sábado, 30 de agosto de 2014

Alien, o Oitavo Passageiro





Considerado um filme do gênero da ficção cientifica, Alien, o Oitavo Passageiro,  lançado em 1979, e que alcançou um lugar destaque entre os filmes de maior bilheteria da história do cinema, como um verdadeiro blockbuster, tem a seu favor excelentes sequências de efeitos especiais sob a supervisão de Dennis Skotak.
O filme dirigido por Ridley Scott também se constitui num magnífico  trabalho do gênero de ficção cientifica de horror explorando um tema enfocado no livro de Allan Dean Foster, do mesmo nome e que também foi alçado à condição de best-seller, narrando a história trágica de sete tripulantes de uma nave espacial – cinco homens e duas mulheres - , que embarcam para o que seria uma viagem tranqüila até que alguém traz para o interior da espaçonave – um cargueiro comercial – um misterioso e mutável oitavo passageiro.
Toda a trama da história se desenvolve tendo como pano de fundo o cenário fantástico de uma nave futurista e de um planeta desolado com vestígios de uma possível civilização extraterrestre, envolvendo uma trama que mistura simultaneamente  suspense, terror e até espionagem.
O elenco reúne John Hurt, Verônica Cartwright, Tom Skerrit, Harry Dean Stanton, Ian Holm e Yaphet Kotto e Sigourney Weaver, no papel de Ripley, personagem central da trama,  e que seis anos depois reaparece na telinha na versão de Alliens, o Resgate, desta vez dirigido por James Cameron, que foi co-autor de Rambo II a Missão e do Exterminador do Futuro e seqüenciado depois com Alien 3 (1992) e Alien Resurrection (1997).
Já título do filme refere-se ao antagonista primário: uma criatura alienígena altamente agressiva que persegue e mata a tripulação de uma nave espacial mudando mimeticamente de forma. O Alien e seus elementos acompanhantes foram criados pelo pintor surrealista H. R. Giger, enquanto os artistas conceituais Ron Cobb e Chris Foss criaram os aspectos humanos do filme.

O filme  foi aclamado pela crítica e se tornou um sucesso de bilheteria, recebendo o Oscar de melhores efeitos visuais, os Saturn Awards de melhor filme de ficção científica. Ele foi escolhido para preservação em 2002 pelo National Film Registry da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, sendo considerado um filme culturalmente, historicamente, ou esteticamente significante.(Kleber Torres)



Ficha técnica:
Titulo : Alien, o Oitavo Passageiro
Dirigido por   Ridley Scott
Com   Sigourney Weaver, Tom Skerritt, Veronica Cartwright mais
Gênero         Ficção científica , Terror , Suspense
Nacionalidade         Reino Unido , EUA
Ano : 1979

Duração : 1h56minutos

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O quarteto





O Quarteto marca a estreia exitosa de Dustin Hoffman, famoso por seus papeis antológicos em filmes como A Primeira Noite de um Homem, Perdidos na Noite,  O Pequeno Grande Homem, Todos os Homens do Presidente. Kramer versus Kramer e Rain Man, na direção de um longa-metragem. O filme é adaptação da peça de Ronald Harwood, que também assina o roteiro, contando a  história de um grupo de músicos eruditos aposentados e que vivem num asilo de luxo. O filme fala do amor, da velhice, da maturidade profissional, da arte, da solidão, da própria vida  e é permeado pelo humor  refinado e inteligente.
Os  personagens refletem sobre os acertos e erros do passado, mas buscam ao mesmo tempo  motivação para continuar com suas vidas, apesar da idade e dos dissabores limitantes da velhice, talvez o caminho de uma segunda infância.
O quarteto lírico do filme é formado por Reggie (Tom Courtenay), Wilfred (Billy Connolly), Cissy (Pauline Collins) e Jean (Maggie Smith), que  se reúnem depois de uma série de marchas e contramarchas para uma apresentação visando arrecadar fundos e salvar a luxuosa casa de repouso onde vivem, com dignidade e assistidos por uma equipe de profissionais.
O obstáculo deste reencontro está nas relações pessoais mal resolvidas, como a separação de Tom e Jean, bem na própria senilidade e na consciência da decadência dos envolvidos, pois, quando a voz que não corresponde mais timbre de outrora se pode compensar com a sabedoria e a experiência adquirida ao longo do tempo.
Numa cena dramática, Cissy (Pauline Collins) evidenciando sinais de demência senil ou de Alzheimer, sai sem rumo em busca dos pais e de uma viagem não programada momentos antes da apresentação do quarteto, que iria interpretar o Rigoletto de Verdi revivendo um sucesso passado, mas atuava agora para um pequeno público do asilo onde viviam visando angariar fundos para a instituição.
A câmera se fixa não apenas nos planos gerais dos salões e da paisagem, mas e também nos detalhes dos rostos vincados pelo tempo, nas mãos marcadas, nos olhos cansados bem como no contraste com a juventude da médica que administra a casa (Sheridan Smith) ou dos jovens que visitam o local para aprender sobre ópera e discutir sobre música ou mesmo sobre o rap.
O filme tem como pano de fundo a música, que marca a sua abertura e se insere em todos os momentos, culminando com a apresentação do quarteto e com uma justa e reconhecida homenagem a cada um dos personagens reunidos para o filme que foram celebridades na música, uns tocando com Frank Sinatra, outros como virtuoses e até mesmo com integrantes de orquestras sinfônicas ou como concertistas.
O filme consegue  mostrar com competência que existe futuro mesmo na velhice e que a arte é um caminho para a realização pessoal. Ele também nos lembra Seneca ao considerar que a vida é longa se for vivida na sua plenitude e alerta que o que importa não é viver muito, mas viver com qualidade, afinal, quem decide a duração da vida é o destino.

