sábado, 23 de novembro de 2019

A face da tragédia tem um nome de mulher em Lady Macbeth





Sem nenhuma relação direta com a tragédia shakespeareana,  o filme inglês Lady Macbeth tem como base uma adaptação da peça "Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk", do escritor russo Nikolai Leskov, cuja apresentação mesmo sem nenhuma relação com o campo da política, mas tendo como pano de fundo a luta de classes dicotômicas entre servos e senhores, homens e mulheres, foi proibida na Rússia durante o período negro do stalinismo. Leskov, se inspirou numa das personagens de William Shakespeare, ao incorporar elementos trágicos da peça, captando a falta de empatia e arrogância daqueles que desprezam os seus subalternos ou a própria vida.
O filme num cenário da era vitoriana, tem a direção  competente de William Oldroyd e o roteiro assinado por  Alice Birch, uma dupla de estreantes em longas-metragens, mas que ambientaram a obra nos idos de 1865, período em que o livro foi lançado na Inglaterra. Lady Macbeth resgata cenário de uma Inglaterra rural no século 19 e tem como referência o debate e o lugar da mulher numa sociedade patriarcal e conservadora.
Lady Macbeth nos mostra os conflitos entre a masculinidade e a feminilidade no mundo. Mostra também como uma mulher, Katherinne (Florence Pugh), com uma interpretação magistral, deixa de ser uma figura submissa, que não tinha relações sexuiais com o marido, Alexander (Paul Hilton),  que a mandava se despir, ficar de costas para ele e olhando para a parede, enquanto o mesmo se masturbava.
As coisas mudam quando o marido viaja a negócios e ela começa a ter um caso com um dos agregados da fazenda, Sebastian (Cosmo Janis), que tinha uma relação sadomasoquista com uma das criadas da família. Katherinne também bebe todo o vinho do sogro Boris (Christhopher Fairbanks) e que estava na adega, e quando este a interpela lembrando o seu fracasso enm todas as missões, inclusive em dar um herdeiro, mas acaba morto pela nora.
Katherinne considera que o marido odiava o pai e a ela e que talvez não volte mais. Mas ele retorna, observando que ela ficou mais gorda e fedorenta, se tornando uma vagabunda na sua ausencia. Alexander acaba morrendo num confronto com o rival e a mulher. Para não deixar pistas de sua presença, os dois enterram o homem e o seu cavalo.
A coisa se complica com o aparecimento de um herdeiro de Alexander, que também acaba morto numa sequência de crimes sucessivos capitaneados por Katherinne, que joga sem nenhum pudor a culpa no amante e na criada com quem deixara de falar após se relacionar com Serbastian, que a acusou pela sequencia de crimes dizendo que "ela me sufocou, me perseguiu e é uma doença." Katherinne se defendeu dizendo que tudo era uma mentira deslavada e que "o menino era como um filho para mim e eu, simplesmente, não fiz nada".
Como a corda arrebenta do lado mais fraco, o amante a a criada acabam presos, e a herdeira da Lady Macbeth assume impune o comando dos bens e do patrimônio de uma rica família de latifundiários. Ela não foi julgada e nem condenada sequer numa primeira instância, mas continuou tendo o gosto e o sabor da liberdade dos justos pairando sempre acima dos limites imprecisos do bem ou do mal.(Kleber Torres)

Ficha técnica:
Direção: William Oldroyd
Roteiro: Alice Birch
Elenco: Florence Pugh, Cosmo Jarvis, Naomi Ackie, Paul Hilton, Christhopher Fairbanks,  Bill Fellows, Joseph Teague, Ian Conningham e Fleur Houdjik
Cinematografia : Ami Wegner
Gênero: Drama
Nacionalidade: Reino Unido
1h 29min
2016

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Os magnificos caminhos de Crown e a arte de roubar



Inovador na linguagem, com o uso de telas divididas em multiplas imagens nas mais diversas sequências, o filme Crown, o Magnifico (The Thomas Crown Affair), dirigido em 1968 pelo cineasta Norman Jewinson, a partir de um roteiro assinado por Alan R.Trustman, mostra que o roubo pode ser uma arte e também pode compensar, ganhando inclusive um Oscar. O filme teve um remake em 1999, com o título no  Thomas Crown, a arte do crime, com Pierce Brosnan e Rene Russo
Crown também tem sequências antológicas como a dos seis minutos de um jogo de xadrez, marcado pela sensualidade numa disputa entre o hedonista Thomas Crown (Steve McQueen) e a detetive Vickie Anderson (Faye Dunaway) , que acaba num dos mais longos beijos da história do cinema e de um vôo num planador amarelo.
Thomas Crown é um próspero executivo que comanda um roubo audacioso a um banco, coordenando um grupo de quatro homens, de chapéu, óculos escuros e revólveres com silenciadores, que não se conheciam e que que rendeu dois milhões e seiscentos mil dólares. O dinhero é colocando  em um veículo e transportado pelo motorista, contratado por US$ 50 mil, que o deixa numa  lata de lixo de cemitério, junto a uma lápide que dizia: "abençoados os puros de coração", enquanto os outros ladrões escapavam separadamente pelas ruas centrais de Nova York.
Crown viaja para a Europa e  deposita parte dos recursos roubados num banco suíço, em uma conta com codinome e acesso através de uma senha. Enquanto a polícia realiza investigações sem sucesso sobre o roubo milionário, surge Vickie Anderson, uma investigadora de uma agência de seguros, que deverá receber 10% da quantia recuperada. Vale lembrar que um dos destaques do filme é também a canção original The Windmills of Your Mind, de Michel Legrand.
Depois de analisar uma relação de cinco possiveis suspeitos, que teriam viajado para a Suiça após o roubo,  Vickie considera que cada crime tem uma pesonalidade e uma marca de quem o praticou. Ela tem certeza absolutra de que Crown foi o autor intelectual do roubo e começa a segui-lo ostensivamente a partir de um jogo de polo. 
Entre os dois surge uma forte atração e, mesmo sabendo que ela espera uma falha sua para prendê-lo, Crown, que se preocupa com o que quer ser amanhã, continua a se encontrar a investigadora, numa espécie de jogo entre gato e rato. Nesse interim, a polícia identifica e localiza o motorista envolvido no roubo que é colocado na mesma sala de Crown, mas não o reconhece.
Vickie se aproxima ainda mais do antagonista e amante.  Após um jantar, ela acaba indo ao seu apartamento, onde os dois jogam uma sensual partida de xadrez e ao perceber que seria derrotado pela adversária, Crown joga duro  e a chama para jogar uma outra coisa, que emerge numa fusão de imagens sensuais.
Ele também a leva para a praia e mesmo sabendo que tudo o que ele gastar acima do seu patrimonio seria rastreado pelo fisco americano, Crown planeja um outro roubo igual e uma fuga para um pais tropical cheio de florestas, samba, carnaval e Pão de Açúcar, que coincidentemente é o preferido para fugitivos do cinema e pelos nossos corruptos de plantão. Com o crime consumado, ele deixa um bilhete e o seu Rolls Royce preto para a Vickie e parte em busca de novas aventuras, porque pelo menos no cinema e muitas vezes na vida, o crime também compensa. (Kleber Torres)


