Resiliência,
ou seja, a capacidade de se recobrar
facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças ao longo da vida com
todas as suas desditas esta é a chave para compreensão do filme Um Homem Chamado Ove
(En Man Som Heter Ove), dirigido e roteirizado pelo cineasta Hannes Holm, a partir de um romance de Carl Fredrik Backman, narrando a
história de um velho ranzinza, aposentado e solitário depois da morte de
sua mulher, que chega a tentar o suicídio como forma de sair do isolamento e da
falta de perspectivas na rotina do seu dia a dia.
Tudo começa a mudar com a chegada de novos vizinhos para a casa em frente à sua e o
nascimento de uma amizade inesperada, tirando Ove (Rolf Lassgård) da sua rotina
cotidiana de acordar, cuidar da casa, fechar a porta de casa por três vezes, um sinal de transtorno
obsessivo-compulsivo, complementados pela insana tarefa de checar os estacionamentos
do condomínio onde vive, agindo como um fiscal da comunidade, anotando as
placas dos veículos nas vagas de cada imóvel ou até mesmo guardando as
bicicletas dos jovens recalcitrantes. Ele também fiscaliza a passagem de veículos
nas ruas, reclamando dos infratores e checando
se o portão de acesso ao conjunto residencial no interior da Suécia está
trancado.
O que seria o comportamento de um sexagenário caturra da
terceira idade, acaba reforçado por Ove, que se irrita e implica com facilidade com os
vizinhos, por todos os motivos imagináveis, o que o deixa ainda mais isolado. Afetado
após da morte da mulher, a quem dedicava
atenção e um carinho especial, a sua situação foi agravada com a sua demissão
após várias décadas da empresa onde trabalhava, o que o reduziu à condição de
um solitário aposentado.
Assim, isolado e sem perspectivas, Ove resolve dar um fim à própria
vida, enforcando-se no lustre da sala de sua casa, justo no momento em que
percebe a chegada de novos vizinhos, o que acaba mudando de ponta a cabeça a
sua vida. Ele foi interrompido de colocar a corda no pescoço com a chegada da
nova vizinha que pode ajuda para a mudança.
Montado a partir de
flashbacks, o filme mostra ações intercaladas do passado e do presente na vida
de Ove, desde a infância até a velhice solitária e rebugenta, onde o suicídio
aparece como um tema transversal e recorrente. Ove é interpretado por Filip Berg na sua juventude e por Viktor Baagoe enquanto criança de uma família sueca
tradicional.
O jovem Ove se
mostra fascinado por veículos Saabs e motores de carros, além de ser despertado
por uma paixão juvenil -comum à maioria dos adolescentes- pela professora Sonja
(Ida Engvoll) e desenvolver um ódio justificável pelos
burocratas de um país em mudança no campo social e cultural com a chegada de
migrantes multirraciais da América Latina, da África e do Oriente Médio.
O fato é que neste
interim, Ove começa a amizade com os
novos vizinhos, entre os quais a migrante
iraniana Parvaneh (Bahar Pars), uma gestante com duas filhas
(Nelly Jamarani e Zozan Akgun), e seu marido Patrik (Tobias Almborg), o
que dá à Ove a chance de uma guinada nas suas perspectivas da vida através de
uma mudança gradual e percebida por todos os que vivem no seu entorno na mesma
comunidade onde residem.
O filme sueco disputou o
Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2017, concorrendo também na categoria
Melhor Maquiagem e Cabelo. As atuações de Lassgård e de Berg como idoso e jovem
são convincentes, refletindo com rigor a construção de um mesmo personagem,
enquanto Sonja (Ida Engvoll), é a mulher do protagonista que emerge a partir de flashbacks desde a forma que
se conhecem até a sua morte. Tudo isso se soma numa história humana, que nos
leva a uma profunda reflexão sobre a vida e a resiliência, talvez a chave permanente
para todo e qualquer recomeço, mostrando que a esperança é talvez a última que
morre. (Kleber Torres)
Ficha técnica
Título: Um Homem Chamado Ove (En Man Som Heter Ove)
Direção: Hannes Holm
Roteiro: Hannes Holm baseado em um
romance de Carl Fredrik Backman, com o mesmo título
Elenco: Rolf Lassgård, Bahar
Pars, Filip Berg, Ida Engvoll, Tobias Almborg, Klas Wiljergård, Chatarina
Larsson, Börje Lundberg, Stefan Gödicke, Johan
Widerberg, Anna-Lena Brundin, Nelly Jamarani, Zozan
Akgün, Viktor Baagøe
Duração: 116 min
Suécia – 2015
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