terça-feira, 16 de abril de 2019

A vida e o recomeço de um homem chamado Ove







Resiliência, ou seja, a capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças ao longo da vida com todas as suas desditas esta é a chave para compreensão do filme  Um Homem Chamado Ove (En Man Som Heter Ove), dirigido e roteirizado pelo cineasta Hannes Holm, a partir de um  romance de Carl Fredrik Backman, narrando a história de um velho ranzinza, aposentado e solitário depois da morte de sua mulher, que chega a tentar o suicídio como forma de sair do isolamento e da falta de perspectivas na rotina do seu  dia a dia.

Tudo começa a mudar com a chegada de  novos vizinhos para a casa em frente à sua e o nascimento de uma amizade inesperada, tirando  Ove (Rolf Lassgård) da sua rotina cotidiana de acordar, cuidar da casa, fechar a porta de casa  por três vezes, um sinal de transtorno obsessivo-compulsivo, complementados pela insana tarefa de checar os estacionamentos do condomínio onde vive, agindo como um fiscal da comunidade, anotando as placas dos veículos nas vagas de cada imóvel ou até mesmo guardando as bicicletas dos jovens recalcitrantes. Ele também fiscaliza a passagem de veículos nas ruas, reclamando dos infratores e  checando se o portão de acesso ao conjunto residencial no interior da Suécia está trancado.

O que seria o comportamento de um sexagenário caturra da terceira idade, acaba reforçado por Ove, que se  irrita e implica com facilidade com os vizinhos, por todos os motivos imagináveis, o que o deixa ainda mais isolado. Afetado  após da morte da mulher, a quem dedicava atenção e um carinho especial, a sua situação foi agravada com a sua demissão após várias décadas da empresa onde trabalhava, o que o reduziu à condição de um solitário aposentado.

Assim, isolado e sem perspectivas, Ove resolve dar um fim à própria vida, enforcando-se no lustre da sala de sua casa, justo no momento em que percebe a chegada de novos vizinhos, o que acaba mudando de ponta a cabeça a sua vida. Ele foi interrompido de colocar a corda no pescoço com a chegada da nova vizinha que pode ajuda para a mudança.

Montado a partir de flashbacks, o filme mostra ações intercaladas do passado e do presente na vida de Ove, desde a infância até a velhice solitária e rebugenta, onde o suicídio aparece como um tema transversal e recorrente. Ove é interpretado por Filip Berg na sua juventude e  por  Viktor Baagoe  enquanto criança de uma família sueca tradicional.

O jovem Ove se mostra fascinado por veículos Saabs e motores de carros, além de ser despertado por uma paixão juvenil -comum à maioria dos adolescentes- pela professora Sonja (Ida Engvoll) e desenvolver um ódio justificável pelos burocratas de um país em mudança no campo social e cultural com a chegada de migrantes multirraciais da América Latina, da África  e do Oriente Médio.
O fato é que neste interim, Ove  começa a amizade com os novos vizinhos, entre os quais  a migrante iraniana Parvaneh (Bahar Pars), uma gestante com duas filhas (Nelly JamaraniZozan Akgun), e seu  marido Patrik (Tobias Almborg), o que dá à Ove a chance de uma guinada nas suas perspectivas da vida através de uma mudança gradual e percebida por todos os que vivem no seu entorno na mesma comunidade onde residem.
O filme  sueco disputou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2017, concorrendo também na categoria Melhor Maquiagem e Cabelo. As atuações de Lassgård e de Berg como idoso e jovem são convincentes, refletindo com rigor a construção de um mesmo personagem, enquanto Sonja (Ida Engvoll), é a mulher  do protagonista que emerge a partir de flashbacks desde a forma que se conhecem até a sua morte. Tudo isso se soma numa história humana, que nos leva a uma profunda reflexão sobre a vida e a resiliência, talvez a chave permanente para todo e qualquer recomeço, mostrando que a esperança é talvez a última que morre. (Kleber Torres)



Ficha técnica

Título: Um Homem Chamado Ove (En Man Som Heter Ove)
Direção: Hannes Holm
Roteiro: Hannes Holm baseado em um romance de Carl Fredrik Backman, com o mesmo título
Elenco:  Rolf Lassgård,  Bahar Pars, Filip Berg, Ida Engvoll, Tobias Almborg, Klas Wiljergård, Chatarina Larsson, Börje Lundberg, Stefan Gödicke, Johan Widerberg, Anna-Lena Brundin, Nelly Jamarani, Zozan Akgün, Viktor Baagøe
Duração: 116 min
Suécia – 2015

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