quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A História do Mundo







O humor é, sem dúvida alguma, a forma mais refinada de inteligência e desta forma Mel Brooks reescreve cinematograficamente com muita competência e irreverência a sua versão caricata da História do Mundo I, com sarcasmo, ironia e curtição. No filme,  ele faz  uma releitura da história com sinopses da Idade da Pedra, da revolução francesa, da Inquisição e do Império Romano, em sua glória e decadência.
O próprio Mel Brooks interpreta  alguns dos papéis principais em cada um dos capítulos do filme onde contracena com  Don de Louise e Harvey Korman, reescrevendo a história a seu modo com competência suficiente para recolocar no final Adolfo Hitler como um patinador e re(avaliar) ficcionalmente a conquista do espaço pelos judeus.
A obra de fôlego  é pretensiosa como sátira, redefinindo e reescrevendo a história do homem desde o Homo Sapiens e curtindo as invenções desde a descoberta do fogo, das armas e consequentemente da guerra, bem como os contatos ritualistas do homem com a morte e as suas descobertas primevas.
Um salto qualitativo no enredo está na sequencia do Império Romano, onde o freak Caesar Park e companhia aparece ao lado do maior cigarro de maconha já produzido na história do cinema e do mundo, o Big John, que derruba com  humor o espectador mais sisudo e careta. Afinal, como dizia Millôr Fernandes, o humor é a quintessência da seriedade e naturalmente do deboche.
A corrupção também é referenciada no decadente Império Romano, e também é transfigurada em imagens sutis e com muita propriedade por Mel Brooks, cineasta que tem a seu crédito filmes como Banzé no Oeste e Banzé na Russia, dentre outros, sempre como um critico arguto e que usa os recursos da metalinguagem. Assim, ele reproduz e reduz no cinema a linguagem do próprio cinema de forma questionadora e ao mesmo tempo bem humorada.
          No caso da sequencia da inquisição espanhola, Brooks a transforma numa opera rock muito louca, onde a caricatura da tortura assume a sua função desconstrutivista e Toequemada, o inquisdor mor, passou para o ridículo, que seria o seu papel real na história.
Mas a reescrevência  da história aparece como algo importante neste contexto critico e do humor, numa contraposição com uma aparente deturpação da realidade numa dialética  em que os vilões são heróis e as vitimas os bandido.  Assim, Brooks tem a felicidade de redefinir os papéis e de modificar o contexto  dos fatos, com piadas picantes e as vezes ingênuas, que em muitos casos podem até não serem entendidas pelo espectador menos culto, mais ingênuo ou desatento.         
Na revolução Francesa ele retoma o pique e goza dos reis, dos revolucionários, dos bastidores do poder e mergulha na critica da própria sociedade e das suas contradições, recompondo não a história e nem a estória, mas os dramas humanos embutidos por trás de duas questões básicas :a sobrevivência  e a dignidade. Neste sentido o filme aparece como um libelo contra governos autoritários e ditatoriais, o que também é uma tarefa do humor na luta contra os opressores de plantão.
Mel Brooks não é porem um humorista simplista, ele desce ao nível de analise e mergulha nas questões sociais subjacentes. Ele é um político ao seu modo, ou seja, com humor, mordacidade e irreverência, usando os recursos e atributos da inteligência. Também questiona como judeu o próprio humor judaico com ironia e sem esboços do intelectualismo.
Brooks vai a fundo na critica ao rock, às drogas, à sociedade de consumo e à hipocrisia e esboça o seu próprio quadro multifacetado da história em relação ao século XX, sabendo que o homem pós-moderno é o mesmo e que não mudou e nem tem chances para tal. Por isso mesmo a maior chance estaria no humor, no riso e talvez numa nova proposta anárquica decerto, pois parece que ele sabe que o destino do homem acima e antes de tudo é ser feliz e se preciso contestador.(Kleber Torres)

Ficha técnica:
Título: History of the World: Part I (Original)
Direção: Mel Brooks
Elenco: Cloris Leachman, Dom DeLuise, Gregory Hines, Harvey Korman, Madeline Kahn, Mel Brooks, Orson Welles
Roteiro: Mel Brooks
Duração       92 minutos

Ano : 1981

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Uma onda entre a anomia e a alienação