Ficha técnica:

Título :  The Thomas Crown Affair (Crown, o Magnífico)
Direção: Norman Jewison
Roteiro: Alan R.Trustman
Elenco: Steve McQueen, Faye Dunaway, Paul Burke, Jack Weston, Yaphet Kotto, Gordon Pinset, Addison Powel e Bruce Glover
Cinematografista : Heskel Wexler
Música : Michel Legrand
Gênero: Policial, Suspense, Romance
Nacionalidade: EUA
Ano de produção 1968
Cor Colorido

domingo, 3 de novembro de 2019

A arquitetura da morte na construção da casa de Jack




Ninguém sabe exatamente com quantos paus se faz uma canoa, mas o filme A Casa que Jack Construiu (The House That Jack Built) nos leva a uma construção edificada com dezenas de corpos das vítimas de Jack (Matt Dillon), um serial killer que divide o seu tempo entre assassinatos em profusão; o projeto da construção de uma casa e um mergulho abissal nos dez círculos do inferno de Dante em companhia de Virgílio (Bruno Ganz), com quem compartilha suas histórias de sangue e morte.

O roteiro valeria por uma confissão de um psicopata entremeada com reflexões sobre a transitoriedade da vida, a produção de vinhos e porque não, quanto às diferenças entre arquitetura e engenharia, para quem considera sem precisar da licença de Thomas de Quincey, o assassinato como a mais bela das artes.

O filme de 2 horas e 32 minutos, tem a direção  e roteiro do polêmico cineasta Lars Von Trier e chegou a ser comparado por alguns críticos em sua estruturação narrativa com Ninfomaníaca. O ponto em comum entre as duas obras está na rotina de compulsões dos personagens centrais, o do primeiro filme com foco no sexo e o segundo, nas dimensões da morte em toda a sua extensão. Já o Anticristo se insere neste circuito pela sua estética de violência e exacerbada pelos dramas existenciais.

No filme,  Jack se revela um criminoso nato, que cultiva a  morte desde a  mais tenra infância. Na idade adulta, ele se forma em arquitetura, cuidando de projetos como o da própria casa, com o mesmo detalhismo com que cuida das mortes de suas vítimas, executadas sempre com requintes de crueldade,  sem nenhuma empatia, o que o leva a matar os próprios filhos, a mulher e a outras vitimas escolhidas ao acaso, de forma aleatória.

O ciclo de mortes foi deflagrado  após uma carona a uma mulher (Uma Thurman), golpeada na face e no crânio por falar em demasia; outra vítima, por ser ignorante e interesseira –queria que o seguro de vida do marido fosse aumentado pelo psicopata arquiteto, o qual se passava por um agente de seguros- , e uma terceira, que acaba morrendo em função da  sua ingenuidade, quando Jack a informou que era um assassino em série responsável por uma sequência de 60 mortes. Os demais se inserem numa trilha de sangue que as vezes se dilui com a ajuda da chuva.

No  filme, o projeto da casa é similiar ao da sequência de mortes, que se estendem como um ciclo que nunca termina. Jack  o compara com o TOC, uma espécie de transtorno obsessivo-compulsivo voltado para a morte. Como metáfora, o roteiro o roteiro de Lars Von Trier insere comparações entre os atos de Jack e as obras de arte clássicas, comparando os crimes com a estética das catedrais, pinturas, filmes e livros,  o que se complementa com fotos tiradas dos cadáveres,  um fato comum durante a época vitoriana na Inglaterra, entre os anos 1837 e 1901, quando as pessoas utilizavam a fotografia para guardar recordações de gente morta. Afinal o que é arte e o que não o é ? 

O filme que tem uma narrativa lenta e complexa também trata a questão da violência exacerbada e sem sentido do nosso tempo com toques refinados de humor negro, revelando Jack como vítima de espécie de transtorno obsessivo-compulsivo, fato que o obriga a voltar repetitivamente ao  local do crime para limpar as marcas de sangue e como forma racional de apagar os vestígios do crime.

