sábado, 14 de novembro de 2020

O perfil em preto e branco do Grande Timoneiro da morte e da tirania

 

Mao Zedong, o Líder Supremo da China, considerado um dos mais sanguinários ditadores do mundo, comparável a Adolf Hitler e Stálin, que também integram o rol de personagens históricos da série Evolução da Maldade, transmitida pelo History Channel e que pode ser acessada pelo Youtube, liderou por um período de mais de 30 anos, aquela nação oriental com mão de ferro, implantando um regime de terror e de medo, subjugando seus inimigos à força e reforçando políticas duras para seus próprios cidadãos, deixando um rastro de 40 milhões de mortos de fome ou torturados por um regime implacável.

 

Como um líder para quem a morte de 300 milhões de pessoas seria um preço justo a pagar  para cumprir  os seus objetivos pessoais e políticos, Mao Zedong admitia que perder metade do seu povo seria razoável mostrando o perfil de um homem que exercia a violência absoluta através do poder. Ele é apontado no quinto episódio de um documentário com 50 minutos de duração, exibido na primeira temporada da série, como um homem que  abusava da violência através do poder, e foi  retratado como um autocrata sádico, inescrupuloso e viciado em brutalidade.

 

O filme também ajuda a compreender o cenário em que surgiu um líder despótico, que emergiu depois de 2.000 anos de uma dinastia imperial absolutista, que  impedia qualquer discussão ou crítica ao governo do país. Como contraponto ao poder imperial em decadência surgem dois grupos políticos disputando o poder: de um lado, os nacionalistas que queriam um país capitalista e de outro, os comunistas, influenciados pela revolução russa, os quais acabaram se defrontando numa guerra civil sangrenta,  que durou mais de duas décadas.

 

Mao Zedong era filho de um fazendeiro, que descobriu na política uma chance de chegar ao poder. Em 1917,  ele conheceu o manifesto comunista, que explicava o problema e a crise da China submetida a um império decadente e às pressões dos países colonialistas. Quatro anos depois, ele considerou o comunismo como único  caminho para uma revolução de sucesso e se dedicou exclusivamente à política, e em essência ao exercício do poder.

 

Em razão desta visão estratégica, em 1922 ele se juntou ao Partido Comunista da China, com o objetivo precípuo de chegar ao poder. Em 1924, os nacionalistas assumem o poder na China e Mao Zedong passou a acreditar que a revolução chinesa teria de  começar a partir dos camponeses, o que passou a ser o alicerce de sua ação política por quatro décadas, algo natural para que  mirava  chegar ao poder.

 

Nos idos de 1927, aos 34 anos, ele  foi indicado para o comando do Exército Vermelho,  uma milícia  de segunda classe e sem nenhuma estrutura formal. A sua estratégia era colocar os  camponeses  contra os donos das fazendas, marcando o início de uma guerra civil sangrenta na China, o que agradava  ao autor da frase: “todo poder cresce no cano de uma arma”.

 

É a partir deste período, que Mao Zedong se torna inebriado pela violência. É aí que ele assume o papel de comissário político do Partido Comunista Chinês,  um instrumento político  que permitiria controlar o que as pessoas pensavam e punir os dissidentes. Em 1931, quando o  Japão invade a China e toma a Manchuria um estado independente, aproveitando o conflito,  os comunistas tentam tirar vantagem sobre os nacionalistas, mas falham nessa nesse processo.

Em 1935,  aos 42 anos, Mao Zedong chega ao topo da escalada política, quando foi nomeado liíder do Partido Comunista da China,mas, dois anos depois, os comunistas maior são atacados em dois flancos, de  um lado, pelos nacionalistas comandados por Chiang Kai-shek e de outro pelos japoneses envolvidos numa guerra expansionista.  Como comandante  do Exército Vermelho, ele queria construir uma força submissa a ele e que  o levasse poder no final do conflito.

 

Assim, ele elimina o  princípio da teoria de uma utopia igualitária e enquanto seus seguidores tinham dificuldades em termos de alimentação,  moradia e  roupas, ele vestia fardamento de um algodão especial produzido da China e acumulava mordomias.  Como um manipulador nato,  Mao usou o poder para esvaziar e eliminar os seus críticos, usando inclusive da tortura, chagando a mandar  quebrar os joelhos de um adversário no banco do tigre, um instrumento de  tortura, obrigando-o a confessar que era um espião nacionalista.

