O canal Arte 1 exibiu o documentário "O Inferno de Botticelli", que resgata a história de Sandro Felipepi (1445/1510), um dos mais expressivos artistas da Renascença um período compreendido entre meados do século XIV e o fim do século XVI, que ficou conhecido com Sandro Botticelli. O filme trata de um dos seus projetos mais importantes e que ocupou dez dos seus 65 anos de vida: a criteriosa ilustração da Divina Comédia, uma obra prima do escritor Dante Alihgieri, um poema épico sobre uma visita do escritor ao Inferno, Purgatório e Paraíso.
Cada parte da obra é dividida didaticamente em 33 cantos, com mais um a título de introdução, somando 100 cantos, número que significaria a perfeição da perfeição fechando um ciclo completo. Além do próprio Dante, que é um dos personagens centrais da obra, outros três têm participação decisiva nesta viagem entre os quais o poeta Virgílio, guiando a visita ao inferno e purgatório; Beatriz –a musa do autor – orientando uma viagem ao paraíso terrestre e São Bernardo, guiando a peregrinação nas esferas celestes.
Inferno revela curiosidades sobre
o processo criativo e os elementos que compõem as imagens de Botticelli, cujos
registros estão divididos entre a biblioteca do Vaticano e o Museu de Berlim,
na Alemanha. O filme nos leva a uma instigante viagem aos
nove círculos do inferno para revelar os segredos de uma obra de arte que intrigou
muitos artistas e intelectuais, como Ron Howard e Dan Brown, que escreveu um
romance sobre o inferno, uma metáfora do nosso tempo, tendo
como pano de fundo questões como a superpopulação da terra, transumanismo e o
risco de uma epidemia global ou de um escatológico ataque de terrorismo
biológico.
No inferno de Dante e que foi retratado por
Boticelli, os lugares mais sombrios são reservados
àqueles que se mantiverem neutros em tempo de crise moral, o que também vale
para os nossos dias. O filme revela ainda, que por trás dos muros do Vaticano
está um mundo de segredos, inclusive com a preservação parte do acervo do Mapa do Inferno de
Boticelli, que escapa com suas cores e formas ao limitado olhar humano
suscetível de ilusões ou enganos.
Botticelli nos leva também a uma reflexão
sobre a visão do tempo e espaço, numa obra que permanece atual em termos
estéticos e que enriquece a Divina Comédia de Dante Alighieri, mostrando as
faces da beleza, da tristeza e o sofrimento dos danados. O próprio Botticelli
admitia que era um artista e tinha um olhar mais acurado e penetrante que as
pessoas comuns para completar: “dei a arte o meu esboço da eternidade,
oferecendo uma percepção da perdição e da danação infernais.”
O filme fala dos 120 pergaminhos -10 dos quais considerados perdidos até agora
e que podem estar em mãos de algum colecionador - do artista plástico numa
sequencia que percorre a longa jornada dos nove círculos do inferno, passando pelo
limbo dos não batizados (Pagãos), pelo Vale dos Ventos (Luxúria), pelo Lago de
Lama (Gula), pela Colinas Rochosas (Ganância), o Rio Estige (Ira), o Dite
(Dis), Cemitério de Fogo (Heresia), Vale do Flegatonte (Violência), o Malebolge
(Fraude) e o nono circulo, sobre o Lago do Cocite (Traição), considerado o mais
grave dos pecados dantescos.
Outra
proposta do filme dirigido e roteirizado por Ralph Loop, é que não se sabe se existe um fim para as coisas e talvez
haja uma transição para uma outra realidade, mesmo com o resgate de uma das
obras mais importantes da Renascença, como o trabalho de Botticelli ao
visualizar as palavras impressas, transformando-as em imagens para construção
de um guia completo do inferno e que serviu de roteiro para a ideia que temos
do inferno para os cristãos.
Um dado revelado pelo filme, é que depois de
sua morte, Sandro Boticelli foi esquecido
por cerca de 350 anos e seu nome voltou à tona do cenário artístico
mundial no século XIX, através do leilão do acervo do Palácio Hamilton, na
Escócia e na Inglaterra. Quando o duque de Hamilton e de Brandon, em
dificuldades financeiras, leiloou por 80 mil libras, o equivalente a dez
milhões de euros nos dias atuais, as ilustrações do inferno construída por um
dos maiores artistas renascentistas e
que hoje, é considerado um superstar e ainda recebe em seu túmulo
bilhetes de fãs e admiradores, que nos legou uma arte impactante e muito
complexa, pois suas figuras parecem em movimento e reúnem perspectivas
inovadoras.
Sandro Botticelli também revelou ao mundo a
beleza de Simonetta Vespucci, considerada a mulher mais bela de sua época e que
aparece num imagem frontal sensual, seminua, com parte dos seios à mostra. O
artista também nos revelou no nono círculo deste seu mapa infernal a
preocupação com a salvação dos seus pecados e um dos anjos aparece num dos
quadros desta fase com uma tabela pedindo perdão para Botticelli, que vivia o
seu inferno pessoal, mas nos legou sobretudo a sua arte, imortalizando a beleza
para todos nós. Em tempo: seus restos mortais e de sua musa estão sepultados na
na Igreja de Todos os Santos (Chiesa di
Ognissanti), em Florença,(Kleber Torres)
Ficha técnica:
Título : O Inferno de Botticelli
Direção e Roteiro : Ralph Loop
Cinematografista : Tobias Rupp
Inglaterra, França, Alemanha e Itália
90 minutos
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