Uma outra sequência envolve um experimento de Jack para matar um grupo de pessoas com uma única bala como o faziam os nazistas para economizar munição no fim da guerra e a caminho da solução final, usando um projétil  full metal jacket. Tudo termina quando o serial killer acaba localizado e com a ajuda de Virgílio, resolve concluir suas obras com uma casa a partir dos corpos das vítimas.

A ação do serial killer é protegida ainda pela indiferença das pessoas ensimesmadas nos seus mundos e distanciadas em relação aos vizinhos ou ainda pelo comodismo da  polícia, que não tem  interesse em prevenir ou mesmo de solucionar certos casos. O projeto coloca o espectador involuntário e cúmplice de mortes em larga escala, similares aos crimes cotidianos que assistimos passivamente no noticiário da televisão.(Kleber Torres)


Ficha técnica
Título Original: A casa que Jack The House That Jack Built
Direção e Roteiro: Lars Von Trier
Elenco: Matt Dillon, Bruno Ganz, Uma Thurman
Ano:   2018
País:  Alemanha, Bélgica, Dinamarca, França, Suécia
Duração:      2 Horas 32 Minutos

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Quando e como o goleiro tem medo diante do pênalti






Considerado uma metáfora do esporte e da própria  vida, o filme O Medo do Goleiro diante do Pênalti (Die Angst des Tormanns beim Elfmeter), de 1972, foi o primeiro longa-metragem do alemão Wim Wenders, que se notabilizou em filmes como Paris, Texas e O Sal da Terra, e assinou o roteiro a partir de um livro homônimo do escritor austríaco Peter Handke. Tudo tem como foco a história do goleiro Joseph Bloch interpretado por Arthur Brauss, que, se revolta com um juiz depois um pênalti durante um jogo de futebol, acaba expulso e depois, acaba se envolvendo num assassinato de uma mulher.
O filme sem cortes e de baixo custo, que foi remasterizado com uma revisão da trilha sonora, tem desdobramentos lentos e diálogos existenciais mesclado com muitas comparações entre o futebol, os sonhos que não têm sentido  e a vida dos personagens. Depois de expulso, o goleiro deixa o campo, leva um jornal e começa a vagar pela cidade.
Ele chega à cidade, aluga um quarto de hotel,  vai ao cinema, e depois do filme não consegue completar uma chamada telefônica, porque o telefone estava como defeito. Bloch voltar sozinho para o hotel barato onde está hospedado e vai dormir.
Praticamente repetindo o roteiro do dia anterior, ele volta ao cinema, pede uma poltrona espaçosa e acaba  marcando um encontro com a moça da bilheteria do cinema interpretada por Edda Köchl, com quem dorme e depois de tomar banho e café, a mata sem motivo aparente, num apartamento próximo ao aeroporto.
Depois do crime, ele foge de ônibus, se envolve numa série de incidentes e sempre procura acompanhar o caso do assassinato através da leitura de jornais.Numa cidade pequena, ele se aproxima de Glória (Erika Pluhar), que foi no passado sua companheira e que hoje, tem um restaurante e vive em companhia da filha de quatro anos.
Bloch ali se envolve em brigas, é assaltado,  e tem um comportamento errático, por fim, se depara, ao assistir um jogo de futebol, com um delegado que investiga o caso do homicídio em que está envolvido, o qual, segundo os jornais, já estaria elucidado. Como tudo é metafórico, faltou o árbitro encerrar a partida, que pode ser um retrato colorido ou em preto e branco da própria vida.(Kleber Torres)


Ficha Técnica :
Titulo: O Medo do Goleiro diante do Penalty(
Direção : Win Wenders
Roteiro: Wim Wenders e Peter Handke

Música : Jürgen Knieper

Elenco: Arthur Brauss, Bert Fortell,  Edda Köchl, Erika Pluhar e Ernst Meister
Alemanha