  
Ficha Técnica:
Direção: Dustin Hoffman
Elenco: Maggie Smith, Tom Courtenay, Billy Connolly, Pauline Collins,
Gênero: Comédia , Drama
Duração : 98 minutos

Lançamento : 2013

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O universo dos clichês



O filme pornô obedece a uma série de clichês e fórmulas prontas, conceitos e critérios, bem como de toda estrutura cenográfica e de marketing, chegando mesmo a criar alguns estereótipos, os quais são aceitos pelo seu público aficionado que não faz questionamentos e nem procura fazer uma análise crítica sobre o que seria conceitualmente erótico ou pornográfico.
No nível pornográfico ocorre o que seria uma perda da preocupação estética e uma mera vulgarização do sexo ou do próprio ato sexual nas suas mais diversas formas e posições como recomendava o Kama Sutra. Em síntese,  haveria uma coisificação e banalização do sexo em detrimento do artístico e da fruição da beleza em sua essência. Aqui vamos falar de dois filmes que marcaram época: Objetos do Desejo e Rambone.
Considerado um dos melhores filmes da safra de 1983, Objetos do Desejo – Objects os Desire – dirigido por Ji Bourg Jime,  aparece como um dos clássicos do gênero.  O roteiro chega a incluir uma história com aparente começo, meio e fim de acordo com o princípio aristotélico,  sobre um bordel que recebe uma virgem verdadeira  para descobrir os seus segredos e o vasto universo do sexo até mesmo pelos caminhos tortuosos do sadomasoquismo.
O elenco reúne Ron Heremy, Juliet Anderson, Mai Lin, Hershel Savag, Marilin DePire e Bridget Danke, com fotografia de Percy Young, que utiliza com abundância clichês e planos de detalhes  para acompanhar as várias linhas de ação consideradas importantes dentro de uma história com aparente sequência lógica  e racional.
O roteiro é narrado por uma terceira pessoa, ou seja,  uma prostituta que conta a história de Giovana e Baduque, um empresário que fez a sua opção epicurista pelo prazer, através do sexo geral e irrestrito, sem fixações em uma mulher específica e que opta pelos casos ligeiros e sem comprometimento, mas que acaba se transformando no iniciador  de uma virgem nos meandros e segredos do sexo e do sofrimento.
Assim,  a curra,  o estupro, sexo grupal, homossexual e todos os demais ingredientes são inseridos no roteiro do filme, que obedece a uma estrutura não linear, mas se desenha numa narração de atos sexuais sequenciados, com  uma estrutura de ação similar e ao mesmo tempo  comum aos demais filmes do gênero. Tudo isso torna Objetos do Desejo  uma verdadeira maratona sexual cujo objetivo seria o de manter ligado e atento ao espectador. O filme previlegia a ação em detrimento do diálogo e da razão.
Outro exemplar desta safra foi Rambone, o Destruidor considerado um clássico no gênero e que tem como espelho Rambo, um filme de violência e aventura no sentido bélico. No caso de Rambone, the Destroyer, dirigido por William Wet, o filme conta as aventuras de um exemplar raro de um super-bem-dotado  Dick Rambone, que se destaca pela performance  com suas 15,5 polegadas de instrumental, que lhe valeram o codinome de Destruidor.
Tudo se desenrola em 75 minutos de ação num vale tudo de sexo em geral no atacado e no varejo. O filme começa quando a namorada de Rambone se envolve emocionalmente com outra mulher, com quem partilha uma série de experiências entre si ou em encontros com homens e mulheres. No filme há uma predominância do sexo anal e das penetrações duplas, além dos clichês amplamente usados nos filmes do gênero, que se repetem infinitamente.
Rambone se revolta ao saber que era traído e se esforça ao tentar fazer como que a sua namorada insaciável abandone o sexo grupal, mas acaba neutralizado no seu esforço e embarca nessa onda passando a participar da orgias, mas desta vez como um vingador que usa uma arma destruidora e descomunal.

O verbal de Rambone e do elenco cede espaço para a ação pela ação, ou seja, o sexo pelo sexo, mas tanto ele como Objetos do Desejo podem ser vistos como metáforas e até mesmo como uma espécie de metalinguagem em que o sexo fala de sexo, de forma inesgotável e até insaciável, mas o resultado de tudo pode ser avaliado pelo espectador que tanto pode se deliciar com os filmes do gênero, como fazer uma profunda reflexão critica para distinguir os tênues caminhos que separam o erótico, com seu conteúdo estético, do pornográfico ou distinguir até quando o sexo vira mercadoria e um produto descartável. (Kleber Torres)

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

A viagem de Roger Corman





Reunindo Dennis Hopper e Henry Fonda, que atuaram no antológico Sem Destino (Easy rider), um marco da contracultura e uma das obras primas do cinema underground, o diretor independente  Roger Corman produziu The Trip (A viagem ao Mundo da Alucinação), uma incursão no mundo do LSD e psicodelismo. O filme, que tem o roteiro assinado por Jack Nicholson, não aprofunda o debate sobre a questão do uso de alucionógenos, fazendo apenas uma exposição do complexo e polêmico mundo psicodélico.
Formado em engenharia pela Universidade de Stanford e ex-aluno de Literatura Inglesa em Oxford, Corman entrou para a história do cinema como  um dos mais celebres autores independentes de Hollywood, com mais de 400 filmes, o que lhe valeu um Oscar pelo conjunto da obra  e que teve a seu crédito o lançamento  de diversos atores entre os quais Robert de Niro e Jack Nicholson.  Corman também conviveu com Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, James Cameron, Tim Burton, Ron Howard, Joe Dante e Peter Bogdanovich entre outros diretores celebres, de quem era amigo pessoal.
O filme que tem o caráter aparente de uma reportagem ficcional e de um documentário, narra a história de Paul Groves, interpretado por Peter Fonda, um publicitário que atravessa uma crise conjugal e pessoal, o qual resolve com a ajuda de amigos fazer uma viagem psicodélica, com o uso de LSD, ácido lisérgico, um produto que no passado chegou a ser usado no tratamento da epilepsia, mas que produz alucinações fantásticas e é considerado uma droga potente.       
Em que pese a própria apresentação do filme  alertar para o risco implícito  do uso de drogas e os malefícios que elas podem causar, The Trip assume uma postura inteiramente neutra com relação ao lado bom ou negativo do uso do LSD, se limitando a mostrar um painel  da viagem psicodélica de Groves a partir de belas e calmas imagens coloridas, que progridem numa escalada turbulenta para um universo de paranóias e alucinações.
Também vale a pena no filme a sequência experimental de imagens e efeitos especiais com uso de cores e formas inusitadas tudo isso sem o suporte do uso de computadores e nem de tecnologia digital, dando ao espectador uma ideia sobre o que seria uma verdadeira viagem  com o potente LSD, que esteve em alta anos conturbados anos 70 do século passado e que tem hoje sua difusão relativamente em baixa  em função da difusão da maconha, da cocaína e mais recentemente avassaladora do crack entre usuários de drogas.(Kleber Torres) 