Onde começa o autoritarismo e onde termina?  Quais os limites e onde está a essência do poder? O que  é alienação política, a anomia ou mesmo como nasce uma ideologia exótica ? Esta resposta está de certa forma evidente em  A Onda,  um filme alemão de 2008 dirigido por Dennis Gansel. O elenco é formado por Jürgen Vogel, Frederick Lau, Jennifer Ulrich e Max Riemelt, e o filme  serve como uma reflexão profunda para todos nós sobre a questão da manipulação de massas e o poder. 
O filme  é inspirado num livro homônimo lançado em 1981, por Todd Strasser e é o remake  de um filme americano com o mesmo nome, contando  uma história é baseada em fatos reais ocorridos em 1967, em uma escola secundária da Califórnia, nos Estados Unidos. Ele começa com o professor Rainer Wenger (Jürgen Vogel) se dirigindo no seu carro à escola onde leciona ouvindo a todo volume "Rock 'n Roll High School".
No colégio, que está promovendo uma série de cursos e debates voltados para o campo político, Rainer, que tem uma queda pelo anarquismo, faz sua opção pela oficina sobre autocracia, porque o professor do curso sobre anarquismo, recusou-se a trocar de assunto pelo qual ele simpatizava. O fato é que mesmo com uma classe formada por  alunos da terceira geração após a Segunda Guerra Mundial e de formações familiares diferentes,  Rainer inicia um experimento com o objetivo de mostrar o quão fácil é manipular as massas e informações para implantação de um sistema autoritário  e ao mesmo tempo irracional.
 O professor começa exigindo que todos os alunos se dirijam a ele como  Senhor Wenger (Herr Wenger), levantando o braço para qualquer interpelação em classe e dando respostas sintéticas  e objetivas aos seus questionamentos.O senhor Wenger também muda o posicionamento das carteiras na sala, de modo que todas elas fiquem de frente para ele e separa os alunos em função das notas, eliminando os pequenos grupos de interesse e fazendo ao mesmo tempo com que cada dupla de alunos por carteira, seja formada por um estudante com notas baixas e outro com melhor desempenho na classe.
Como forma de impor o novo modelo, ele  ensaia na sala com  alunos como uma marcha em perfeita sincronia rítmica entre eles, dizendo palavras de ordem e fazendo ao mesmo tempo com que se sintam parte de um todo. O ensaio  ganha tanta força, que chega a incomodar propositadamente aos alunos do curso anarquismo, na sala no piso inferior gerando reclamações do outro professor.  Já os alunos que não se ajustam ao novo grupo social e não se submetem ao novo sistema, são simplesmente discriminados ou alijados e acabam deixado o curso e a oficina.
Passo a passo, o Senhor Wengler discute com os alunos um nome para o movimento – a Onda, que ganha uma logomarca, a qual se transforma em  adesivo e objeto de pichações, além de uma forma de saudação com o braço movimentado lateralmente  de forma ondular  e até um uniforme, quando todos os alunos do grupo devem vestir uma camisa branca e calças jeans, para que não haja mais distinções entre os mesmos.  A ideia do uniforme é a de oferecer maior coesão social e integração do grupo, seprando-os dos demais.
De formação liberal, a aluna Mona (Amelie Kiefer), que desde o início mostrou-se relutante a fazer parte do experimento, alega que o uso de uniformes vai comprometer com a individualidade de cada estudante e, alijada do grupo, acaba  trocando de turma, passando a integrar a classe de anarquismo e a  trabalhar para contestar a  proposta da Onda.  O projeto também começa a ser objeto de comentários nas casas dos alunos que melhoram o seu aproveitamento e se sentem motivados com o novo sistema.
Quem também acaba sancionada pelo grupo é uma  outra aluna, Karo (Jennifer Ulrich), que vem à aula do dia seguinte sem o uniforme, e descobre ser a única a não aderir ao modelo. Ela não tem nem mesmo a palavra quando se dirige ao professor, que não a considera como participante do curso.