domingo, 20 de outubro de 2019

O pesadelo da ressurreição do fascismo




O velho Karl Marx considerava que a história se repete, a primeira vez como tragédia e na segunda, como farsa. Mas o filme Estou de Volta (Sono Tornato), uma produção italiana de 2018, dirigida por Luca Miniero, nocauteia esta tese e mostra concretamente,  que ela pode se repetir como comédia até de humor negro, como a da ideia de ressurreição do fascismo que ainda tem os seus adoradores e viúvas.
Tudo começa  após 70 anos da morte de Benito Amilcare  Andrea Mussolini, interpretado por Massimo Popolizio, que  ressurge em Roma, depois de passar através  de um portal que interligava magicamente o mundo dos vivos e dos mortos. O Duce, que se considerava o aeronauta do pensamento –os filósofos que se cuidem -, fica confuso e horrorizado ao ver a decadência do país que governou e se propõe a viajar pela Itália de hoje, onde nada funciona, nem mesmo os correios e nem os hospitais.
Mussolini também critica a miscigenação racial, a migração dos africanos e de gente de outros países europeus, o que o faz acreditar na necessidade de uma revolução e para isto, propõe  como lema para as mudanças: “vamos salvar a Itália juntos’. Também questiona os valores democráticos por considerar que o voto  não tem  nenhuma utilidade se o eleitor não sabe o que fazem de concreto os políticos eleitos.
Um repórter acredita que o misterioso personagem é um sósia do ex-ditador fascista e mesmo assim, o ajuda a começar na televisão como um comediante, que fazia questão de afirmar que era o verdadeiro Mussolini e que suas práticas e propostas  continuavam iguais às do tempo do fascismo.
A produtora Katia Bellini (Stefania Rocca) se entusiasma e pensa num show para este novo ator, o Mussolini Show e cria até uma conta de e-mail para o novo astro, que ganha pontos crescentes de audiência. Teatral, Mussolini faz caras e bocas na telinha, onde impõe silêncio e pausas planejadas, lembrando que: “todos vocês têm medo do silêncio. Se um rato entra em sua casa, você não chama um humorista, mas um dedetizador. Quando falo isto, vocês querem rir, por isso que em 1940 nós só produzíamos comédias. Depois de 70 anos, eu volto aqui e descubro que vocês continuam um povo analfabeto, conversando nas redes de sociais. Você estão sós, invejosos e cheios de rancor.”
Mussolini  faz duras criticas à sociedade de consumo, considerando que,  “estamos perdendo a batalha antes de começarmos a luta contra a pobreza entre jovens e idosos. Nós precisamos mais do que o whatsapp para nos dizer que estamos afundando .” O programa faz sucesso e consegue 33 pontos de audiência, alcançando 60% entre os jovens, o que leva Mussolini a todos os programas da emissora.
Dizendo que encontrou a Itália transformada numa Rodésia Setentrional, num Congo ou numa Nigéria, ele fala entre os planos para o futuro e defende a construção de um império: “voltei para ajustar o tiro! Pou!!!”. A tarefa para ele, é reconquistar a Itália e a memória nacional, desafiando os radicais de direita condescendentes com os guetos: “os políticos de direita têm medo de ser chamados direitistas e os de esquerda, de dizer coisas verdadeiras”, complementou.
Na sua metralhadora giratória, Mussolini se recusou até a falar do globalizado futebol italiano, onde os dirigentes são de Pequim, a bola indiana e os jogadores africanos. Quanto à política, ele sugere aos governantes que primeiro escutem os desejos do povo e depois façam obras e ações que atendam às suas expectativas.
A popularidade do fascista ressuscitado começa a ser questionada quando  ele é mostrado matando  um cão a tiros em um vídeo. Mussolini se defende dizendo que atirou, porque foi atacado e mordido pelo animal, mas não escapa uma agressão de defensores mascarados  dos animais. Outro golpe fatal na desconstrução deste personagem, foi Ariella Reggio (Nonna Lea), uma idosa com lapsos de memória, mas que reconheceu como o ditador assassino, que provocou a morte de seus pais, expulsando-o de sua casa.
Tudo termina quando o Duce, depois de um atentado, acaba reabilitado pelos italianos após ser perdoado pela dona do cachorro que matou, o que abre a porta para que avance com o seu carisma pelos caminhos, nem sempre retilíneos e para uma indefectível escalada ao poder, que às vezes corrompe absolutamente e por nos levar a muitos descaminhos. (Kleber Torres)

Ficha técnica

Título : Estou de volta (Sono tornato)
Direção: Luca Miniero
Roteiro: Luca Miniero e Nicola Guaglianone
Elenco: Massimo Popolizio , Ariella Reggio, Gioele Dix (Daniele Leonardi), Guglielmo Favilla (diretor de TV), Luca Avagliano (Gianni), Massimo De Lorenzo (Giorgio), Stefania Rocca (Katia Bellini), Frank Matano, Elenora Belcamino e Alessandro Cattelan
lançamento: 1 de fevereiro de 2018
Itália

sábado, 19 de outubro de 2019

O Favorito perde no jogo político e ganha no amor





Há um adágio brasileiro que considera a política como as nuvens, mudando constantemente em função do vento e do tempo, o que se aplica ao caso de Gary Hart, interpretado por  Hugh Jackman, em O Favorito (The Front Runner). O filme é  um drama biográfico sobre um carismático político do Colorado, por onde foi senador por dez anos e se torna o grande candidato do partido Democrata, liderando com folga  a disputa das eleições presidenciais de 1988.
O filme dirigido por Jason Reitman, de Obrigado por fumar, Juno, Tully e Amor em escalas, que assina o roteiro juntamente com Matt Bai e Jay Carson, conta a história real do mais jovem candidato, que aos 46 anos tenta chegar  à presidência dos Estados Unidos.  
A maré começa a mudar quando eclode o escândalo de seu envolvimento com uma jovem modelo, o que põe em risco não apenas a sua candidatura, mas o destino de todos ao seu redor, inclusive a mulher  Lee Hart (Vera Farmiga) e a  filha Andrea (Keitlyn Dever) .
Ao ser questionado por jornalistas, Hart sugere: “é só me seguir, fiquem na minha cola, vocês ficarão entediados”. Os repórteres aceitam o desafio, o seguem, e descobrem o seu relacionamento com uma jovem modelo Kansas, Donna Rice (Sara Pakston). A princípio, ele admite que ela não faz parte da sua campanha.
Mas a investigação jornalística não cessa, e numa entrevista sobre sucessão presidencial, ao invés de tentar focar o  debate sobre economia, política externa e outros temas recorrentes a uma candidatura presidencial, os jornalistas optaram por indagar se ele  fez sexo com ela ou se vai manter a sua candidatura à presidência?
Hart, ao perceber o clima hostil de uma imprensa  que reflete  as ideias de uma sociedade conservadora como a americana, telefona para a mulher informando sobre uma reportagem sobre o seu relacionamento  com uma mulher na casa de do casal, em Washington. A mulher o lembra de que havia pedido ao senador é que não a envergonhasse.
Procurada por jornalistas, Donna Rice, informou que pretendia trabalhar na campanha e simpatizava com as ideias do candidato. Gary Hart contra ataca à denúncias defendo sua privacidade. Mas os rumores se aquecem com o aparecimento de um envelope amarelo com mais fotos comprometedoras do candidato com outras mulheres, evidenciando que ele seria um mulherengo incorrigível e mentiroso contumaz
Ele ainda viaja pelo interior e tenta traçar estratégias para reassumir o comando  do discurso daquela campanha inicialmente fácil e vitoriosa, mas que, acaba sucumbido diante de uma avalanche de denúncias. Para assessores, Hart compara metaforicamente os jornalistas com os caçadores e aos candidatos como a caça, lembrando: “eu envergo, mas não quebro. Cometi alguns  erros, mas sou um idealista que sonha e quer servir ao povo”. Como azar no jogo pode  dar sorte no amor, ele continuou casado com Lee Hart pelo menos até o final das filmagens de O Favorito, que traz lições sobre marketing político e erros que não se pode conviver numa campanha qualquer.(Kleber Torres)



