 19 de outubro de 1987, quando as bolsas sofreram uma queda de 22,6% somente comparável com a quebra da bolsa em 1929. Entre as suas vitimas estavam uma mulher lembrando que era milionária e ficou pobre, um outro cliente se suicídou e uma viúva cliente do fundo acreditava que Madoff iria cuidar de tudo. Mesmo na crise, o financista rejeitou um investimento de R$ 100 milhões de um cliente potencial, mas pediu ao mesmo US$ 400 milhões, sabendo segundo o seu operador, que a m* toda já estava no ventilador.

 

A quebra do fundo encerra um histórico de mais de 20 anos de fraudes contábeis. Em casa, Madoff nervoso, discute com a neta de oito anos, que lhe fez uma pergunta sobre a Wall Street. Um dos seus filhos descobre que o seu pai, o homem que lhe orientou e ensinou sobre o certo e o errado, era um criminoso, dizendo que queria a sua vida de volta.

 

A mulher Ruth divaga lembrando que Bernie Madoff  era a sua vida e a memória de uma vida inteira, que viu passar confortável e luxuosamente. Madoff, por seu turno, assume ao ser detido culpa pela fraude de segurança, em companhia de investimento e  e-mail, assumindo tudo como culpado em todos os quesitos.

 

Como ele se declarou culpado de todos os crimes, não teve mais direito à presunção de inocência. Como ele tinha condições de fugir e dinheiro em caixa, sua liberdade foi revogada e Bernie Madoff transferido para uma prisão de segurança máxima. No presídio,  a mulher conta que na tentativa de recuperar os ativos, os agentes do governo queriam leiloar até as suas roupas íntimas e que em função das dificuldades vai morar com uma irmã, que também perdeu tudo investindo com o seu marido : “estou me sentindo uma idiota”, confessa a mulher ao refletir sobre o esquema ponzi,  que era

a pirâmide engendrada por Madoff.

 

Em sua casa, após o escândalo, as coisas também não iam tão bem ao ser perguntada por uma visita se estava tudo bem Ruth Madoff (Michelle Pfeiffer) respondeu laconicamente : “já esteve melhor”. Ela também teve o atendimento rejeitado pelo cabeleireiro cinco estrelas que frequentava e confessou ter se arrependido de não ter feito nada na vida:”minha vida é só arrependimento, arrependimento e arrependimento”, lamentou, Ela também preservou suas joias, única coisa de valor que a ação do governo não confiscou.

 

No filme, que tem o sabor de um documentário, estão incluídos depoimentos das vítimas e nele, Bernie Madoff  divulga uma carta pedindo perdão aos investidores lesados, mas acaba condenado a 150 anos de prisão, o equivalente a 1.800 meses de cadeia. No tribunal, o público aplaudiu, mas um investidor deixou uma pergunta pairando no ar: “e o meu dinheiro?” Um repórter que cobria o caso também questionou o que aconteceria se Madoff tivesse morrido.

 

Na ação visando a reparação das perdas e a recuperação dos ativos, ficou definido o leilão de todos os bens da família e da empresa corretora de valores, entre os quais uma casa de praia de USn$ 9 milhões, além de uma cobertura em Manhatthan, no valor de US$ 8 milhões. As ações incluíram uma outra casa de praia em Palm Beach, de US$ 7,2 milhões, além de um Mercedes Benz, iates, lanchas e objetos domésticos. Também foram recuperados US$ 1,5 bilhão nas contas bancárias da empresa fraudadora.

 

Ruth Madoff foi condenada a devolver US$ 44 milhões os filhos Mark e Andrew outros US$ 127 milhões. Mark pratica suicídio depois de mandar uma mensagem para a mulher. Andrew, que faz tratamento de um câncer acaba morrendo em setembro de 2014, e diz num depoimento pessoal,:que é difícil contar a sua história e da família quando há milhares de vitimas, “já omeu pai morreu para mim”.  

 

Madoff, que não se considerava um sociopata,  ficou irritado na prisão quando um jornalista o comparou e Ted Bundy, “isso acontece porque a mídia me transformou no vilão da Wall Street.” Já a história do psicopata assassino ao qual foi comprado, também chegou às telas do cinema no filme Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile (A Irresistível face do Mal), em 2019, no final, os dois são filmes são sucesso de público e de muita polêmica, mostrando a vida multifacetada de personagens que pairam  acima do bem e do mal. (Kleber Torres)

Ficha técnica

Título : The Wizard of Lies (O Mago das Mentiras)

Direção : Barry Levinson

Roteiro : Sam Levinson, John Burnham e Samuel Baum

Elenco : Robert de Niro, Diana B. Henriques,  Nathan Darrow, Alessandro Nivola, Mechael Kostroff, Kathrine Narducci, Michelle Pfeiffer, Steve Coulter, David Lipman, Kelly Au Coin e Don Castro

Fotografia :  Elgil Bryld

Música : Evgueni e Sacha Galperini

2017

1 h 33 minutos

 

 


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