O humor
é, sem dúvida alguma, a forma mais refinada de inteligência e desta forma Mel
Brooks reescreve cinematograficamente com muita competência e irreverência a
sua versão caricata da História do Mundo I, com sarcasmo, ironia e curtição. No
filme, ele faz uma releitura da história com sinopses da
Idade da Pedra, da revolução francesa, da Inquisição e do Império Romano, em
sua glória e decadência.
O
próprio Mel Brooks interpreta alguns dos
papéis principais em cada um dos capítulos do filme onde contracena com Don de Louise e Harvey Korman, reescrevendo a
história a seu modo com competência suficiente para recolocar no final Adolfo
Hitler como um patinador e re(avaliar) ficcionalmente a conquista do espaço
pelos judeus.
A
obra de fôlego é pretensiosa como
sátira, redefinindo e reescrevendo a história do homem desde o Homo Sapiens e
curtindo as invenções desde a descoberta do fogo, das armas e consequentemente
da guerra, bem como os contatos ritualistas do homem com a morte e as suas
descobertas primevas.
Um
salto qualitativo no enredo está na sequencia do Império Romano, onde o freak
Caesar Park e companhia aparece ao lado do maior cigarro de maconha já produzido
na história do cinema e do mundo, o Big John, que derruba com humor o espectador mais sisudo e careta.
Afinal, como dizia Millôr Fernandes, o humor é a quintessência da seriedade e
naturalmente do deboche.
A
corrupção também é referenciada no decadente Império Romano, e também é transfigurada
em imagens sutis e com muita propriedade por Mel Brooks, cineasta que tem a seu
crédito filmes como Banzé no Oeste e Banzé na Russia, dentre outros, sempre
como um critico arguto e que usa os recursos da metalinguagem. Assim, ele reproduz
e reduz no cinema a linguagem do próprio cinema de forma questionadora e ao
mesmo tempo bem humorada.
No
caso da sequencia da inquisição espanhola, Brooks a transforma numa opera rock
muito louca, onde a caricatura da tortura assume a sua função desconstrutivista
e Toequemada, o inquisdor mor, passou para o ridículo, que seria o seu papel
real na história.
Mas
a reescrevência da história aparece como
algo importante neste contexto critico e do humor, numa contraposição com uma aparente
deturpação da realidade numa dialética em que os vilões são heróis e as vitimas os
bandido. Assim, Brooks tem a felicidade
de redefinir os papéis e de modificar o contexto dos fatos, com piadas picantes e as vezes
ingênuas, que em muitos casos podem até não serem entendidas pelo espectador
menos culto, mais ingênuo ou desatento.
Na
revolução Francesa ele retoma o pique e goza dos reis, dos revolucionários, dos
bastidores do poder e mergulha na critica da própria sociedade e das suas
contradições, recompondo não a história e nem a estória, mas os dramas humanos
embutidos por trás de duas questões básicas :a sobrevivência e a dignidade. Neste sentido o filme aparece
como um libelo contra governos autoritários e ditatoriais, o que também é uma
tarefa do humor na luta contra os opressores de plantão.
Mel
Brooks não é porem um humorista simplista, ele desce ao nível de analise e
mergulha nas questões sociais subjacentes. Ele é um político ao seu modo, ou
seja, com humor, mordacidade e irreverência, usando os recursos e atributos da
inteligência. Também questiona como judeu o próprio humor judaico com ironia e
sem esboços do intelectualismo.
Brooks
vai a fundo na critica ao rock, às drogas, à sociedade de consumo e à hipocrisia e esboça o seu próprio quadro
multifacetado da história em relação ao século XX, sabendo que o homem pós-moderno
é o mesmo e que não mudou e nem tem chances para tal. Por isso mesmo a maior
chance estaria no humor, no riso e talvez numa nova proposta anárquica decerto,
pois parece que ele sabe que o destino do homem acima e antes de tudo é ser
feliz e se preciso contestador.(Kleber Torres)
Ficha técnica:
Título: History of the World: Part I (Original)
Direção: Mel Brooks
Elenco: Cloris
Leachman, Dom DeLuise, Gregory Hines, Harvey Korman, Madeline Kahn, Mel Brooks,
Orson Welles
Roteiro:
Mel Brooks
Duração 92 minutos
Ano
: 1981