Ficha Técnica

Titulo: O Favorito (The Front Runner)
Direção : Jason Reitman
Roteiro: Jason Reitman, Matt Bai e Jay Carson
Elenco : Hugh Jackman, Vera Farmiga, J.K.Simmons,  Alfred Molina, Kaitlyn Dever, Ari Graynor, Molly Ephraim e Sara Paxton
Música: Rob Simonsen
Gênero : Drama, Biografia

domingo, 1 de setembro de 2019

O Holocausto sob a cáustica ótica de um sobrevivente




O drama do Holocausto a partir da ótica e das memórias de um sobrevivente, Sol Nazerman,  interpretado num desempenho antológico  por Rod Steiger, é o tema de The Pawnbroker (O Homem do Prego), um filme e estadunidense de 1965,  dirigido  com competência  por Sidney Lumet, sobre a solidão, o medo, a falta de perspectivas e a morte . A história tem como base  um roteiro de Morton Fine e David Friedkin, baseado no livro de Edward Lewis Wallant.
O filme registra dois marcos na história do cinema: foi o primeira produção americana  a mostrar o Holocausto do ponto de vista de um sobrevivente à sanha assassina dos nazistas nos campos de concentrações transformados em uma indústria do medo e da morte. E emerge como a primeira película a  romper as regras censoriais do código moralista Hays ao mostrar os seios da atriz Thelma Oliver.
O enredo narra em preto e branco os  dramas psicológicos e humanos que deixaram marcas  num sobrevivente de um campo de concentração nazista ,que se estabeleceu após a guerra numa  loja de penhores em uma  área decadente e sombria do Harlem ocupada por traficantes, viciados, desempregados, prostitutas e gigolôs .
Tudo começa na Alemanha dominada pelo nazismo, quando o professor universitário judeu Sol Nazerman é confinado com os pais, a mulher e dois filhos em um campo de concentração.  Como  único sobrevivente da família após a Guerra, ele embarca para os Estados Unidos, onde monta uma loja de penhores no Harlem.
Ali, ele tem uma rotina de trabalho sem lazer ou amigos numa espécie de bunker, onde passa os dias negociando com viciados em drogas, prostitutas, desempregados e pessoas empobrecidas a quem oferece preços 90% inferiores ao do produto o quinquilharias apresentadas sem valor para  penhora. Cada cliente tem uma expectativa de vantagem no penhor de um rádio quebrado, de uma joia falsa ou mesmo a busca de uma palavra amiga do dono do prego, que não tem tempo para conversa fiada.
Sol tem  como empregado o porto-riquenho,  Jesus Ortiz (Jaime  Sánchez ), que  sonha em ser rico de qualquer forma e explora sua amante. Ele respeita  o patrão, a quem  considera uma espécie   professor pela sua visão objetiva da vida e pragmatismo nos negócios, mas ao mesmo tempo luta contra desejo  de assaltar a loja junto amigos criminosos do bairro. Vivendo numa área dominada pelo tráfico, Nazerman também enfrenta o criminosos como Rodriguez(Brock Peters), que utiliza o seu negócio de penhores para lavagem de dinheiro oriundo do lenocínio e do tráfico de drogas.
Vivendo solitário e fugindo de compromissos afetivos , Sol Nazerman além de um niilista sem nenhuma esperanças na vida, começa a enfrentar o medo e passa a  ter  recordações cada vez mais frequentes da sua tragédia pessoal, dos momentos ásperos em que  estivera nas mãos dos nazistas.
Ele era assustado de um lado, pelos latidos de cães que  o fazem lembrar da morte de um amigo,  mordido por um animais ferozes ao tentar fugir da prisão.  O pesadelo sem fim o ameaça no metrô, onde reconstituia uma viagem de trem aterradora até o campo de concentração, em   que perdeu toda sua família e viu a mulher indefesa, ser violentada por oficiais nazistas. O terror ganha em escala  com a invasão da sua loja por gangsters e depois por ladrões, num assalto frustrado que resulta na morte de Jesus,  o que o deixa  mais solitário e perdido numa cidade indiferente.(Kleber Torres)

Ficha técnica:
Título :The Pawnbroker (O Homem do Prego)
Direção: Sidney Lumet
Roteiro: Morton Fine e David Friedkin, baseado no romanceThe Pawnbroker, de Edward Lewis Wallant
Elenco: Rod Steiger, Geraldine Fitzgerald, Jaime Sánchez, Thelma Oliver e Brock Peters
Música         Quincy Jones
Gênero: drama
Estados Unidos
1965 •  pb •  116 min