O fato é que gradualmente o grupo começa a mudar o seu  comportamento e até mesmo  o relacionamento com colegas de outras salas e de grupos antagônicos, como os anarquistas, que eram considerados os outros. Um integrante da Onde defende um colega que sofria bullying  por parte de anarquistas e chega a sacar um revólver para intimidar os seus antagonistas. Outro integrante do grupo escalou o prédio da prefeitura, o mais alto da cidade, para pichar um logo  da Onda na fachada do edifício.
Outro integrante, o Tim, filho de uma família desestruturada,  queima todas as suas roupas de marca e vai à casa do senhor  Wangler, a quem se oferece para ser seu guarda-costas. O professor o convida para jantar, e deixa evidente que  não precisa deste tipo proteção, mas a sua mulher Anke (Christiane Paul), que também é  professora na mesma escola, começa a questionar o  experimento e a sua dimensão, mas a sua sugestão acaba gerando um rompimento entre o casal, que acaba se separando, quando Reiner considera que ela tem inveja do seu projeto.
Enquanto cresce o movimento de oposição à Onda liderado por duas alunas,  Karo e Mona, um jogo de polo aquático, da equipe é liderada pelo Senhor Wengler, acaba numa briga entre os atletas o que provoca  a suspensão e o cancelamento da partida. Ao mesmo tempo, os integrantes  d'A Onda começam uma briga nas arquibancadas com torcedores do time rival, momento em que   Karo e Mona, inicialmente  impedidas de entrar no local sem a farda branca,  aproveitam a confusão e espalham panfletos anti-Onda no meio das torcidas.
Em seguida, Marco discute com a namorada Karo e acaba agredindo-a, acertando um golpe  no rosto e que provoca sangramento. Em seguida, arrependido,  ele vai até a casa do senhor Wangler,  e pede que ele acabe com A Onda. O professor resolve então  convocar uma assembléia com os alunos no auditório da escola para uma avaliação dos resultados.
Durante o  encontro, ele pede que as portas sejam trancadas  e lê uma série de depoimentos dos alunos com referência às  suas atuações e expectativas  do grupo e até mesmo enaltecendo as chances que o movimento teria de mudar os rumos da Alemanha. Um aluno protesta, e o professor o acusa de traição, pedindo que os membros o tragam para o palco para ser punido.
Em seguida, o professor  fez com que os alunos percebessem a dimensão da  Onda e o quanto os mesmos foram  sendo manipulados pela ideia, embora  acreditando no início da experiência que um regime como o Nazismo jamais poderia voltar a dominar a Alemanha novamente do século XXI. Ele então declara o fim d'A Onda, mas um dos alunos, Tim saca um revólver e se recusa a aceitar que o grupo acabou, com medo de voltar a ser sozinho e mais um na multidão, atirando em direção a um colega e se suicidando em seguida na frente dos demais alunos.
O filme termina com a prisão do professor que é levado numa  viatura, enquanto os demais  alunos, seus respectivos pais,  os professores e até sua mulher o observam.  Em essência o filme discute duas questões a alienação e  anomia social, com a perda da essência de valores e a desorganização do indivíduo,  mostrando que o autoritarismo não está morto e afeta até países do primeiro mundo. Vale salientar, que na história real, que se passou nos Estados Unidos há quatro décadas, o desfecho foi menos trágico, pois,  um aluno perdeu a mão ao tentar preparar um coquetel molotov, ao fabricar uma bomba com uma garrafa cheia de gasolina.
Vale frisar que a  Onda é o terceiro filme de Dennis Gansel, nascido em Hannover, Alemanha, em 1973. Ele também dirigiu Garotas procuram... (Mädchen, mädchen, 2001) e  Napola, antes da queda (Napola, Elite für den Führer, 2004). Em 2010, ele As Damas da Noite (We are the Nigth). (Kleber Torres - do livro Princípios das Ideias) 