 

A partir de então,  ficou estabelecido que  se a pessoa não pensasse como Mao, seu caminho seria o da morte. Ele também se aplicou  ao expandi o ciclo de terror ao seu redor, mas cuidando sempre de manter as mãos limpas e assépticas, criando uma rede de espionagem com tentáculos em todos os lugares.

 

A série conclui que a violência não é uma parte acidental do maoísmo, mas a sua própria  essência. Como resultado, em  1945,  Mao  tem sob seu comando um exército de três milhões de homens armados por Stalin e disposto a ocupar espaços no campo militar e político. Cinco anos depois, já no poder, ele dirige um pais empobrecido e que se recupera de três décadas de guerra, quando deflagra o seu Grande Salto Adiante, iniciado com a aquisição fábricas prontas dos russos e que eram pagas com alimentos. Ele também deu um tiro de misericórdia na propriedade privada.

 

Neste período, Mao, que já se intitulava como O Grande Timoneiro, não só eliminou a iniciativa privada, como determinou que o que era produzido no campo seria absorvido pelo estado, iniciando um período de coletivização da produção, mas com o estabelecimento de metas elevadas de produtividade e que dificilmente eram atingidas pelos produtores rurais, que eram punidos com rigor.  Esta política acabou resultando no colapso da produção de alimentos e instauração de um período de fome que matou milhões de pessoas nos campos e nas cidades.

 

No final  desta época, Mao lançou uma grande campanha para erradicação dos pardais, acusados de inviabilizarem a produção de alimentos, o que acabou gerando um problema ambiental ainda mais grave com o registro de pragas e doenças, cuja propagação era contida justamente pela aves extintas que funcionavam como predadores naturais de insetos.

 

Depois de quase 15 milhões de mortes em consequência da fome na China, Mao planeja ampliar o Salto Adiante e deflagra a Revolução Cultural, com um grande expurgo que atingiu lideranças do partido comunista, professores, médicos e todos os que eram considerados revisionistas burgueses.

 

A polêmica Revolução Cultural no período de 1966 a 1969,  empreendida por Mao teve como figura central sua companheira Jiang Qing e a participação dos célebres Guardas Vermelhos, que censuravam e impediam na marra a publicação de livros, produção de filmes e peças teatrais.

 



Nesta fase Mao publicou o Livro Vermelho, que seria a sua versão pessoal de O Capital, com 400 dos seus pensamentos, considerando que uma revolução não é um jantar, mas algo muito mais, sério, complicado e violento. A meta era expurgar os pensamentos burgueses para implantação de um pensamento correto nos padrões que idealizava do comunismo como ideologia que não admitia nenhum tipo de contestação.

 

A Revolução Cultural começou com propostas vagas, atacando o que Mao considerava velhas ideias, velha cultura, velhos costumes e velhos hábitos, ou seja, abrangia sem descer em profundidade a tudo o que o Grande Timoneiro, ou seus porta-vozes, desaprovavam.

No Livro Vermelho, Mao considerava que a guerra é uma continuação da política por outros meios, apropriando-se de um conceito do estrategista militar Carl von. Clausewitz (1780-1831),mas  incorporando o conceito do guerra como a maior forma de luta revolucionária.

 

Mao dizia também no livro, que onde a vassoura não alcança, a poeira não irá desaparecer sozinha e instigava os jovens a atitudes violentas contra os idosos, e os seus professores, milhares deles agredidos até a morte. A revolução cultural teve um saldo estimado de mais de um milhão de mortes sabidas e tornou a China um deserto cultural, além de ser uma oportunidade para  eliminar os inimigos visíveis ou invisíveis do regime num período marcado pela banalização da morte.

 

O fato é que o Grande Timoneiro morreu de uma doença degenerativa que lhe afetou a fala e os movimento, mas enquanto vivo, mesmo vegetativamente, tinha seus porta-vozes que o protegiam de tudo e de todos, emanando ordens muitas vezes desconexas. Muitos chineses acreditam também que, através de suas políticas, Mao lançou os fundamentos econômicos, tecnológicos e culturais da China moderna, transformando o país de uma ultrapassada sociedade agrária em uma potencia global que hoje rivaliza com os Estados Unidos. (Kleber Torres)

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