Com um custo de
quase R$ 9 milhões, o filme Chatô, o Rei do Brasil, produzido, dirigido e
roteirizado por Guilherme Fontes,
baseado na obra literária de Fernando Morais, que escreveu uma alentada
biografia de Assis Chateubriand, um magnata das comunicações no Brasil e que
comandou o império dos Diários Associados, englobando uma poderosa rede de rádios,
jornais e emissoras de televisão, ficou muito aquém do esperado. Como resultado,
o filme acabou com um sabor de comédia e chanchada, mas muito distante da
realidade de um homem que influenciou de forma decisiva a política, a economia
e a própria cultura brasileira com a criação do Museu de Arte Moderna de São
Paulo.
A história começa a partir do momento em que Assis
Chateaubriand, o Chatô, interpretado por Marco Ricca sofre um AVC nos anos 60 do século
passado. A narrativa também resgata as origens humildes do magnata das
comunicações, que foi criança pobre no sertão da Paraíba e imobilizado no leito
de uma unidade de terapia intensiva no final da sua vida, se imaginava julgado
em um programa de televisão similar ao Buzina do Chacrinha, que foi em
realidade dirigido por José Abelardo Barbosa de Medeiros.
Chatô resultou numa
versão escrachada da vida do fundador dos Diários Associados. No enredo, o
personagem interpretado por Marco Ricca, pode até ser identificando por alguns traços
da personalidade do biografado como o cinismo e a visão debochada, bem como
pelo seu lado autoritário, machista, mulherengo e histriônico, mas ao mesmo
tempo carrega exageros no seu sotaque nordestino e na fala arrastada, tornando-o
personagem uma caricatura descaracterizada do empresário e jornalista, que sempre
teve sua vida associada aos poderosos de plantão .
No filme, a vida de Chatô é posta em julgamento num
programa popular de auditório transmitido pela TV em pleno horário nobre dominical.
No programa emergem desafetos como Getúlio Vargas (Paulo Betti) e Gabriel Braga
Nunes (Carlos Rosemberg, que seria o seu rival Samuel Wainer, fundador do
Última Hora) ou antigas paixões como Andréa Beltrão, na pele da socialite Vivi
Sampaio, desfilando ao lado de Leandra Leal (Lola) e Eliane Giardini (Consuelo).
O filme que nasceu de um projeto muito ambicioso e envolveu
uma série de ações judiciais diversas para ressarcimento dos cofres públicos em
função dos financiamentos concedidos, demorando 20 anos para chegar às telas dos
cinemas. Ele conquistou o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte
de São Paulo Grande APCA – e acabou
consagrado como vencedor do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2016, abocanhando
quatro prêmios concedidos a
longa-metragens, inclusive o de melhor diretor para Guilherme Fontes.
Há quem considere que Guilherme Fontes buscou na sua obra
inspiração no clássico Cidadão Kane, de Orson Welles, considerado uma obra
prima de cinema, bem como em outros
cineastas influentes como Martin Scorsese, Federico Fellini e mesmo no Cinema
Novo, mas acabou se perdendo ao produzir uma comédia com uma história que não
só envolve um drama, como também a tragédia de um empresário que construiu um
império de comunicação, mas viu, ainda em vida, o edifício começar a ruir,
preso num leito hospitalar onde ainda mesmo assim, encontrava tempo para os
seus limitados prazeres do sexo, para uma revisão da sua vida ou até mesmo remissão
dos pecados.(Kleber Torres)
Ficha
técnica:
Título : Chatô,
o Rei do Brasil
Direção: Guilherme
Fontes
Roteiro: João
Emanuel Carneiro, Matthew Robbins e Guilherme Fontes,
baseado no livro Chatô, o Rei do Brasil, de Fernando Morais
Elenco: Marco
Ricca, Andréa Beltrão, Paulo Betti, Leandra Leal, Eliane Giardini e Gabriel
Braga Nunes
Gênero: Comédia
Lançamento: 2015
Brasil
cor
102 min
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