segunda-feira, 29 de abril de 2019

Um argumento da crítica e da inteligência




Estruturado como uma espécie de concerto em que a música seria as próprias palavras emergindo na tela, o documentário O Argumento de 50 Anos (The 50 Year Argument)  sobre a  história do The New York Review of Books, uma revista de crítica literária considerada uma referência em todo o mundo e que influenciou escritores, intelectuais e leitores ao longo dos últimos anos,  foi  composto a quatro mãos pelo cineasta Martin Scorsese e David Tedeschi,  lançando mão de entrevistas e imagens de arquivo para transmitir a emoção desejada na construção de sua memória histórica.
A New York Review of Books nasceu em 1963, como uma revista e hoje tem também um blog, e como o próprio nome define, com o foco em resenhas literárias. Ela surgiu a partir de uma greve geral nos jornais de Nova York, bem como pela insatisfação sobre o modo como os livros costumavam ser resenhados.
Em pouco tempo, The New York Review of Books  se tornou uma das principais referências para autores de todo o mundo, não apenas publicando artigos, contos e ensaios, como se engajando politicamente em debates sobre questões como por exemplo: a Guerra do Vietnã, da invasão do Iraque, do occupy Wall Street e o controle da mídia.
A ideia do projeto editorial da publicação foi gestada pelo poeta Robert Lowell e sua mulher, a crítica literária e escritora Elizabeth Hardwick, que discutiram a proposta com o editor Jason Epstein e sua mulher, Barbara, e depois convidaram o amigo Robert Silvers para ser editor da publicação ao lado de Barbara Epstein, que morreu em 2006. Todos concordavam em dois  pontos básicos: os livros eram editados e não havia espaço para a sua divulgação e,  como dizia, o poeta Thomas Stern Elliot, a função da crítica é ser a mais inteligente possível.
O próprio Silvers, então com 84 anos durante as filmagens do documentário O Argumento de 50 Anos, conta no filme que a ideia era tornar a publicação uma  parte do sistema (establishment), analisando-o criticamente a partir do seu interior, o que sem dúvida a  tornou uma instituição reconhecida cobrindo arte, política e grandes temas atuais. Entre as análises divulgadas na publicação estão artigos de Elizabeth Hardwick, sobre Selma; de Joseph Krafts, sobre quem eram os vietcongs ou de Hanna Arendt, que se celebrizou com a tese sobre a banalização do mal, com um ensaio sobre o Papa João XXIII.
Já o filme tem como base uma premissa básica de que a única verdade é a verdade narrativa, a memória das experiências diretas como também do intercâmbio de mentes, como admite Oliver Sacks em seu depoimento, que aparece como um dos entrevistados ao lado de Robert Silvers em seu gabinete abarrotado de livros; do linguista Noam Chomsky, destacando sobre a responsabilidade dos intelectuais: “falar a verdade e expor as mentiras” ou o dramaturgo irlandês Colm Toibin. O documentário recorre a imagens de arquivo filmadas por escritores como Susan Sontag, James Baldwin, declarando que “nós não  inventamos os negros, os brancos inventaram”, além Norman Mailler e outros nomes célebres como Andy Warhol.(Kleber Torres)


Ficha Técnica

Título: O argumento de 50 anos (The New York Review of Books: A 50 Year Argument)
Direção e roteiro:   David Tedeschi e  Martin Scorsese
Elenco: Robert Silvers, Oliver Sacks, Joan Didion, Michael Chabon, Noam Chomsky, Norman Mailer
Estreia: 2014
Gênero: Documentário

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