sábado, 28 de novembro de 2020

Os muitos caminhos da arte até a última volta do parafuso


O medo e o suspense são, sem dúvida alguma,  os dois melhores ingredientes na composição de um filme de terror, sem necessidade de exibição massiva de  mortes, de sangue em profusão, de fantasmas ou mesmo de monstros circunstanciais. Os órfãos (The Turning), baseado no romance A Volta do Parafuso (The turn of screw), escrito em 1898, por Henry James, conta história de uma jovem professora Kate Mandell (Mackenzie Davis) contratada para ser preceptora de dois jovens órfãos de uma família rica, Miles Fairchild (Finn Wolfhard) e Flora Fairchild (Brooklynn Prince) que vivem em uma  estranha mansão no campo e acaba se envolvendo numa escalada  crescente de medo, pavor e loucura.

O filme americano de 2020,  que dividiu opiniões da crítica especializada, foi dirigido Floria Sigismondi, que tem no seu histórico da produção de diversos videoclips, privilegiou as tomadas de cena e a iluminação para tentar conseguir imprimir o clima de tensão comum nas histórias de terror e suspense, talvez na tentativa de descrever o cenário  de Henry James na sua obra literária, que deixa as dúvidas a critério do julgamento do leitor. O livro não limita o espaço entre a loucura e o terror e deixa no ar dúvidas sobre a sanidade dos personagens.

 O castelo tinha uma ala que não era utilizada por Flora e nos quartos existiam manequins com formas humanas, um deles inacabado, cravado de alfinetes como nos rituais vodus. A dúvida que fica para o espectador é se Kate começa a ver fantasmas na piscina, nos corredores e nos quartos da mansão ou era uma mulher  instável, cuja mãe, com problemas mentais vivia interna num asilo.

 Os órfãos também não revela a relação de uma herança genética dos problemas mentais da mãe para a professora, que recebe um estranho e enigmático telefonema da própria genitora. A jovem tinha no telefone seu único elo de contato com o mundo exterior e falava dos problemas enfrentados apenas com uma amiga com quem dividiu a moradia quando lecionava numa escola. Ficam dúvidas ainda sobre a relação de Flora, que também temia deixar o espaço ‘protegido’ da mansão e de Miles, que descartava suas pulsões tocando bateria ou ouvindo rock, com Quint,

 Miles, que fora expulso da escola e voltou para a mansão no campo onde vivia a irmã Flora, em companhia de uma misteriosa governanta e da nova preceptora. Os orfãos pareciam impactados   pela morte dos pais num estranho acidente e ao mesmo tempo conviviam com a imagem de Quint (Niall Greig Fulton), de quem sobrou um retrato,um sádico desajustado, que mesmo morto interagia com os jovens numa enorme mansão isolada do mundo, e cujo acesso para a rodovia mais próxima esbarrava num grande portão de ferro.

O fato é que a presença de Quint é sentida na casa e no cenário do seu entorno. Ele afeta o comportamento instável dos jovens órfãos e vai gradualmente  afetando à professora. Ela descobre que a sua predecessora não fora demitida como se supunha, mas estaria morta, como também o próprio empregado da mansão, num jogo em que confunde suspense e loucura, o que acaba num desfecho inverossímil e duvidoso

Esta é a sétima versão do The turn of  screw (A volta do parafuso)  cuja primeira versão conhecida é Os Inocentes (The Innocents), de 1961, dirigida por Jack Cleiton.  A segunda é o cultmovie  Os que chegam com a noite (Nightcomers),  de 1971, estrelado por  Marlon Brando, dirigido por Michael Winner.]

A terceira versão foi Assombração de Helen Walker (The hauting of Helen Walker),  rodada em 1995 e dirigida por Tom  MacLoughlin. Ja a quarta versão A outra volta do parafuso (The turn of screw) é de 1999, assinada por  Antons Aloy e uma outra versão posterior do mesmo livro, foi Lugares escuros(In a dark place), de 2006,  um filme de Donato Rotunno.

Uma  sexta versão é A volta do parafuso(The turn of screw), de 2009,  de Tim Fywell e agora em 2020  a trama volta às telas em Os órfãos (The Turning)  em nova versão agora dirigida por mãos femininas  de Flora Sigismund que conta a história com os recursos da tecnologia digital que e nos ensina uma lição: não dá para fugir do inevitável. (Kleber Torres)

Ficha técnica

Título : Os órfãos (The Turning)

Direção : Flora Sigismund

Roteiro : Chad Hayes e Carey W. Hayes

Elenco : Mackenzie Davis, Finn Wolfhard, Brooklin Prince, Barbara Morten, Joely Richardson, Niall Greig Fulton e Kim Adis Rose

Cinematografista : David Ungaro

Música :           Nathan Barr

2020

EUA

90 minutos

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