Ficha Técnica:
Titulo :A Onda  / Die Welle
Direção: Dennis Gansel
Roteiro: Dennis Gansel ePeter Thorwarth
Elenco: Jürgen Vogel, Frederick Lau, Max Riemelt, Jennifer Ulrich, Jacob Matschenz
Gênero: Drama
Música:  Heiko Maile
Alemanha

2008

sábado, 25 de outubro de 2014

O casamento de Maria Braun







A morte precoce e até de certa forma antecipada de Rainer Werner Fassibinder não impediu que ele trilhasse os caminhos da genialidade e uma prova está no filme “O casamento de Maria Braun”. A película é considerada como uma metáfora e ao mesmo tempo uma sátira a partir da análise de que a arte esta embutida no real e na sua própria critica.
O filme reúne no elenco Hanna Schygulla, no papel de Maria Braun, uma mulher que se casa durante a guerra e tem uma convivência de apenas um dia com o marido Hermamn Brauns, interpretado por Kaus Lowitsch, para construir a partir de uma trama simples, uma história que culmina numa tragédia a dois. O filme também revela a inutilidade e o absurdo da guerra, com seu reflexo na vida das pessoas.
Como soldado do exército alemão Hermann Braun é deslocado para a frente  russa de combate. Como ele não retornou após o final da guerra, sua mulher se prostitui, o que seria uma alternativa de sobrevivência num tempo de dificuldades e de fome generalizada num pais devastado pelo pelos bombardeios aliados.
Para sobreviver, Maria passa a freqüentar um bar que tem como principais clientes os soldados americanos da força de ocupação e onde o acesso de alemães do sexo masculino não é sequer permitido. Ela acaba tendo um caso com um soldado americano negro, o qual termina morto pelo seu marido, o qual retorna à Alemanha depois de cair prisioneiro dos russos na frente soviética e não havia morrido como ela imaginava.
O crime afastou o casal mais uma vez. Com Hermann preso e sem condições de manter a família, coube à sua mulher assumir o sustento pessoal e assim, consegue um trabalho com Osvald (Ivan Desny), um empresário a quem com sua experiência de  ex-prostituta, acaba ajudando a superar as dificuldades enfrentadas nos negócios.
Com Osvald, ela também mantém um caso, o que acaba chegando ao conhecimento do seu marido. Ela por seu turno, vai assumindo o comando dos negócios e se transforma numa empresária, adquirindo bens, inclusive uma casa de campo onde passa a viver isolada como uma rica executiva. Hermann  depois de solto da prisão, viaja para o Canadá, onde foi tentar a sua sorte, porque não queria depender da mulher.
Quando ele retorna à Alemanha, encontra em Maria Braun uma mulher emancipada, inteiramente independente e liberada, que para fugir da solidão contrata parceiros sexuais. Osvald  morre de ataque cardíaco e acaba legando sua fortuna para o casal Hermann e Maria , que se reencontra de  forma dúbia e trágica, para a vida e para a morte, pois, não tiveram a sorte e o tempo para serem felizes.
Essa história aparentemente simples e que poderia terminar com um final feliz, ganha força e dramaticidade , porque por atrás de Maria Braun estavam a lucidez e a loucura, embora não haja loucura nenhuma menor que a guerra e a prevalência da morte. Assim, no filme Tanatos brincava com Eros numa sequência ilógica de fatos, numa espécie de jogo de esconde-esconde e que revela profundamente o perfil e contornos da alma humana, onde estavam de plantão e em vigor a falsidade se contrapondo ao amor.
O filme consegue segurar o espectador por 118 minutos sem pieguice e narrando uma história verossimil, que poderia ter acontecido na primeira, na segunda ou numa próxima guerra, afinal nos revela caminhos que são aparentemente convergentes, acima do real ou do irreal e da lógica.  

Ficha técnica:
Titulo: O Casamento de Maria Braun / Die Ehe Der Maria Braun
Direção: Rainer Werner Fassbinder
Elenco: Gisela Uhlen, Gottfried John, Hanna Schygulla, Ivan Desny, Klaus Löwitsch
Género: Drama
ALE, 1978,
Duração: 118 min.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Encouraçado Potemkim







O filme O Encouraçado Potemkim  conta a história real do motim dos marinheiros russos em 1905 e que foi filmado em 1926, em preto e branco, mudo, com patrocínio do governo soviético, mas nada impediu que em 1958, ele recebesse da Academia Americana de Artes o titulo de melhor filme do mundo. Ele também foi considerado em Bruxelas, na Bélgica, o melhor filme de todos os tempos por sua contribuição à técnica, montagem e à própria linguagem cinematográfica.
Dirigido pelo lendário Serguei Eisenstein, o filme tem a fotografia assinada pelo detalhista Edward Tisse e reúne no seu elenco Alexander Antonov, Grigori Alexandrov e Boris Barski, para narrar uma história humana, comovente e que acabou resultando na deflagração da revolução que resultou na queda dos czares e na implantação do comunismo na Rússia.
O filme é uma narrativa poderosa e epopeica dos marinheiros russos, escapando até mesmo ao cunho ideológico e da mera propaganda política do regime soviético, porque a arte também implica em transcendência e de certa forma prevaleceram as suas inovações estéticas. Neste caso obra de arte se sobrepõe acima de episódios históricos e de suas interpretações  ideologicas.
O Encouraçado Potemkim se impõe por sua linguagem associada a uma montagem inovadora, bem como pelos movimentos de câmara nunca antes realizados, pela da narrativa visual riquíssima e planos de detalhes. Vale lembrar a sequência da carne podre e bichada servida aos marujos da tripulação e  a antológica cena da escadaria de Odessa, que foi copiada  e reproduzida em outros filmes.
O enredo tem como referência uma rebelião dos marinheiros de um dos  navios da frota do Czar contra a tirania de seus comandantes e assim assumem o controle do Potemkin. A população de Odessa também apóia a revolta dos marujos, que acaba esmagada com violência pelas forças repressoras do regime czarista criando as bases do movimento que culminou com a revolução de 1917.
Em “O Encouraçado Potemkin”, a ideologia do realizador está presente em cada fotograma. Contudo, o filme não se revela na forma de um panfleto sectário de propaganda ideológica a serviço do comunismo, e sim como retrato da intolerância e do abuso do poder de qualquer origem ou período histórico. E assim o filme sobreviveu e se impôs na história do cinema. (Kleber Torres - do livro Princípio das Idéias)

