Absolvido da acusação de plágio pelo tribunal
da Califórnia ao reconhecer que a história de A Forma de Água (The shape of water), filme do diretor Guillermo
del Toro e do estúdio Fox Searchlight, apesar da similaridade com a peça, “Let
Me Hear Your Whisper”, do escritor Paul Zinder, nada tinha a ver em essência com a história de
Helen, uma mulher solitária que trabalhava em um centro de pesquisas durante a
Guerra Fria e criou uma compaixão por um golfinho, o qual conversa apenas com
ela, a quem decide resgatar do laboratório quando o animal foi ameaçado por um grupo
de cientistas, mas sem desenvolver nenhum vínculo sentimental e afetivo.
A diferença fundamental, é que a A Forma
da Água embora tenha como cenário época da Guerra Fria e do rock, retrata a
história de Elisa Esposito (Sally Hawkins), que também trabalha em um
laboratório de pesquisa e acaba se envolvendo com uma estranha criatura mantida
em cativeiro e mal tratada pelos cientistas americanos, que disputam a sua posse
com um grupo de espiões russos os quais planejavam o seu sequestro ou a sua
eliminação. Já Elisa, cria um elo afetivo com a criatura e decide resgatá-la do
laboratório, levando-a para o seu apartamento, dando vazão a um inimaginável caso
de amor entre um ser humano e uma criatura monstruosa misto de homem e anfíbio.
A grande similaridade porém de
A Forma da Água, que conquistou quatro
Oscars em 2018 – de melhor filme, melhor diretor, trilha sonora original e melhor
direção de arte, além de abocanhar o Leão de Ouro, do Festival de Veneza de 2017
e de outros 11 prêmios em diversos festivais -, é segundo Guillermo Del Toro a
sua inspiração no cult movie da Universal, O Monstro da Lagoa Negra (Creature of the Black Lagoon), de 1954, dirigido por Jack Arnold
e que tem como base uma história em que o pesquisador Carl Maia fotografa o que parece ser a
nadadeira de um anfíbio presumivelmente extinto.
O cientista
volta aos Estados Unidos para revelar sua descoberta e obter apoio financeiro para o
projeto de pesquisa visando a sua captura, mas ao retornar à Amazônia, o grupo
ruma para a Lagoa Negra, onde encontra uma misteriosa criatura anfíbia interpretada
por Bem Chapmann (nas cenas em terra) e Ricon Browning (na água), que pode ser
o elo perdido entre duas espécies - uma aquática e outra terrestre.
Como uma espécie
de continuação não oficial de O Monstro
da Lagoa Negra, o filme A Forma da
Água é ambientada também na década de
60, mas reconstituída com requinte nas cores, nos cenários cuidados, nos
veículos e até mesmo no fundo musical das cenas, revelando ao mesmo tempo os
cenários dos conflitos políticos e transformações sociais e
culturais dos Estados Unidos durante a Guerra Fria.
Neste
cenário, a muda Elisa Esposito, trabalha
como faxineira em um laboratório experimental e secreto do governo americano, para
onde é transportada uma estranha criatura anfíbia – que se parece na forma com o
Monstro da Lagoa Negra - , mantida presa e torturada por um sádico agente do serviço secreto Richard Strickland (Michael Shannon),
que é por outro lado um dedicado pai de família e cuidadoso proprietário de um vistoso
cadillac verde, o que o torna um personagem típico da banalidade do mal, como
aquele homem que apenas realiza o seu trabalho acima das considerações éticas,
morais e humanitárias.
Penalizada
com o tratamento dado à criatura, que seria testada na corrida espacial com os
russos – que sabem da sua existência e infiltram um agente para acompanhá-lo e
ate matá-lo se preciso para que não fosse usado na corrida militarista de poder
-, por quem desenvolve um elo
sentimental e de comunicação não verbal, Elisa recorre ao
melhor amigo e vizinho Giles (Richard Jenkins) e à colega Zelda (Octavia Spencer), para sequestra-lo do centro de pesquisa, em
uma aventura de alto risco e que pode custar o seu emprego e quem sabe até a
sua própria vida, depois de uma perseguição implacável.
Hoje, num período em que o politicamente correto parece guiar as decisões
no campo ético e moral, alguns críticos consideram que o filme é uma ode aos
desajustados, aos incompreendidos, aos marginais, e em síntese aos
párias que estão à margem de tudo. Em compensação, o cineasta Guillermo del Toro consegue, com A Forma de Água, um título poético e metafórico, construir um filme de
grande beleza plástica e marcado por um
universo mágico, com elenco destacado por excelentes interpretações
e um final surpreendente, o que o torna
um drama essencialmente romântico e que ao mesmo escapa à pieguice e à mesmice.
Ficha técnica
Título
:
The shape of water (A forma da água)
Direção: Guillermo
del Toro
Roteiro:
Guillermo
del Toro e Vanessa Taylor
Elenco: Sally Hawkins (Elisa Esposito), Michael
Shannon (Richard Strickland), Richard Jenkins (Giles), Octavia Spencer (Zelda),
Michael Stuhlbarg, (Dr. Robert Hoffstetler), Doug Jones (Homem anfíbio), David
Hewlett (Fleming), Nick Searcy (General Hoyt)
Trilha
sonora: Alexandre Desplat
Diretor
de fotografia: Dan
Laustsen
Cenografia: Paul
D. Austerberry
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