segunda-feira, 7 de setembro de 2020

O enigmático mapa infernal de Sandro Botticelli

 


 

 

O canal Arte 1 exibiu o documentário "O Inferno de Botticelli", que resgata a história de Sandro Felipepi (1445/1510),  um dos mais expressivos artistas da Renascença um período compreendido entre meados do século XIV e o fim do século XVI, que ficou conhecido com Sandro Botticelli.  O filme trata de um dos seus projetos mais importantes e que ocupou dez dos seus 65 anos de vida: a criteriosa ilustração da Divina Comédia, uma obra prima do escritor Dante Alihgieri, um poema épico sobre uma visita do escritor ao Inferno, Purgatório e Paraíso.

Cada parte da obra é dividida didaticamente em 33 cantos, com mais um a título de introdução, somando 100 cantos, número que significaria a perfeição da perfeição fechando um ciclo completo. Além do próprio Dante, que é um dos personagens centrais da obra, outros três têm participação decisiva nesta viagem entre os quais o poeta Virgílio, guiando a visita ao inferno e purgatório; Beatriz –a musa do autor – orientando uma viagem  ao paraíso terrestre e São Bernardo, guiando a peregrinação nas esferas celestes.

Inferno revela curiosidades sobre o processo criativo e os elementos que compõem as imagens de Botticelli, cujos registros estão divididos entre a biblioteca do Vaticano e o Museu de Berlim, na Alemanha. O filme nos leva a uma instigante viagem aos nove círculos do inferno para revelar os segredos de uma obra de arte que intrigou muitos artistas e intelectuais, como Ron Howard e Dan Brown, que escreveu um romance sobre o inferno, uma metáfora do nosso tempo, tendo como pano de fundo questões como a superpopulação da terra, transumanismo e o risco de uma epidemia global ou de um escatológico ataque de terrorismo biológico.

No inferno de Dante e que foi retratado por Boticelli, os lugares mais sombrios são reservados àqueles que se mantiverem neutros em tempo de crise moral, o que também vale para os nossos dias. O filme revela ainda, que por trás dos muros do Vaticano está um mundo de segredos, inclusive com a preservação  parte do acervo do Mapa do Inferno de Boticelli, que escapa com suas cores e formas ao limitado olhar humano suscetível de ilusões ou enganos.

Botticelli nos leva também a uma reflexão sobre a visão do tempo e espaço, numa obra que permanece atual em termos estéticos e que enriquece a Divina Comédia de Dante Alighieri, mostrando as faces da beleza, da tristeza e o sofrimento dos danados. O próprio Botticelli admitia que era um artista e tinha um olhar mais acurado e penetrante que as pessoas comuns para completar: “dei a arte o meu esboço da eternidade, oferecendo uma percepção da perdição e da danação infernais.”

O filme fala dos 120 pergaminhos  -10 dos quais considerados perdidos até agora e que podem estar em mãos de algum colecionador - do artista plástico numa sequencia  que percorre a longa jornada  dos nove círculos do inferno, passando pelo limbo dos não batizados (Pagãos), pelo Vale dos Ventos (Luxúria), pelo Lago de Lama (Gula), pela Colinas Rochosas (Ganância), o Rio Estige (Ira), o Dite (Dis), Cemitério de Fogo (Heresia), Vale do Flegatonte (Violência), o Malebolge (Fraude) e o nono circulo, sobre o Lago do Cocite (Traição), considerado o mais grave dos pecados dantescos.

Outra  proposta do filme dirigido e roteirizado por Ralph Loop, é que não se sabe se existe um fim para as coisas e talvez haja uma transição para uma outra realidade, mesmo com o resgate de uma das obras mais importantes da Renascença, como o trabalho de Botticelli ao visualizar as palavras impressas, transformando-as em imagens para construção de um guia completo do inferno e que serviu de roteiro para a ideia que temos do inferno para os cristãos.

Um dado revelado pelo filme, é que depois de sua morte, Sandro Boticelli foi esquecido  por cerca de 350 anos e seu nome voltou à tona do cenário artístico mundial no século XIX, através do leilão do acervo do Palácio Hamilton, na Escócia e na Inglaterra. Quando o duque de Hamilton e de Brandon, em dificuldades financeiras, leiloou por 80 mil libras, o equivalente a dez milhões de euros nos dias atuais, as ilustrações do inferno construída por um dos maiores artistas renascentistas e  que hoje, é considerado um superstar e ainda recebe em seu túmulo bilhetes de fãs e admiradores, que nos legou uma arte impactante e muito complexa, pois suas figuras parecem em movimento e reúnem perspectivas inovadoras.

Sandro Botticelli também revelou ao mundo a beleza de Simonetta Vespucci, considerada a mulher mais bela de sua época e que aparece num imagem frontal sensual, seminua, com parte dos seios à mostra. O artista também nos revelou no nono círculo deste seu mapa infernal a preocupação com a salvação dos seus pecados e um dos anjos aparece num dos quadros desta fase com uma tabela pedindo perdão para Botticelli, que vivia o seu inferno pessoal, mas nos legou sobretudo a sua arte, imortalizando a beleza para todos nós. Em tempo: seus restos mortais e de sua musa estão sepultados na na Igreja de Todos os Santos (Chiesa di Ognissanti), em Florença,(Kleber Torres)

 

Ficha técnica:

 

Título : O Inferno de Botticelli

Direção e Roteiro : Ralph Loop 

Cinematografista : Tobias Rupp

Inglaterra, França, Alemanha e Itália

90 minutos

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