Onde começa o autoritarismo e
onde termina? Quais os limites e onde
está a essência do poder? O que é
alienação política, a anomia ou mesmo como nasce uma ideologia exótica ? Esta
resposta está de certa forma evidente em A Onda, um filme alemão de 2008 dirigido por Dennis Gansel.
O elenco é formado por Jürgen Vogel, Frederick Lau, Jennifer Ulrich e Max
Riemelt, e o filme serve como uma
reflexão profunda para todos nós sobre a questão da manipulação de massas e o
poder.
O filme é inspirado num livro homônimo lançado em
1981, por Todd Strasser e é o remake de
um filme americano com o mesmo nome, contando uma história é baseada em fatos reais
ocorridos em 1967, em uma escola secundária da Califórnia, nos Estados Unidos.
Ele começa com o professor Rainer Wenger (Jürgen Vogel) se dirigindo no seu
carro à escola onde leciona ouvindo a todo volume "Rock 'n Roll High
School".
No colégio, que está promovendo
uma série de cursos e debates voltados para o campo político, Rainer, que tem uma
queda pelo anarquismo, faz sua opção pela oficina sobre autocracia, porque o
professor do curso sobre anarquismo, recusou-se a trocar de assunto pelo qual
ele simpatizava. O fato é que mesmo com uma classe formada por alunos da terceira geração após a Segunda
Guerra Mundial e de formações familiares diferentes, Rainer inicia um experimento com o objetivo de
mostrar o quão fácil é manipular as massas e informações para implantação de um
sistema autoritário e ao mesmo tempo
irracional.
O professor começa exigindo que todos os
alunos se dirijam a ele como Senhor
Wenger (Herr Wenger), levantando o braço para qualquer interpelação em classe e
dando respostas sintéticas e objetivas aos
seus questionamentos.O senhor Wenger também muda o posicionamento das carteiras
na sala, de modo que todas elas fiquem de frente para ele e separa os alunos em
função das notas, eliminando os pequenos grupos de interesse e fazendo ao mesmo
tempo com que cada dupla de alunos por carteira, seja formada por um estudante
com notas baixas e outro com melhor desempenho na classe.
Como forma de impor o novo
modelo, ele ensaia na sala com alunos como uma marcha em perfeita sincronia
rítmica entre eles, dizendo palavras de ordem e fazendo ao mesmo tempo com que
se sintam parte de um todo. O ensaio ganha tanta força, que chega a incomodar propositadamente
aos alunos do curso anarquismo, na sala no piso inferior gerando reclamações do
outro professor. Já os alunos que não se
ajustam ao novo grupo social e não se submetem ao novo sistema, são simplesmente
discriminados ou alijados e acabam deixado o curso e a oficina.
Passo a passo, o Senhor Wengler
discute com os alunos um nome para o movimento – a Onda, que ganha uma
logomarca, a qual se transforma em adesivo e objeto de pichações, além de uma forma
de saudação com o braço movimentado lateralmente de forma ondular e até um uniforme, quando todos os alunos do
grupo devem vestir uma camisa branca e calças jeans, para que não haja mais
distinções entre os mesmos. A ideia do
uniforme é a de oferecer maior coesão social e integração do grupo, seprando-os
dos demais.
De formação liberal, a aluna Mona
(Amelie Kiefer), que desde o início mostrou-se relutante a fazer parte do
experimento, alega que o uso de uniformes vai comprometer com a individualidade
de cada estudante e, alijada do grupo, acaba trocando de turma, passando a integrar a
classe de anarquismo e a trabalhar para
contestar a proposta da Onda. O projeto também começa a ser objeto de
comentários nas casas dos alunos que melhoram o seu aproveitamento e se sentem
motivados com o novo sistema.
Quem também acaba sancionada pelo
grupo é uma outra aluna, Karo (Jennifer
Ulrich), que vem à aula do dia seguinte sem o uniforme, e descobre ser a única
a não aderir ao modelo. Ela não tem nem mesmo a palavra quando se dirige ao
professor, que não a considera como participante do curso.