Ficha técnica
Título no Brasil       Viagem ao Mundo da Alucinação
Título Original         The Trip
Ano de Lançamento          1967
Gênero         Drama
País de Origem      EUA
Duração       85 minutos

Direção        Roger Corman

terça-feira, 26 de agosto de 2014

O leão do inverno







Reunindo um elenco de primeira grandeza com Peter O’Toole interpretando o rei Henrique II e Katherine Hepburn como a rainha Eleanor  - que recebeu o Oscar de melhor atriz  pelo seu desempenho no filme- , O Leão do Inverno é um épico sobre os bastidores da luta pelo poder. O filme dirigido por Anthony Harvey, baseado na peça homônima de James Goldman, que fez a  adaptação do seu próprio texto, o qual fez enorme sucesso na Broadway, em 1966.
Tudo começa no Natal de 1183, o Rei da Inglaterra, Henrique II, promove uma reunião de família com seus três filhos e até mesmo com a Rainha Eleanor da Aquitânia, de quem ele estva separado há vários anos e a mantém detida em um castelo distante, para impedir que ela interfira politicamente no seu reino.
Na agendo do encontro a decisão de quem  sucederá o rei no trono. Neste processo tenso e complexo a rainha Eleanora tenta se aliar com o rei da França  para assegurar ao seu filho mais velho a herança do trono, fazendo valer a lei primogenitura. Já o rei Henrique quer favorecer o filho mais novo e neste quadro se desenha um cenário de conspirações palacianas, prisões e ríspidos diálogos verbais, onde o risível se contrapõe ao sério e até ao besteirol.
O Leão do Inverno também reconstrói os cenários da Idade Média, com sua pobreza e suas nuances, num colorido sem contrastes e com alguns cortes de forma sincrônica. O filme compensa a sua lentidão – normal nas peças de teatro adaptadas para o cinema – e a pobreza dos cenários e da austeridade do interior de um castelo medieval, tendo como contraponto uma história humana rica e dramática, com homens rudes buscando parecer civilizados e nobres.
O filme descortina tabus de uma época ao colocar na agenda a questão do milenar homossexualismo entre os nobres e príncipes,  colocando em debate uma questão de todos os tempos e de todas as classes sociais. Mas o seu ponto mas forte está sem dúvida nos bastidores da renhida disputa e intrigas palacianas pelo poder, o que se desenrola de forma imprevisível no próprio cinema e na vida.
O Toole e Hepbrun premiam o publico com um desempenho antológico, dramático e coerente, mostrando num ambiente shakespereano a teatralidade dos gestos, na impostação da voz e  nos olhares, sem caras e bocas. (Kleber Torres)



Ficha técnica:
Direção:       Anthony Harvey
Com   Peter O'Toole, Katharine Hepburn, Anthony Hopkins mais
Gênero         Drama , Histórico
Ano : 1968

Duração: 134 minutos 

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Além das paredes







Além das Paredes (Beyond the Walls) é um filme israelense que foi indicado para o Oscar como melhor filme estrangeiro de 1984, mas perdeu o titulo para Dangerous Movies. O filme foi inteiramente rodado no interior de uma prisão mostrando além da conflitiva relação entre guardas e detentos, o outro lado do complexo e conturbado litígio entre os palestinos e israelenses, descendo aos bastidores de uma questão que se desdobra ao longo de quase 70 décadas e foi um legado histórico do colonialismo que definiu de forma arbitrária as fronteiras entre povos e nações a partir dos interesses das grandes potencias.
Dirigido por Uri barbash, Além das Paredes é sobretudo um filme polemico pela sua essência. Ele mostra inclusive a tortura praticada por guardas sádicos, inescrupulosos contra presos políticos ou não, bem como o seu trabalho de separar os palestinos e os isreaelenses através de uma série de  barreiras de ordem étnica, ideológica e cultural.
O que os guardas  não esperavam é que o líder dos judeus no presídio, um assaltante de bancos interpretado por Arnon Zadock, se aproximasse do espião ou terrorista palestino, Muhamad Marki – revelado em Anna K, um filme de Kosta Gravas – para deflagrarem uma luta comum dos presos hebraicos e palestinos pelo resgate dos direitos humanos e para combater a estrutura corrupta do presídio.
Como estratégia de enfrentamento político os presos deflagram uma greve de fome, e só abrem as negociações com uma comissão especial indicada pelo governo para apurar as denúncias dos abusos e das irregularidades. Os esforços para esvaziamento do movimento  inclusive com a soltura do preso palestino  são infrutíferas, pois ele prefere continuar preso e voltar para o seio da família e abdicando até de conhecer o filho de quatro anos a quem nunca tinha visto antes.
O filme revela um drama comovente, humano e realista, mas que também tem similitude com o complexo universo dos presídios brasileiros onde não são nítidas as divisões raciais, sociais e culturais, a exemplo dos presos do mensalão que tiveram tratamento diferenciado na Penitenciária da Papuda, e onde há também uma disputa entre grupos e facções antagônicas e irreconciliáveis, tudo compondo um pano de fundo de um sistema carcerário corrupto e desigual, que precisa ser revisto. (Kleber Torres)