Ficha técnica :
Título: O Encouraçado Potemkin (Bronenosets Potyomkin)
Direção: Sergei M.Eisenstein
. Roteiro: Sergei M. Eisenstein e Nina Agadzhanova Shutko. Elenco: I. Bobrov, Beatrice Vitoldi, Carriage N. Poltavseva, Julia Eisenstein
Ano : 1925

Duração: 112 minutos

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Cotton Club






Francis Ford Copolla, que dirigiu a trilogia do Poderoso Chefão e Apocalipse Now, nos transporta  em Cotton Club a uma reprise dos anos 20 em Nova York, mais precisamente no marginal e empobrecido Harlem. A história envolve gangsters, assassinatos, paixões, jazz e dança, sem deixar de lado a abordagem da complexa questão racial nos Estados Unidos.
O filme conta a história do trompetista Dixie Dwyer (Richard Gere) que acaba virando artista de cinema e se apaixona por Vera Cícero (Diane Lane) namorada do gangster Dutch Schultz (James Remar) considerado um elemento de alta periculosidade no mundo do crime. Tudo gira em torno de um famoso clube noturno inspirado pelo livro de fotografias da história de Cotton Club, editado por James Haskins.
Para completar o irmão de Dixie, o Vincent interpretado por Nicholas Cage,  se transforma num rival de Dutch, e este tempero, aliado ao romance de Sandaman    (Gregory Hines) pela cantora negra Lila Rose Oliver  (Lenette McKee), que faz sucesso passando-se por uma branca, devido a sua cor clara, formam os demais  ingredientes do enredo do filme , cujo roteiro é assinado por Mario Puzzo, de o Poderoso Chefão.
Vale observar a cena de amor entre Dixie e Vera: enquanto uma espécie de caleidoscópio colorido percorre o rosto de Dixie, os seus corpos são ligeiramente envolvidos pela sombra de uma cortina. Numa outra tomada os seus corpos, são mostrados apenas como silhuetas.
Os números musicais do filme estão coreografados nos mínimos detalhes e  Coppola utiliza uma câmera manual para transportar o público até ao centro da dança, utilizando-a também para mostrar as movimentações nos bastidores de espectáculo como se fosse um documentário.
Rico em detalhes e pelo caráter perfeccionista de Copolla, o filme exigiu para sua conclusão nada menos de seis anos de trabalho, 30 roteiros diferentes e adaptações, consumindo um orçamento de  47 milhões de dólares, 135% acima do previsto incialmente e resultou  no endividamento do seu idealizador, o produtor Robert Evans, que teve de vender os seus direitos sobre o filme para poder pagá-lo.
Cottton Clube é também um filme em que a fantasia e a realidade se fundem e confundem, pois todos os seus personagens sejam brancos ou negros gravitam em torno da fama, do poder e da glória, na vivência do grande sonho americano embalado pela expansão industrial e de uma sociedade animada pelo charleston. Marca também um tempo de lutas entre Judeus, irlandeses e negros  pelo controle das ruas do Harlem em 1928 e pela venda de bebidas durante a lei seca. (Kleber Torres)
Ficha Técnica:
Título: The Cotton Club (Original)
Dirigido por   Francis Ford Coppola
Elenco (Richard Gere) que acaba virando artista de cinema e se apaixona por Vera Cícero (Diane Lane) namorada do gangster Dutch Schultz (James Remar) Nicholas Cage
Estreia: 1984
Duração: 127 minutos
Gênero: Drama Música Policial
Países de Origem  