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

O plano frustrado dos cães azedos de aluguel




O planejamento e o resultado fracassado de um roubo de diamantes, mas sem mostrar a sequência do assalto frustrado, formam o enredo  de  Reservoir Dogs (Cães de Aluguel), um filme estadunidense de 1992, escrito e dirigido por Quentin Tarantino, uma obra que desenha os contornos de uma estética de violência mantida em Pulp Fiction (1994) e Kill Bill I e II (2003 e 2004). O filme é marcado por uma escalada de ações violentas, que culminam com uma série de mortes e numa grande interrogação.
A obra  reúne um elenco integrado por Harvey Keitel (Mr.White), Steve Buscemi (Mr.Pink), Michael Madsen (Mr. Blonde), Tim Roth (Mr. Orage), Edward Bunkr (Mr. e próprio Tarantino  (Mr. Brown), homens que teoricamente não se conheciam e que  para evitar uma possível identificação durante o assalto usam codinomes de cores nos diálogos entre si.
Tudo começa com um grupo homens tomando café em um restaurante. Seis deles vestindo ternos escuros, parecendo executivos ou mafiosos. Eles se tratam formalmente pelos codinomes de Mr. Blonde, Mr. Blue, Mr. Brown, Mr. Orange, Mr. Pink e Mr. White. Os outros dois personagens no café são Joe Cabot (Lawrence Tierney) um conhecido mafioso de  Los Angeles, que esta acompanhado do filho o Cara Legal Eddie Cabot  (Chris Penn).
Aparentemente, o grupo não faz referências ao planejamento do roubo. No café,  Mr. Brown faz  a sua análise da música Like a Virgin, sucesso de Madonna, enquanto Joe se irrita com ele, após discutirem sobre sua agenda de endereços. Já o Mr. Pink se manifesta contra o pagamento  de gorjetas para garçonetes até  o Joe obrigá-lo  a deixar a quota da jovem que o atendeu.
Em essência Cães de Aluguel é um filme inovador  em termos de linguagem, com uma narrativa não linear, mesclada de palavrões em profusão, incorporando ao mesmo tempo as marcas registradas de Tarantino, com referências à cultura pop, aos filmes B, mostrando crimes violentos e uma trilha sonora tendo com referência a música contemporânea ao período da produção, considerada posteriormente um clássico do cinema independente.
A sequência seguinte registra o interior de um carro fugindo em velocidade. Nesse interim, Mr. White, dirige o veículo e ao mesmo tenta apoiar ao Mr. Orange, baleado no abdômen, com uma forte hemorragia e gritando de dor. Os dois chegam a um depósito abandonado, que seria o ponto de encontro do grupo após o roubo e  que passa a ser o cenário central da trama.
Mr. Pink suspeita que o assalto à  joalheria, organizado por Joe Cabot, foi uma armação. Uma evidencia seria a pronta reação dos policiais após o disparo do alarme. Mr. White revela ao Mr. Pink que Mr. Brown foi baleado pela polícia. Já os rumos de Mr. Blonde e Mr.Blue ainda são desconhecidos, ao tempo em que se desenvolve nas ruas da cidade  uma caçada policial aos ladrões.
Após cuidarem de um Mr. Orange, que parece inconsciente, Mr. White e Mr. Pink questionam as ações Mr. Blonde, um  psicopata que matou diversos civis depois que o alarme foi acionado. Mr. Pink informa que deixou os diamantes protegidos e em um local seguro. Os dois divergem sobre levar ou não Mr. Orange, que está em estado muito grave, a um hospital, o que colocaria em risco aos demais participantes do assalto.
White questiona Blonde pela violência empregada no assalto à joalheria, enquanto ele rejeita a sua crítica. Blonde diz à White e Pink para não abandonarem o ponto de encontro, uma vez que "Cara Legal" Eddie, de quem é amigo pessoal, está a caminho para socorrê-los. A sequência de violência aquece ainda mais quando Mr. Blonde apresenta um policial capturado Marvin Nash (Kirk Baltz), que colocou na mala do carro e a quem começa a torturar para que ele diga quem é o informante infiltrado na quadrilha.
O policial diz não saber e a tortura prossegue, com Blonde dançando "Stuck in the Middle With You", antes de decepar a orelha do policial com uma navalha. Quando Blonde  ameaça tocar fogo em Marvin Nash, ele acaba abatido a tiros por Mr. Orange –o policial infiltrado na quadrilha e que vinha participado de várias ações para a captura de Joe e Mr.White -, justp quando este tentava acender um isqueiro sobre um rastilho de gasolina.
A ação cresce de intensidade com uma série de flashbacks e depois, Joe atira em Mr. Orange, ferindo-o novamente. Numa reação instantânea, Mr. White atira em Joe, matando-o e, o Cara Legal Eddie atinge a Mr. White, que revida eliminando o oponente. Aproveitando o conflito, Mr. Pink, que se escondera sob as escadas para tentar se proteger do tiroteio, pega os diamantes e foge do depósito, quando a polícia chega e  entra no local. Como uma obra assinada pelo estilo de Tarantino, o filme termina com o som de um tiro, o qual poderia ter sido de  Mr. White em Mr. Orange, o policial infiltrado no bando ou mesmo se Mr. White foi executado pela polícia que atirou antecipando-se a um crime. Mas, por certo, nenhum espectador de bom senso duvida que naquele momento até as duas mortes simultâneas aconteceram fechando o ciclo de um mistério e violência tarantineanos.(Kleber Torres)
FICHA TÉCNICA