 FICHA TÉCNICA:
Gênero: Drama
Direção: Rudy Cohen, Uri Barbash
Elenco: Ali Al'Azaari, Arnon Zadok, Avi Abuav, Eliezer Albala, Muhamad Ali, Muhamad Bakri, Ya'ackov Ayali, Yardena Arazi, Yussuf Abed A'Nur
Duração: 103 min.
Ano: 1984

País: Israel

domingo, 24 de agosto de 2014

Um retrato da vida em 24 fotogramas por segundo







Retratos da Vida - Les uns et les autres – é um dos filmes antológicos  do francês Claude Lelouch.  Com dança, música e guerra, ele traça um grande painel  da vida de quatro famílias e de um mundo em mudança, que começa em 1936 e vai até os anos 80, através dos caminhos cruzados pelo acaso ou destino e em quatro grandes centros urbanos do mundo: Moscou, Paris, Berlim e Nova York.
O elo de ligação destas quatro famílias que  têm os seus caminhos cruzados é de alguma forma a Segunda Guerra Mundial, com seus horrores, mostrando como ao  longo de três gerações, as vidas de diferentes famílias na Rússia, França, Alemanha e Estados Unidos, todas ligadas pela música, são afetadas por um conflito e as suas conseqüências políticas, sociais, humanas e culturais.
 A sincronização da direção, com a história, com o excelente desempenho do elenco e as locações selecionadas, contribuem para a compreensão de um conjunto de histórias tendo a música como pano de fundo e referencial maior. Sharon Stone tem uma pequena participação e aparece assistindo ao concerto na cama com Jack Glenn.
As histórias têm como referência, a bailarina do Bolshoi Tatiana Itovitch, em Moscou, que  perde seu marido, o músico Boris Itovitch, no front russo. Ela cria sozinha o filho do casal, que se torna uma bailarino profissional Sergei, o qual em função da represessão se torna um dissidente e foge da União Soviética. Ele se torna pai uma filha, Tania, que se torna bailarina.
Na França, a violinista judia Anne Meyer se casa com o pianista Simon Meyer e os dois acabam  enviados para um campo de concentração nazista, onde Simon morre. Durante a viagem de trem para o campo, Simon consegue deixar o bebê na linha do trem e ele  acaba encontrado e criado por um padre, tornando-se o advogado Robert Prat, que se torna pai um filho cantor profissional.
Ainda na França do pós-guerra, a cantora Evelyne é acusada de ser colaboracionista – como uma parcela significativa dos franceses durante o período da guerra – por ter se tornado amante de um nazista.  Discriminada e isolada, ela deixa Paris e se muda para Dijon, onde  tem uma filha, Edith. Os mesmo tempo, na Alemanha, o pianista e maestro Karl Kremer deixa a mulher Magda e seu filho para lutar na guerra.
Nos Estados Unidos, o cantor Jack Glenn deixa sua mulher Suzan para servir o exército e vai atuar entretendo as tropas em Londres e na Europa. O filho do casal Jason, que é homossexual assumido  e sua filha, a cantora Sara Glenn, se tornam celebridades e ganham fama no show business. As suas vidas se cruzam em uma apresentação promovida pela Cruz Vermelha tendo como pano de fundo o  Bolero de Ravel, em Paris mostrando um drama essencialmente humano e que a arte redime a violência se sobrepondo à guerra e à morte . (Kleber Torres)

Ficha Técnica
Título Original: Les Uns et les Autres
Direção:Claude Lelouch
Ano:1981
País:França
Gênero:Drama, Musical
Duração:184 min. / cor

Elenco: Nicole Garcia, Geraldine Chaplin, Macha Méril, Robert Hossein, Daniel Olbrychski, Jorge Donn, Rita Poelvoorde, Evelyne Bouix, Francis Huster, Raymond Pellegrin, Michel Piccoli, James Caan, Jeanne Moreau, Fanny Ardant e Sharon Stone numa pontinha.       

