segunda-feira, 15 de abril de 2019

A chanchada descaracterizou o rei do Brasil ?




Com um  custo de quase R$ 9 milhões, o filme Chatô, o Rei do Brasil, produzido, dirigido e roteirizado  por Guilherme Fontes, baseado na obra literária de Fernando Morais, que escreveu uma alentada biografia de Assis Chateubriand, um magnata das comunicações no Brasil e que comandou o império dos Diários Associados, englobando uma poderosa rede de rádios, jornais e emissoras de televisão, ficou muito aquém do esperado. Como resultado, o filme acabou com um sabor de comédia e chanchada, mas muito distante da realidade de um homem que influenciou de forma decisiva a política, a economia e a própria cultura brasileira com a criação do Museu de Arte Moderna de São Paulo.
A história começa a partir do momento em que Assis Chateaubriand, o Chatô, interpretado por  Marco Ricca sofre um AVC nos anos 60 do século passado. A narrativa também resgata as origens humildes do magnata das comunicações, que foi criança pobre no sertão da Paraíba e imobilizado no leito de uma unidade de terapia intensiva no final da sua vida, se imaginava julgado em um programa de televisão similar ao Buzina do Chacrinha, que foi em realidade dirigido por José Abelardo Barbosa de Medeiros.
Chatô  resultou numa versão escrachada da vida do fundador dos Diários Associados. No enredo, o personagem interpretado por Marco Ricca, pode até ser identificando por alguns traços da personalidade do biografado como o cinismo e a visão debochada, bem como pelo seu lado autoritário, machista, mulherengo e histriônico, mas ao mesmo tempo carrega exageros no seu sotaque nordestino e na fala arrastada, tornando-o personagem uma caricatura descaracterizada do empresário e jornalista, que sempre teve sua vida associada aos poderosos de plantão .
No filme, a vida de Chatô é posta em julgamento num programa popular de auditório transmitido pela TV em pleno horário nobre dominical. No programa emergem desafetos como Getúlio Vargas (Paulo Betti) e Gabriel Braga Nunes (Carlos Rosemberg, que seria o seu rival Samuel Wainer, fundador do Última Hora) ou antigas paixões como Andréa Beltrão, na pele da socialite Vivi Sampaio, desfilando ao lado de Leandra Leal (Lola) e Eliane Giardini (Consuelo).
O filme que nasceu de um projeto muito ambicioso e envolveu uma série de ações judiciais diversas para ressarcimento dos cofres públicos em função dos financiamentos concedidos, demorando 20 anos para chegar às telas dos cinemas. Ele  conquistou o  prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte de São Paulo Grande  APCA – e acabou consagrado como vencedor do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2016, abocanhando  quatro prêmios concedidos a longa-metragens, inclusive o de melhor diretor para Guilherme Fontes.
Há quem considere que Guilherme Fontes buscou na sua obra inspiração no clássico Cidadão Kane, de Orson Welles, considerado uma obra prima de cinema, bem como  em outros cineastas influentes como Martin Scorsese, Federico Fellini e mesmo no Cinema Novo, mas acabou se perdendo ao produzir uma comédia com uma história que não só envolve um drama, como também a tragédia de um empresário que construiu um império de comunicação, mas viu, ainda em vida, o edifício começar a ruir, preso num leito hospitalar onde ainda mesmo assim, encontrava tempo para os seus limitados prazeres do sexo, para uma revisão da sua vida ou até mesmo remissão dos pecados.(Kleber Torres)

Ficha técnica:
Título : Chatô, o Rei do Brasil
Direção: Guilherme Fontes
Roteiro: João Emanuel Carneiro, Matthew Robbins e Guilherme Fontes,
baseado no livro Chatô, o Rei do Brasil, de Fernando Morais
Elenco: Marco Ricca, Andréa Beltrão, Paulo Betti, Leandra Leal, Eliane Giardini e Gabriel Braga Nunes
Gênero: Comédia
Lançamento: 2015
Brasil
cor
102 min

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