Título : Cães de Aluguel (Reservoir Dogs )
Direção: Quentin Tarantino
Roteiro : Quentin Tarantino e Roger Awary
Elenco : Harvey Keitel (Mr. White/Larry); Tim Roth (Mr. Orange/Freddy); MIchael Madsen (Mr.Blonde/Vic Vega); Chris Penn (Nice Guy Eddie), Steve Buscemi (Mr. Pink); Lawrence Tierney (Joe Cabot); Randy Brooks (Holdaway), Kirk Baltz (Mervi Nash); Edward Bunker (Mr.Blue/Eddie Bunker); Quentin Tarantino (Mr. Brown)
Cinematografia : Andrzej Sekula
Gênero : Policial
EUA
99 minutos

sábado, 24 de agosto de 2019

Um golpe de mestre com suspeitos incomuns



Inteligência e humor são os ingredientes fundamentais de Suspeitos Incomuns (Hunting Elephants), uma comédia israelense dirigida e roteirizada por Reshef Levi contando a história de YonathanGil Blank), um adolescente muito inteligente, gago de 12 anos, que se  cansou de buscar maneiras para se livrar do bullying e das agressões que sofria diariamente na escola.
Tudo muda depois da morte de seu pai, em consequência de um infarto no banco onde trabalhava e das dificuldades financeiras enfrentadas pela sua mãe, sem acesso ao seguro social, quando acabou indo morar com seu avô Eliyahu (Sasson Gobai), considerado um mentiroso e psicopata e o  seu tio lord Michel Simpson (Patrick Stewart), um milionário falido e um ator fracassado, que viviam em um asilo de idosos. Ali, eles se tornam amigos e passam a planejar com o jovem de Q.I. acima da média, um engenhoso roubo a banco.
Antes de deixar o filho com o avô, a mãe Dorit (Yaël Abicassis) telefona para o tio nobre na Inglaterra pedindo ajuda financeira sem sucesso, enquanto o lord fugia dos credores e migrava para Israel, onde a família tinha uma mansão, a qual havia sido vendida pelo cunhado Eliyahu para tratamento da sua mulher, que ficou em coma após sofrer um avc. Ex-assaltante de banco e estelionatário, o idoso fraudou a assinatura de mulher e do cunhado ator para vender o imóvel, ele também se recusava a assinar uma autorização de eutanásia para a paralisação do atendimento médico à sua companheira, com quem havia vivido nos últimos 60 anos.
No abrigo, os dois idosos  se juntam a Nick(Moni Moshonov) no planejamento do roubo, que fora idealizado por Yonatan, que é comparado pelo tio lord com o Hamlet, o personagem shakespereano cujo pai morreu assassinado – no caso do adolescente pelo trabalho excessivo – e que teve a mãe conquistada pelo gerente do banco, o qual a seduziu com uma série de propostas, inclusive acenando com a possibilidade de um casamento civil.
Eliyahu resolve o problema do bulling do neto intimidando ao principal agressor com uma possível retaliação à bala. Já o lord, que era um niilista, porque  se morresse não havia nada, pois não havia de deixar nenhum legado para ninguém,  participa dos preparativos do golpe para conseguir o suficiente para encenar sua última peça nos palcos da vida.
Depois de acertos e desacertos na simulação e execução do assalto, que foi planejado inicialmente na laje do asilo e clínica onde o grupo vivia. A estratégia era usar o lord Simpson como isca, em função da sua aparência de um rico executivo, assim, o grupo acaba lançando a sua grande cartada usando o cartão de acesso aos cofres do gerente do banco, que acaba preso e conta  a sua desdita num documentário sobre o caso.
O grupo consegue limpar o cofre e Yonathan saí do banco com a mochila de dinheiro nas costas, porque crianças e idosos são transparentes e por isso invisíveis para o sistema de repressão e para a segurança do banco. Também sem ser notado, o jovem volta ao banco onde o avô fora baleado na execução do assalto e na saída queima uma parte do dinheiro roubado diante de clientes, funcionários e do segurança da agência.
No fim da história,  o grupo comemora os resultados e o avô se recupera dos ferimentos. A adolescente acabou inocentado do crime, sob alegação de que vivera uma experiência traumática. Uma lição implícita no final do filme é de que o crime até certo ponto compensa e que um idoso com dinheiro pode atrair a atenção e o carinho de uma jovem cuidadora de idosos. (Kleber Torres)


Ficha técnica

Título : Hunting Elephants (Suspeitos Incomuns)
Direção: Reshef Levi
Roteiro : Reshef Levi e Regev Levi
Elenco: Sasson Gabai, Moni Moshonov, Patrick Stewart, Gil Blank, Yaël Abicassis, Moshe Ivgy e Zvika Hadar
Música: Gilad Benamram
Gêneros: Comédia , Policial
Data de lançamento 2013 (1h 48min)
Nacionalidades EUA, Israel