O fato é que gradualmente o grupo
começa a mudar o seu comportamento e até
mesmo o relacionamento com colegas de
outras salas e de grupos antagônicos, como os anarquistas, que eram
considerados os outros. Um integrante da Onde defende um colega que sofria bullying por parte de anarquistas e chega a sacar um
revólver para intimidar os seus antagonistas. Outro integrante do grupo escalou
o prédio da prefeitura, o mais alto da cidade, para pichar um logo da Onda na fachada do edifício.
Outro integrante, o Tim, filho de
uma família desestruturada, queima todas
as suas roupas de marca e vai à casa do senhor
Wangler, a quem se oferece para ser seu guarda-costas. O professor o
convida para jantar, e deixa evidente que
não precisa deste tipo proteção, mas a sua mulher Anke (Christiane
Paul), que também é professora na mesma
escola, começa a questionar o
experimento e a sua dimensão, mas a sua sugestão acaba gerando um
rompimento entre o casal, que acaba se separando, quando Reiner considera que
ela tem inveja do seu projeto.
Enquanto cresce o movimento de
oposição à Onda liderado por duas alunas,
Karo e Mona, um jogo de polo aquático, da equipe é liderada pelo Senhor
Wengler, acaba numa briga entre os atletas o que provoca a suspensão e o cancelamento da partida. Ao
mesmo tempo, os integrantes d'A Onda
começam uma briga nas arquibancadas com torcedores do time rival, momento em
que Karo e Mona, inicialmente impedidas de entrar no local sem a farda
branca, aproveitam a confusão e espalham
panfletos anti-Onda no meio das torcidas.
Em seguida, Marco discute com a
namorada Karo e acaba agredindo-a, acertando um golpe no rosto e que provoca sangramento. Em seguida,
arrependido, ele vai até a casa do
senhor Wangler, e pede que ele acabe com
A Onda. O professor resolve então convocar uma assembléia com os alunos no
auditório da escola para uma avaliação dos resultados.
Durante o encontro, ele pede que as portas sejam trancadas
e lê uma série de depoimentos dos alunos
com referência às suas atuações e
expectativas do grupo e até mesmo
enaltecendo as chances que o movimento teria de mudar os rumos da Alemanha. Um
aluno protesta, e o professor o acusa de traição, pedindo que os membros o
tragam para o palco para ser punido.
Em seguida, o professor fez com que os alunos percebessem a dimensão da
Onda e o quanto os mesmos foram sendo manipulados pela ideia, embora acreditando no início da experiência que um
regime como o Nazismo jamais poderia voltar a dominar a Alemanha novamente do século
XXI. Ele então declara o fim d'A Onda, mas um dos alunos, Tim saca um revólver
e se recusa a aceitar que o grupo acabou, com medo de voltar a ser sozinho e
mais um na multidão, atirando em direção a um colega e se suicidando em seguida
na frente dos demais alunos.
O filme termina com a prisão do professor
que é levado numa viatura, enquanto os
demais alunos, seus respectivos pais, os professores e até sua mulher o observam. Em essência o filme discute duas questões a
alienação e anomia social, com a perda
da essência de valores e a desorganização do indivíduo, mostrando que o autoritarismo não está morto e
afeta até países do primeiro mundo. Vale salientar, que na história real, que
se passou nos Estados Unidos há quatro décadas, o desfecho foi menos trágico,
pois, um aluno perdeu a mão ao tentar
preparar um coquetel molotov, ao fabricar uma bomba com uma garrafa cheia de
gasolina.
Vale frisar que a Onda é o terceiro filme de Dennis Gansel,
nascido em Hannover, Alemanha, em 1973. Ele também dirigiu Garotas procuram...
(Mädchen, mädchen, 2001) e Napola, antes
da queda (Napola, Elite für den Führer, 2004). Em 2010, ele As Damas da Noite
(We are the Nigth). (Kleber Torres - do livro Princípios das Ideias)
Ficha Técnica:
Titulo :A Onda / Die Welle
Direção: Dennis Gansel
Roteiro: Dennis Gansel
ePeter Thorwarth
Elenco: Jürgen Vogel, Frederick Lau, Max Riemelt,
Jennifer Ulrich, Jacob Matschenz
Gênero: Drama
Música: Heiko Maile
Alemanha
2008