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Cidadão Kane







A chave para a compreensão do Cidadão Kane está numa palavra Rosebud, murmurada pouco antes da sua morte pelo personagem central do filme dirigido e roteirizado por Orson Welles, que construiu em preto e branco uma das maiores obras-primas da história do cinema.  O enredo tem como pano de fundo a controvertida figura de um magnata que assume o comando de uma poderosa cadeia de jornais e mostra os bastidores do mundo corporativo, da política e das comunicações.
O filme começa no grande castelo de Xanadu, enquanto uma câmera vai passeando lentamente até uma janela, onde se vê  Charles Foster Kane, segurando um globo de vidro nas mãos e  murmurando a palavra “Rosebud”, momentos antes da sua morte e que é constatada por uma enfermeira alguns momentos depois. A sua morte no filme ocorre simbolicamente quando o globo cai das suas mãos e se espatifa no chão.
O filme tem continuidade com a realização de uma espécie  de um documentário sobre  Charles Foster Kane, um dos homens mais importantes da  sua época e que muitos confundiram com William Randolph Hearst, que fez tudo para impedir a sua exibição. Na tentativa de aprofundar a história, o diretor coloca a sua equipe de produção atrás da resposta sobre o enigma central do filme, ou seja, o que seria “Rosebud”, que significa botão de rosa e alegoricamente clitóris em inglês.
Na tentativa de conseguir  uma resposta a esta questão o jornalista Thompson (William Alland) entrevista diversas pessoas que tiveram algum tipo de relação com o magnata a exemplo da sua ex-mulher, a decadente Dorothy Comingore, interpretada por  Susan Alexander, o seu ex melhor amigo Jedediah Leland, interpretado por Joseph Cotten,  além do seu mordomo e outros empregados do castelo.
A construção do filme  numa linguagem inovadora e não linear, também incluiu  o uso flash-backs, um recurso hoje universalizado nos filmes, novelas e seriados de televisão, além do travelling e de fusões de imagens, com uma montagem perfeita.
O Cidadão Kane também introduz no cinema a figura de uma espécie de anti-herói, diferente dos galãs e mocinhos padrão do cinema americano, com um personagem central gordo e grosseiro. O roteiro é assinado por Herman  Mankiewicz em parceria com o próprio Welles, ganhou o único dos sete Oscar’s para os quais o filme foi indicado. Mas o seu reconhecimento como um dos melhores filmes de todos os tempos veio com o tempo e com uma revisão critica do filme que teve diversas releituras em função da incorporação de uma nova linguagem e de técnicas inovadoras para o cinema.
O espectador vai conhecendo assim  a vida de Kane através dos fragmentos de momentos de sua história, desde sua infância, quando morava com sua mãe em uma humilde casa no interior, sua trajetória como jornalista, como político fracassado e que comprava a tudo e a todos até a sua morte num castelo saturado de móveis e objetos colecionados ao longo de toda uma vida. Em função da herança de uma mina Kane, ainda menino, é tirado do convívio de seus pais e levado para ser educado por um grupo de empresários, que o moldam para a vida pública e para o exercício do poder.
Já adulto, por diversão e vaidade pessoal o Cidadão Kane compra um jornal, que transforma numa rede de comunicação e passa a se tornar um jornalista implacável e que esquece a sua carta de princípios éticos, que acabou rasgada ponto por ponto. Mostra também a sua vida e os seus  interesses pessoais, o luxo e a fama decorrentes da riqueza e do poder que concentrava.
Em sua velhice, Kane manda construir para si um castelo, batizado de Xanadu, numa alusão à mítica cidade asiática, conhecida como a capital do prazer. Ali, isolado de tudo e de todos, o cidadão morre sozinho, deixando para os personagens do filme uma tarefa impossível e para os espectadores mais atentos a tarefa de elucidar na última cena o enigma de sua última palavra, um trenó velho e que acaba no fogo como os trastes velhos e as coisas sem valor do castelo, que não seriam leiloados pelos herdeiros. (Kleber Torres)
Ficha técnica:   
Cidadão Kane – Citzen Kane
Direção: Orson Welles
Elenco -  Orson Welles , George Coulouris , William Allan,  Dorothy Comingore, Joseph Cotten  e  Philip Van Zandt       
• Roteiro: Orson Welles e Herman J. Mankiewicz
• Gênero: Drama
• Origem: Estados Unidos

• Duração: 119 minutos

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Paris, Texas





O celebrado Paris, Texas, de Wim Wenders, considerado um cult movie,  conta a história de Travis, interpretado do Harry Dean Stantonm  um homem desmemoriado que parte em busca do seu passado, com a ajuda do irmão Walt (Dean Stockwell),  da cunhada Anne (Aurore Clemen) e do filho Hunter, que significa caçador ou justamente aquele que está à procura de algo.
Ao longo da história ele vai pegando os fragmentos da sua vida, como a foto de um terreno baldio em Paris, Texas, uma pequena cidade texana, ou captura informações esparsas  obtidas através da cunhada, que  mantinha um contato distante e incerto com a ex-mulher (Natassjia Kinsky) . A memória fragmentada também está num filme de super 8, com resgate de imagens familiares.
Sem dúvida, o tema central  do filme é a crise da família e da figura do paterna na sociedade capitalista e pós moderna. É também um filme sobre a solidão de cada um. Num primeiro momento, se percebe que Travis Henderson, é um homem que vive uma profunda crise existencial deflagrada por um desencanto amoroso e pela ruptura de uma relação conjugal. Este conjunto de fatores resulta nos ingredientes do quebra-cabeça existencial do próprio filme, a partir das imagens de um homem perdido no deserto texano, que seria uma metáfora do mundo com a sua complexidade e da própria solidão das pessoas com o seu drama existencial.
Como referência Travis carrega uma pequena foto de um terreno baldio em Paris, no estado do Texas, próximo do Red River, onde, segundo ele, seus pais se conheceram e onde fora concebido. Vale observar que busca das suas raízes   é feita a partir de um espaço territorial e não em termos biográficos que estão num emaranhado  perdido da sua memória pessoal.
O filme aborda em essência uma temática pós-moderna e profundamente  existencial que são as marcas do nosso tempo. A imagem de Paris, que nada tem com a capital francesa e sim com um povoado texano, serve de ponto de partida para a busca e reconstrução da verdade a partir  da imagem fragmentada e que se apresenta a partir de uma velha fotografia. Já o personagem central é um homem perdido no mundo e na vida em busca da sua essência existencial e de referências perdidas num passado remoto.
Ao encontrá-lo vagando pelo interior do Texas, o irmão Walt procura trazê-lo de volta à California, mas Travis, por medo, se recusa a viajar de avião. Os dois seguem de carro até Los Angeles, o que possibilita a sua  reaproximação do irmão. A viagem possibilita ao mesmo tempo, que após quatro anos de separação, Travis reencontre com o filho Hunter, de 8 anos, que havia sido deixado na casa dos tios pela mãe, após a separação do casal.
A desestruturação da família Henderson não ocorreu de uma vez, mas de forma gradual ao longo de um período de quatro longos anos.  Tudo começa com o desaparecimento de Travis, depois, a sua mulher some, deixando o filho Hunter com  os tios, que o adotam e o tratam  com carinho. Com a volta de Travis há a perspectiva do reencontro  com o filho e é deflagrada uma busca para a localização da mãe  numa espécie de uma odisseía para reconstrução impossível de um lar desestruturado e na busca de uma felicidade perdida.
Mas “Paris, Texas” é, também um filme sobre a crise do homem burguês e da desestruração da família no mundo pós moderno que é líquido, difuso, impessoal e desumano. O que se coloca, desde o principio, é a crise existencial de Travis, um homem maduro que se casa com uma bela ninfeta, adolescente imatura, mas um objeto de desejo e que se torna a mãe de seu filho. O universo do filme reflete um mundo social árido das relações impessoais, como o deserto do Texas e reflete as relações em uma sociedade mercantilizada em crise e em constante mudança.