Estados Unidos da América

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Um tira da pesada

Para quem gosta der filmes do gênero policial, Um Tira da Pesada aparece como uma excelente alternativa com gosto e ingredientes de uma comédia. Tudo começa quando o detetive Axel Foley (Eddie Murphy) um policial de Detroit, encontra enquanto trabalhava em Beverly Hills, um amigo Mikey Tandino (James Russo) envolvido em negócios ilícitos e que parece estar em sérios apuros.
Depois da sua morte o policial resolver realizar  por conta própria uma série de investigações sobre o caso. Então ele pede férias do departamento de policia e parte para a rica e envolvente Beverly Hills, onde Tandino trabalhava e acaba se envolvendo em problemas com a própria policia local e com os assassinos do seu amigo, pessoas influentes, de alto poder aquisitivo, que atuam no tráfico de drogas e operam no crime organizado.
Ele descobre que o emprego da vítima  tinha sido conseguido por Jenny Summers (Lisa Eilbacher), amiga de ambos, que administra uma famosa galeria de arte em Beverly Hills.  Porém Foley tem de fazer tudo informalmente, pois está fora do caso, e pretende seguir a pista do possível mandante do crime, Victor Maitland (Steven Berkoff), patrão de Jenny e proprietário da galeria.
Apesar de Maitland ser considerado um dos maiores marchands do país, Axel acredita que ele usa o mercado de arte como fachada para atividades criminosas e lavagem de dinheiro e acaba conseguindo que dois relutantes policiais locais, interpretados por Billy Rosewood (Judge Reinhold) e Taggart (John Ashton), se unam a ele nas investigações contribuindo para a elucidação do caso.
O filme confirma o bom desempenho dramático de Murphy e tem a direção segura de Martin Brtes, aproveitando um roteiro assinado por Daniel Petre Jr, com muita ação, situações engraçadas, gags  e que se misturam ao mesmo tempo com a violência e o refinamento, fatores que são aparentemente antagônicos mas cabem no mundo do cinema.(Kleber Torres)
Ficha Técnica:
Um Tira da Pesada
Direção:  Martin Brest
Com   Eddie Murphy, Judge Reinhold, John Ashton. Steven Berkoff ,
Gênero: Policial ,  Comédia dramática , Suspense
Nacionalidade         EUA
Lançamento 2 de maio de 1985

Duração :  105 minutos  

Magnicídio






A contracultura não morreu e uma prova está em Magnicídio (Jubilee), de Derek  Jarman, considerado o primeiro filme punk da história do cinema. O enredo é  uma mistura de vídeo clip e documentário, uma fantasia muito elogiada pelo jornal Variety, reunindo no elenco Adam Ant, Jenny Runacre. Toyah Wilcox e Little Nell.
O filme é em si mesmo uma parábola sobre o poder, as relações no seu entorno e suas transversais, bem como sobre a arte, a vida e a morte, sob a ótica visual dos punks e darks num universo caótico e violento no qual a morte se mistura com a vida e com o amor. O filme também transpira humor negro  e antagonisticamente, poesia.
Ele pode ser visto e compreendido a partir de vários  planos, como por exemplo a partir das pesquisas esotéricas de uma rainha inglesa, que salta no tempo orientada por um mago e prevê não apenas o seu próprio assassinato, mas o mundo caótico no futuro, onde prevalece o absurdo em todos os níveis. Há a prevalência do non sense e da irreverência para retratar um sistema corroído e anárquico na sua essência.
A própria policia não combate à violência, mas pelo contrário, participa ativamente da sua promoção através do abuso do poder e do autoritarismo, inclusive assistindo passivamente aos atentados ou participando dos mesmos como se fosse uma gang motorizada. A polícia também  promove atentados e a desordem, mesmo envolvida numa guerra dura e sem quartel com outros marginais.
Em contrapartida ao poder da rainha, se sobrepõe uma nova elite, sem origem nobiliárquica, mas comandada por um misterioso personagem, Borgia Ging, que consegue com sua máquina multimídia e em escala industrial, a produção de shows, discos, filmes e vídeos, colocando no mercado russo nada menos que 15 milhões de exemplares em apenas três dias.
Com a cultura punk o comunismo  implode e dá lugar a uma sociedade que discrimina negros, homossexuais e ao mesmo tempo é permissiva com o tráfico e o uso de drogas, mas que valoriza o luxo e o glamour dos grandes limousines  com vidro fumê, motoristas fardados e tudo o mais a representação física do poder e sua essência.
Em termos metafóricos, Borgia seria talvez uma alusão aos Borgia italianos da idade media que imperaram e corromperam a Itália renascentista, representando o poder em todas as suas dimensões. No filme. ele controla a tudo e a todos, desde a NBC, a ITV, NTV, KGB  e o C do E, porque “para mim tiveram de reformular o alfabeto’, o que é normal num mundo que  prescinde da arte, do trabalho e onde a violência se transforma  numa rotina. O filme é uma distopia cinematográfica e que pode ser digerida a cores, no que seria uma dissecação da vida urbana pós-moderna..        
Vale salientar que a maioria das musicas da trilha sonora do filme é de Brian Eno, com apoio dos grupos Chelsea (Right to Work), Siouxsie e The Banshees (Love in a void) e Zuze Pims, interpretando Rule Britannia, que pode ser visto e compreendido em parte ou totalmente com um anárquico hino punk.(Kleber Torres)