sábado, 13 de julho de 2019

O Síndico tem participação de Carlos Betão e atores regionais



Depois de atuar em  Segundo Sol, onde interpretou o delegado Viana e de papeis destacados em novelas globais como Velho Chico e em Marcas da Paixão, exibida pela Record, bem como no remake cinematográfico de Gabriela, em O Homem que Não Dormia, de Edgard Navarro e Aos Ventos que Virão, de Hermano Pena ou ainda de participação no ultimo filme de Gustavo Bonafé,  o ator Global, Carlos Betão,  voltou a Itabuna onde integrou ao elenco da série O Sindico, dirigida por Betsi de Paula. A série, de cinco capítulos, em fase de montagem e  pós produção, será exibida pela TVI em data a ser anunciada proximamente.
Bacharel em artes cênicas pela Universidade Federal da Bahia -UFBa – e com quase  quatro décadas  de  estrada. Betão lembra que começou sua carreira nos palcos e praças de Itabuna e Ilhéus, “Comecei no Teatro da AFI, com Pluft,o Fantasminha e a Bruxinha que era boa, com Leila Chalupp”.
Hoje, com a trajetória consolidada e considerado um profissional respeitado pelo seu currículo, ele contabiliza a participação em mais de 14 filmes, 40 peças e diversas novelas na Globo e na Record. Também destaca que essa volta mesmo temporária a Itabuna, onde nasceu, “foi uma oportunidade de rever amigos e encontrar pessoas com quem convivi, uma revisita que estava para fazer e que só foi possível agora, com a filmagem da série”.
Vencedor do prêmio Brasken de melhor ator com o monólogo Sargento Getúlio, dirigido por Gil Vicente), Betão interpreta em O Sindico, inteiramente filmado no condomínio Torres da Primavera, com 200 apartamentos, próximo ao CAIC ,na Urbis IV, um morador politicamente incorreto, homofóbico e machão.
Ele destaca que o barato da série não é o fato de ser uma série televisiva, mas o possibilidade “de voltar à minha cidade e ter um contato direto com artistas da região Sul da Bahia, muitos deles jovens e com excelente potencial e que vão dar continuidade ao trabalho que iniciamos e precisa de uma sequência.”
Salienta ainda a oportunidade de contracenar com atores como o experiente Luís Sérgio Ramos e Jailton Alves, que interpreta o Sindico, os quais junto com Clara Melo e Betse de Paula também participaram da elaboração do roteiro. O elenco inclui ainda as participações de Eva Lima, Maria Sofia, Raquel Rocha, Rogério Thomas, Lila Azevedo e Priscila Coutinho, entre outros nomes.
Betão observa ainda que além da integração com outros atores, a filmagem da série possibilitou trabalhar coma diretora Betsi de Paula, uma artista conhecida nacionalmente e que filmou em Itabuna uma série a ser exibida através da TVI e “é a capitã deste barco, que comanda de forma generosa”,
Nos cinco episódios, ele contracena antagonisticamente com um casal homossexual interpretado pelo experiente ator  Luís Sérgio Ramos (Darci), que atuou nos palcos do  Rio, são Paulo e Salvador, onde integrou o núcleo do Teatro Castro Alves   e Rogério Thomas (Wagner), que tem uma filha Cleo.  O elenco reúne um total de 16 atores de Itabuna, Itororó, Salvador e Rio de Janeiro, além de dezenas de extras, muitos deles moradores do Torres da Primnavera. O Sindico é interpretado por Jailton Alves, que já foi síndico do edifício onde morava e que também teve participações na novela Renascer, da Globo, com locações no eixo Itabuna-Ilhéus.
Para Carlos Betão é elogiável a existência de uma série produzida para uma emissora do interior como a TVI, sem os recursos das grandes redes, “o que possibilita à equipe de produção e atores uma experiência inovadora e ao mesmo tempo lúdica, criativa e minimalista. A criatividade se manifesta ao tornar visível o invisível, um processo em que cada um se vira nos 30, 40 e 50 ou mais, mas o que importa é o resultado final do projeto e a proposta de uma equipe profissional que participa do processo da produção da série de forma integral e com competência.”(Kleber Torres)

sábado, 15 de junho de 2019

Uma visita à história do jazz e do rock





A história de Cadillac Records, filme de Daniel Martin, começa em 1947, quando  um imigrante polonês de origem judaica e proprietário de um bar, Leonard Chess (Adrien Brody) resolve mudar o foco do seu negócio e passa a contratar músicos para a sua gravadora, a Chess Records, até então um pequeno estúdio musical, em  Chicago, transformando-o numa marca de sucesso.
A gravadora revelou nomes expressivos do jazz como Muddy Waters (Jeffrey Wright) e até mesmo precursores do rock como Chuck Berry (Mos Def), que conseguia unir no mesmo ambiente fãs brancos e negros divididos até então numa sociedade marcada pela segregação, tornando-se ao mesmo tempo uma referência musical para os Beatles e os Rolling Stones.
De início Leonard Chess trabalha com nomes até então desconhecidos do público como Muddy Waters e Little Walter (Columbus Short), que teve uma vida acidentada e uma morte prematura. Outro nome saído do anonimato para o estrelato foi Chuck Berry com seu estilo pessoal e que teve a maioria de suas gravações de maior sucesso  lançadas pela gravadora Chesse Records, ao lado do pianista Johnnie Johnson, do baixista Willie Dixon e o baterista Fred Below. Ao ser preso em 1959, Leonard Chess decide apostar no talento de outra cantora: Etta James (Beyoncé Knowles), que enfrenta problemas com drogas como sua substituta no elenco da gravadora.
O sucesso de Chess era atribuído o seu ouvido refinado para identificar diferentes músicas e ao feeling de perceber entre os seus contratados talentos emergentes no meio musical, como o compositor Willie Dixon (Cedric the Entertainer) e Howlin' Wolf (Eamonn Walker). O empresário os tratava como se fossem parte de sua família, gastando dinheiro na compra de cadillacs o que dá o título do filme Cadillac Records, dirigido por Daniel Martin a partir de um roteiro com base numa história real, ou mesmo cuidando dos seus negócios e da preservação do seu patrimônio.
O filme vale em especial como um mergulho no mundo do jazz e na história do nascimento do rock’n’roll, com referências inclusive a Elvis Presley, cuja estrela passou a brilhar no universo do rock após a prisão de Chuck Barry. Vale também a seleção das músicas que foram hits de sucesso da Chess, que terminou com a morte do seu criador em consequência de um fulminante ataque cardíaco e com Muddy Waters voando para Londres, onde começa a sua carreira internacional.(Kleber Torres)

Ficha técnica:

Direção e Roteiro: Daniel MartinElenco : Adrien Brody, Beyoncé Knowles-Carter, Jeffrey Wright, Columbus Short, Emmanuelle Chriqui, Cedric The Entertainer, Tammy Blanchard, Gabrielle Union e Mos Def
Música: Terence Blanchard
Cenografista: Linda Burton
Ano 2008