Ficha técnica:
Direção: Wim Wenders
Roteiro: L. M. Kit Carson, Sam Shepard, Wim Wenders
Elenco: Aurore Clément, Dean Stockwell, Harry Dean Stanton, Hunter Carson, Nastassja Kinski
Produção: Anatole Dauman, Don Guest
Fotografia: Robby Müller
Trilha Sonora: Ry Cooder

Duração: 150 min.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Marvada Carne





A Marvada Carne (1985), primeiro longa de André Klotzel, teve sua estréia no Festival de Cannes/Semana da Crítica, e foi vencedor entre outros tantos prêmios de nove kikitos no Festival de Gramado. O filme é uma comédia que mostra as hilariantes aventuras de Carula (Fernanda Torres), uma garota simples, do interior, que tem um grande sonho na vida: se casar e para isso ela está disposta a tudo.

Já Nhô Quim (Adilson Barros) vive lá nos cafundós em companhia do cachorro e da cabra de estimação. Mas aquela vidinha besta de caipira no meio do mato não dá pé e resolve cair no mundo e procurar a solução para duas questões que o incomodam: arranjar uma boa moça para o casório, o que coincide com a pretensão de Carula e comer a tal carne de boi, um desejo que fica ruminando sem parar dentro dele como uma verdadeira obsessão.

Nas suas andaças Nhô Quim vai dar na casa de Nhô Totó (Dionísio Azevedo), cuja filha Carula está em conflito aberto com Santo Antônio, o casamenteiro, que não anda colaborando para ela arranjar um bom marido. E logo Nhô Quim descobre que o pai da moça tem um boi reservado para a ocasião do casamento da filha. Será este o momento para Nhô Quim realizar seus dois maiores desejos e de deglutir essa marvada carne.

 “A Marvada Carne”, de André Klotzel, é também uma metáfora de uma sociedade em transformação e em fase acelerada de urbanização, que não foi apenas um fenômeno brasileiro, mas uma tendência mundial e que se agudiza com o fenômeno da globalização. A cidade também atrai a população rural por oferecer melhores serviços de saúde, educação, infraestrutura e acesso ao mercado de trabalho. A contrapartida seria a desestruturação das famílias, o aumento do consumo de drogas, a prostituição e a marginalização dos que não têm qualificação e nem acesso ao mercado formal de trabalho,

O ponto de inflexão da trama nos permite identificar os elementos de uma tradição caipira definidos através da linguagem, dos costumes, vestuários, alimentação, e o seu contraste com a dinâmica cultural urbana, que só aparece concretamente no final do filme, embora esteja implícita desde o início da trama, agindo através do desejo do protagonista pela carne, como motor de uma odisséia que o tirará do isolamento social e culminará em sua inserção na cultura urbana. (Kleber Torres)





FICHA TÉCNICA
Direção: André Klotzel
Roteiro: André Klotzel e Carlos Alberto Soffredini
Elenco : Fernanda Torres (Carula), Dionísio Azevedo (Nhô Totó), Adilson Barros (Nhô Quim), Chiquinho Brandão, Regina Case (Mulher Diaba), Henrique Lisboa (Priest)
Ano: 1985
Gênero: Comédia

Duração: 78’

terça-feira, 19 de agosto de 2014

A Rosa Branca







O filme alemão a Rosa Branca (The White Rose) dirigido por Michael Vehoeven, que conquistou o o premio da Academia Alemã de Cinema, revela o drama real de um grupo de estudantes e professores universitários que integravan uma sociedade secreta alemã que fazia oposição ao nazismo e ao todo poderoso Adolfo Hitler, como também brincava de gato e rato com a sua política secreta, a Gestapo.

O filme se passa em Munique, nos idos de 1942, quando a expansão belicosa da Alemanha chegou ao seu ápice com a ocupação da França e de países vizinhos,  quando o grupo de intelectuais assumiu uma audaciosa postura de critica e oposição ao nazismo, conseguindo com poucos recursos e um número ínfimo de integrantes, distribuir milhares de panfletos e de cópias mimeografadas de documentos contra o regime nazista. Bem como as suas atrocidades nos campos de concentração.

O grupo denunciou inclusive o massacre de 300 mil judeus nos campos de concentração da Áustria. A Rosa Branca também tinha ativa participação em pichações e centrava suas atividades na universidade de Munique, onde alguns dos seus integrantes acabaram detidos pela SS, inclusive Sophie School, interpretada por Lena Stolze, que foi morta e decapitada para servir de exemplo aos contestadores do Reich.

O movimento dos estudantes ganhou força e até algum apoio até mesmo de parte do exercito alemão, após a derrota do marechal Von Paullus que se rendeu na frente soviética com quase 100 mil homens na batalha de Stalingrado, que teve o custo de 250 mil mortos para a Alemanha, bem como com a virtual invasão dos aliados. Mas isso não ajudou muito aos integrantes da Rosa Branca, que foram dizimados pela Gestapo antes da rendição do pais, em maio de 1945.