Ficha técnica:
Direção: Derek Jarman
Roteiro: Derek Jarman
Elenco : Adam Ant, Jenny Runacre, Nell Campbell, Little Nell, Toyah Willcox,  Hermine Demorian e Ian Charleson
Gênero: Drama/Música/Terror
Origem: Reino Unido
Duração: 100 minutos

          

Mistério do Parque Gorki





Considerado um filme e envolvente e de excelente qualidade técnica, Mistério do Parque Gorki, dirigido por Michel Apted, que o adaptou a partir do romance homônimo de Martin Cruz Smith, reúne um elenco de alto nível  com William Hurt, no papel do detetive Arkady  Renko, e Lee Marvin. Ele também  revela uma história de suspense, e repressão policial.
A trama se desenrola quando a neve que se depositou em Moscou durante o inverno começa a se derreter, revelando um estranho achado macabro no Parque Gorki: três cadáveres congelados, com os rostos mutilados e as pontas dos dedos cortadas  visando impedir a sua identificação.
Esse seria um começo desanimador para o trabalho do investigador chefe de homicídios da policia de Moscou, Arkady Renko, que se vê a partir de então envolvido numa trama fascinante, que se desenrola até o final, esbarrando no envolvimento da KGB, policia política soviética, com dissidentes russos.

Ficha técnica:
Titulo : Mistério no Parque Gorky/Gorky Park
Direção:  Michel Apted
Elenco : William Hurt e Lee Marvin
Gênero         Suspense
Duração       128 minutos


sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Sacrificatio





Em 29 de dezembro de 1986, aos 54 anos, morria Andrei Arsenyevich Tarkovski, após uma longa e penosa enfermidade. O cineasta soviético deixou o seu nome inscrito na história do cinema com uma vasta obra que culmina com o filme Sacrifício  -Sacrificatio–, rodado na Suécia, e que conquistou simultaneamente todos os prêmios do festival de Cannes, com uma longa e complicada história em 143 ricos e complexos minutos.
O Sacrifício nada mais é do que a história de um homem vulgar e fraco, que não é e nem se propõe a ser um herói, mas um pensador que resolve se sacrificar de modo amplo, abdicando inclusive do poder e da vida.
O filme tem a ver com a própria vida do autor, que o dedica ao seu filho e viveu a experiência de uma longa enfermidade, que acabou lhe custando a vida. Ele faz uma avialiação críitica meticulosa da condição do homem pós-moderno, da sua finitude e da sua impotência ou mesmo da sua realidade absurda diante da arte e da vida com as suas circunstâncias.
Em síntese, o filme deve também ser visto como uma grande metáfora na busca da descoberta da essência da própria vida não apenas como um drama existencial e até sem sentido ou mesmo como uma obra de arte, mesmo finita, o que é possível,
Para quem não o conhece, Tarkovski nasceu na aldeia de Zavrazhye no Distrito de Ivanovo em Volga. Seu pai, Arseny Alexandrovich Tarkovsky foi um dos mais cultuados poetas russos modernos, que lutou no exército soviético durante a Segunda Guerra e perdeu uma das pernas na frente de combate. Tarkovski ficou com a mãe, mudando-se com ela e sua irmã Marina para Moscou.
Em 1939, Tarkovski se matriculou na escola 554 de Moscou, que teve de ser evacuada com a ameaça da invasão nazista. Todas estas passagens e impressões de sua infância - a evacuação na guerra, sua mãe com seus dois filhos pequenos, a ausência do pai, e o tempo no hospital, foram registradas no filme auto-biográfico "O Espelho", de cunho autobiográfico.
Em 1956, Tarkovski dirigiu seu primeiro curta-metragem ainda como aluno da escola de cinema, The Killers, a partir de um conto de Ernest Hemingway. O curta-metragem There Will Be No Leave Today e o roteiro Concentrated em 1958 e 1959 sucessivamente completam sua experiência na academia.
Tarkovski dirigiu apenas sete longas-metragens, bem como três curtas de seu tempo em VGIK. Ele também escreveu vários roteiros. No palco, dirigiu ainda a peça Hamlet em Moscou, a ópera Boris Godunov, em Londres, e uma produção de rádio do conto Turnabout por William Faulkner. Além disso, escreveu Esculpindo o Tempo, um livro sobre a teoria do cinema.
O primeiro longa de Tarkovski foi Infância de Ivan, em 1962. seguido de Andrei Rublev , em 1966, Solaris , em 1972, O Espelho em 1975 e Stalker, em 1979.  O documentário Viagem no Tempo foi produzido na Itália, em 1982, onde também rodou Nostalgia em 1983. Seu último filme, O Sacrifício, foi produzido na Suécia em 1986. Tarkovski escreveu os roteiros para todos os seus filmes, muitas  vezes com um co-roteirista, porque acreditava que um diretor que realiza roteiro de outra pessoa sem estar envolvido da sua elaboração  em torna-se um mero ilustrador, o que resultando em filmes e monótonos e sem sentido. (Kleber Torres)

