Estruturado
como uma espécie de concerto em que a música seria as próprias palavras emergindo
na tela, o documentário O Argumento de
50 Anos (The 50 Year Argument) sobre
a história do The New York Review of Books, uma revista
de crítica literária considerada uma referência em todo o mundo e que influenciou
escritores, intelectuais e leitores ao longo dos últimos anos, foi composto a quatro mãos pelo cineasta Martin
Scorsese e David Tedeschi, lançando mão
de entrevistas e imagens de arquivo para transmitir a emoção desejada na
construção de sua memória histórica.
A New York Review of
Books nasceu em 1963, como uma revista e hoje tem também um blog, e como o
próprio nome define, com o foco em resenhas literárias. Ela surgiu a partir de uma greve geral nos jornais de Nova York, bem como pela insatisfação
sobre o modo como os livros costumavam ser resenhados.
Em pouco tempo, The New York Review of Books
se tornou uma das principais referências para autores de todo o mundo,
não apenas publicando artigos, contos e ensaios, como se engajando
politicamente em debates sobre questões como por exemplo: a Guerra do Vietnã,
da invasão do Iraque, do occupy Wall Street e o controle da mídia.
A ideia do projeto editorial da publicação foi
gestada pelo poeta Robert Lowell e sua mulher, a
crítica literária e escritora Elizabeth Hardwick, que discutiram a proposta com
o editor Jason Epstein e sua mulher, Barbara, e depois convidaram o amigo
Robert Silvers para ser editor da publicação ao lado de Barbara Epstein, que
morreu em 2006. Todos concordavam em dois pontos básicos: os livros eram editados e não
havia espaço para a sua divulgação e, como dizia, o poeta Thomas Stern Elliot, a
função da crítica é ser a mais inteligente possível.
O próprio Silvers, então com 84
anos durante as filmagens do documentário O
Argumento de 50 Anos, conta no filme que a ideia era tornar a publicação uma
parte do sistema (establishment),
analisando-o criticamente a partir do seu interior, o
que sem dúvida a tornou uma instituição reconhecida cobrindo
arte, política e grandes temas atuais. Entre as análises divulgadas na publicação
estão artigos de Elizabeth Hardwick, sobre Selma; de Joseph Krafts, sobre quem
eram os vietcongs ou de Hanna Arendt, que se celebrizou com a tese sobre a
banalização do mal, com um ensaio sobre o Papa João XXIII.
Já o filme tem como base uma
premissa básica de que a única verdade é a verdade narrativa, a memória das
experiências diretas como também do intercâmbio de mentes, como admite Oliver
Sacks em seu depoimento, que aparece como um dos entrevistados ao lado de Robert
Silvers em seu gabinete abarrotado de livros; do linguista Noam Chomsky, destacando
sobre a responsabilidade dos intelectuais: “falar a verdade e expor as mentiras”
ou o dramaturgo irlandês Colm Toibin. O documentário recorre a imagens de
arquivo filmadas por escritores como Susan Sontag, James Baldwin, declarando
que “nós não inventamos os negros, os
brancos inventaram”, além Norman Mailler e outros nomes célebres como Andy Warhol.(Kleber Torres)
Ficha Técnica
Título: O argumento de 50 anos (The New York Review of Books:
A 50 Year Argument)
Direção e roteiro: David Tedeschi e Martin Scorsese
Elenco: Robert Silvers, Oliver
Sacks, Joan Didion, Michael Chabon, Noam Chomsky, Norman Mailer
Estreia: 2014
Gênero: Documentário