Lena Stolze (The Nasty Girl) protagoniza o filme aclamado pela critica e baseado na verdadeira história de cinco estudantes alemães - Sophie Scholl, Hans Scholl, Willi Graf, Christoph Probst, Alexander Schmorell e outras vitimas anônimas do nazismo. (Kleber Torres)

ORIGINAL:   Die weiße Rose (1982)
DIRETOR:    Michael Verhoeven
ROTEIRISTA: Mario Krebs e Michael Verhoeven
TRILHA:       Konstantin Wecker

ATORES:     Wulf Kessler, Oliver Siebert, Werner Stocker e Lena Stolze

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A síntese da repressão e da violência de chapa branca





Repressão, seria a única palavra capaz de definir e sintetizar Cobra, o polêmico filme de George Comsta, o mesmo diretor de Rambo II – A missão, ambos coincidentemente estrelados por Silvester Stalone. No Brasil, da censura pós 64, a exibição dos dois filmes nos cinemas chegou a ser vetada pelo Ministro da Justiça, Paulo Brossard, que os considerou na época como um apelo à violência.

Em realidade Cobra não é um filme que se insere com força no que chamaríamos de uma estética da violência, pois, de certa forma ele se parece até um filme infantil se colocado lado a lado e comparado, com a série de  Sexta-Feira 13, até então com cinco  opções sangrentas e hoje com mais de 10 filhotes no mercado e considerado muito mais chocantes.

No caso mais específico de Cobra, tudo é mais simplificado e estilizado. O roteiro assinado pelo próprio Stalone, toma por base uma novela de Paula Gosling, para contar a estória de um policial sui generis, ligado ao Exército dos Estados Unidos e que realiza investigações especiais, que se encerram sempre  com longos tiroteios e um rol de mortos e feridos.

Cobra que é o detetive Marion Cobretti (Stalone), luta contra uma organização terrorista: a Nova Ordem, que tem como missão promover a eliminação dos mais fracos para garantir no futuro a sobrevivência dos mais fortes. O mesmo modelo que foi institucionalizado pela Alemanha nazista de Hitler, com a banalização do mal.

Todo o filme é centrado na luta contra esta tarefa eugênica, tendo como gancho principal o fato de que o policial toma como missão proteger uma mulher, Brigitte Nielsen que havia testemunhado uma chacina promovida pela Nova Ordem e poderia ajudar a incriminar os seus autores.

O roteiro parte de uma história aparentemente simples e que resultou num filme movimentado, com todos os ingredientes para prender o espectador, inclusive com  uma pitada ácida de violência,  mas escondendo de certa forma o aspecto ideológico da guerra de um policial contra o crime, acima da lei e da justiça, muito além do bem e do mal. Marion Cobra age a partir do conceito de que o crime é uma doença, cuja cura seria possível com uma cirurgia drástica e obviamente letal, que seria ele próprio.

Assim, para justificar a parte verbal do seu discurso político, Cobra não perde tempo com conversa fiada e ao jogar gasolina sobre o chefe da Nova Ordem, o seu principal antagonista, sobre quem não hesita em lançar um  fósforo aceso, ele faz questão de citar um mandamento constitucional tão comum nos filmes americanos ao declarar que “você tem todo direito de ficar calado”.


Ficha Técnica
Título Original: Cobra
Gênero: Policial
Tempo de Duração: 87 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1986
Direção: George P. Cosmatos
Roteiro: Sylvester Stallone, baseado em livro de Paula Gosling
Música: Sylvester Levay

Elenco: Sylvester Stallone, Brigitte Nielsen, Rene Santoni, Andrew Robinsonm Brian Thompson e John Herzfeld

domingo, 17 de agosto de 2014

Um estranho no ninho






Considerado como uma obra prima do cinema Um Estranho no Ninho -  O One Flew Over the Cuckoo's Nest, (1975), dirigido por Milos Forman e que tem como foco uma metáfora de um hospício, com as leis que o regulam, a estrutura do poder e os seus contestadores, como um reflexo do mundo que nos cerca, um grande manicômio sem grades e sem fronteiras. A obra tem como referência o livro de Ken Kesey, também um marco da contracultura.

A história tem como pano de fundo o drama dos internos que são pacientes dos hospitais psiquiátricos, com uso abusivo de eletrochoques e de lobotomias, como instrumentos de exercício do poder que acabam reduzindo os doentes à condição de robôs, com vida vegetativa e sem vontade própria. Mas ele também reflete ao mesmo tempo o hospício como o sistema próprio  político, econômico e social, que nos oprime de forma direta e indireta, punindo aos desajustados e fora do contexto.

 “Um Estranho no Ninho” conta a história do insubordinado Rundle Patrick McMurphy que, para não ficar na prisão, inventa uma suposta doença mental e acaba indo parar num hospital psiquiátrico onde outras pessoas com problemas similares são tratadas na base da medicação, do eletrochoque e da lobotomia. Irreverente, ele tenta mudar as regras do estabelecimento e as relações interpessoais jogando cartas e basquete com seus companheiros dopados e indiferentes. Tudo isto acabou criando um  conflito insuperável entre ele e a todo-poderosa enfermeira-chefe Mildred Ratched (Louise Fletcher) que detinha o poder com mão de ferro, representando o impessoal sistema e seus tentáculos.

O filme foi é praticamente rodado dentro de um hospital de verdade, com exceção da sequência  em que eles fogem da clinica para uma alucinada pescaria, que  foi gravada de forma extremamente cômica e realista. Vale registrar que todo o filme foi filmado praticamente na mesma seqüência da exibição, com exceção da cena externa que, foi feita por último e inserida posteriormente na montagem.

Como contraponto à relação conflitiva entre Mac e a chefe do serviço de enfermagem, está a sua aproximação com grande e mudo índio Wil Sampsom, revelada desde as primeiras seqüências na quadra de basquetebol até momentos antes de Mac participar de uma sessão de eletrochoque. A relação de amizade entre os dois é muito divertida e a prova disso são as risadas que as seqüências geram nos próprios espectadores.

Em realidade, o índio também um marginal como o Mac, é o grande herói do filme e sua personalidade se impõe pela busca da liberdade, que conquista na força e na marra, quando fingia obedecer às regras do jogo e do sistema. Ele pouco pode fazer para salvar o amigo e parceiro lobotomizado e transformado numa alma sem vida e sem direito à liberdade.