Ficha técnica:
Título: Sacrificio (Offret, Sacrificatio)
Direção : Andréi Tarkovski y Michal Leszczyłowski

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O outro lado da história oficial




Laureado com o Oscar 1986 de melhor filme estrangeiro, e por prêmios em diversos festivais  internacionais de cinema em Cannes, Toronto e Cartagena, o filme História Oficial (The Official Story) traça um retrato em preto e branco sobre a ditadura militar que dominou a Argentina, deixando um saldo de 30 mil mortos pela repressão policial, uma economia em ruínas e uma fragorosa derrota na Guerra das Malvinas, em que custou a vida de milhares de jovens recrutas num confronto com a Inglaterra.
O filme dirigido por Luis Puenzo, que também cuidou da elaboração do roteiro, narra, sempre em linguagem direta e objetiva, a história de uma família de classe média que adota uma criança Gaby, que teve seus pais assassinados  pelo sistema repressivo e acabou sendo adotada por um casal sem filhos, com bom nível social e considerado integrado ao sistema.
Tudo gira em torno das investigações iniciadas pela mãe adotiva da criança, Alicia, uma professora de história que ensinava no curso médio,  e em uma escola para estudantes de famílias abastadas com alto padrão de renda.  Se na escola ela era posta em cheque pelos alunos que contestavam a própria história oficial e o regime militar vigente na Argentina, em casa,  vivia um drama pessoal.
Pesava a suspeita sobre a criança trazida pelo marido, um executivo em ascensão e com ligações com a máquina de repressão política e social, fortalecidas por uma série de indícios, e que se confirmam após os seus primeiros contatos com as mulheres da Plaza de Mayo, que montaram uma central de informações e um centro de pesquisas  para localizar familiares dos desaparecidos  e crianças tomadas dos seus pais pela policia para adoção por profissionais  liberais e mesmo por agentes policiais, que se encarregariam de dar uma educação integrada ao sistema  e de acordo com as regras do jogo político vigente para estes jovens filhos de dissidentes do regime.
No filme tudo é verossímil. O elenco reúne nomes como os de Hector Alterio, Norma alleandro, Hugo Arana, Guillermo Battaglia, Chela Ruiz e Patricio Contreras,  com um excelente desempenho dramático e conseguindo revelar com realismo o drama de um povo submetido a uma das mais sangrentas ditaduras, que não apenas determinava as regras do jogo do poder e da vida, como também interferia como todas as ditaduras de direita e de esquerda na própria falsificação da história,  fazendo da mentira a verdade,  ou até mesmo colocando potenciais assassinos como fabricantes da história.
Historia Oficial é um filme importante, porque recompõe como se fosse um documentário, os bastidores de um drama humano e real, demonstrando que a arte pode servir de instrumento de denuncia sem precisar cair na roda viva do panfleto e da mera oposição política pela oposição.  O drama vivido pelos personagens é universal e isto é que resultou na conquista de prêmios internacionais, além  de um espaço definitivo para o cinema argentino no caminho da maturidade.
Vale salientar que entre as mais de 500 crianças afastadas de suas famílias durante a ditadura na Argentina, cerca de 120, o equivalente  25% haviam sido   localizadas até 2014 pelas avós da Praça de Maio, que permanecem em sua vigília até os dias de hoje.(Kleber Torres)


Ficha Técnica

Título original: La Historia Oficial
Direção: Luis Puenzo
Elenco: Hector Alterio, Norma alleandro, Hugo Arana, Guillermo Battaglia, Chela Ruiz e Patricio Contreras, 
Gênero: Drama
Ano de Lançamento (Argentina): 1985

Duração: 112 min