 “Um Estranho no Ninho” conquistou todos os Globos de Ouro que disputou; bem como cinco Oscar’s, incluindo os de melhor ator, atriz, diretor, filme e roteiro adaptado, enfim, é uma das maiores obras-primas do cinema. (Kleber Torres)


Ficha técnica



Gênero: Drama
Direção: Milos Forman
Roteiro: Bo Goldman, Dale Wasserman, Ken Kesey, Lawrence Hauben

Elenco: Alonzo Brown, Brad Dourif, Christopher Lloyd, Danny DeVito, Dean  Brooks, Delos Smith Jr., Dwight Marfield, Jack Nicholson, Josip Elic, Kay Lee, Ken Kenny, Lan Fendors, Louisa Moritz, Louise Fletcher, Mel Lambert, Mews Small, Michael Berryman, Mimi Sarkisian, Mwako Cumbuka, Nathan George, Peter Brocco, Philip Roth, Scatman Crothers, Sydney Lassick, Ted Markland, Tin Welch, Vincent Schiavelli, Will Sampson, William Duell, William Redfield

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Vestida para matar





Vestida para Matar (Dressed to Kill), um filme de 1980, do diretor Brian de Palma com Michael Caine e Angie Dickinson, é um trabalho de alto nível, fortemente influenciado pela obra de Alfred Hitchcock, tendo como referenciais releituras de Psicose e Um Corpo que Cai.

O filme mostra a história de um assassino com histórico de dupla personalidade: uma machista e outra feminista que seria Bobby, um personagem ambíguo, que  vive um intenso conflito e acaba de se envolvendo numa série de assassinatos de cunho sexual.

A enredo parte da história do psicólogo Robert Elliott (Michael Cane), que se encontra numa situação complicada quando um de seus pacientes lhe rouba uma navalha e começa a perseguir e matar outros pacientes. A primeira da lista é Kate Miller (Angie Dickinson), uma dona de casa frustrada e insatisfeita sexualmente, que encontra um cara misterioso em um museu e acaba morta a golpes de navalha no elevador do prédio onde esteve com um desconhecido a quem encontrara de forma casual num museu.

Já Liz Blake (Nancy Allen), é uma prostituta que presencia a morte de Kate  vitima do paciente de Elliott e entra na lista do maníaco. O filme também apresenta sequências antológicas como a do banho de Angie Dickinson, revestida de erotismo e sensualidade e que tem como espelho uma cena Psicose, culminando com o assassinato do elevador ou a da luva perdida na saída do museu, depois de uma série de cenas antológicas que tiveram como referencia Um Corpo que Cai (Vertigo).

O caso acaba resolvido com a ajuda de Peter (Keith Gordon) filho de Kate que mantém uma moto com uma câmera em frente ao consultório do psiquiatra e acaba identificando o assassino, que tem dupla personalidade e transita entre o universo masculino e feminino. O final é surpreendente (Kleber Torres)

Ficha Técnica
Vestida para Matar
1980
Direção: Brian de Palma
Elenco
Michael Caine — Dr. Robert Elliott
Angie Dickinson — Kate Miller
Nancy Allen — Liz Blake
Keith Gordon — Peter Miller
Dennis Franz — Detetive Marino
David Margulies — Dr. Levy

Ken Baker — Warren Lockman

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Rede de Intrigas






Um âncora  de noticiário de uma rede de televisão estadunidense é demitido em razão da baixa audiência do programa. Ele então anuncia que irá cometer suicídio no ar. Por esta razão ele é readmitido e os índices de audiência do programa voltam a crescer. O apresentador passa a ser conhecido como o Profeta Louco, e que fala sobre tudo, mas seu comportamento dúbio faz com que os responsáveis pela sua ascensão decidam detê-lo, justo quando os índices de audiência estão caindo e se estabilizando numa tendência negativa.

Com esta sinopse Sidney Lumet construiu uma das suas obras primas e mais premiadas da história do cinema Rede de Intrigas (Network). Ele também se imortalizou como diretor versátil e talentoso, executando obras potentes, na sua maioria, sempre com um viés critico nos campos político, econômico ou social.

Ninguém discute que este é um dos seus filmes mais políticos e denunciadores, mirando diferentes alvos, mas tendo como temática central os complicados bastidores da televisão e os alpinistas sociais no mundo corporativo, com foco sempre nos resultados, ou seja, os índices de audiência de cada programa mesmo com o uso de apelos sensacionalistas e dos recursos da imprensa marrom.

No filme, uma emissora em decadência e com seus índices de audiência em queda investe numa nova grade de programação na tentativa de conquistar e se possível manter os índices em  relação às redes concorrentes, numa disputa que envolve um verdadeiro vale tudo. A empresa também passa por uma reestruturação e sem funde com um grupo internacional ligado aos árabes para se capitalizar.

É neste cenário que emerge Diana (Faye Dunaway) ao assumir a diretoria de programação e investindo numa agressiva e desumana política de marketing, que tem como meta virar este jogo da audiência e do faturamernto independente dos limites que irá ultrapassar. Ele não hesita entre o bem e o mal, nem mesmo em fazer concessões e favores sexuais para atingir os seus objetivos ou fazer acordos com grupos terroristas para transmitir assaltos e crimes ao vivo.

Para isso, ela não hesita em colocar de volta no ar Howard Beale (Peter Finch), com um desempenho magistral, o qual  lhe valeu um Oscar póstumo, intitulado de o “profeta louco”, que dá vida a um personagem complexo que transita do caricato e apático, assumindo a construção de um discurso radical de crítica ao consumismo, à manipulação da informação e à globalização, questionando do mundo da política até a compra da emissora que trabalha por investidores árabes, ganhando assim a simpatia do público e inflando a massa com seus discursos paranóicos tendo como base a afirmação: “estou ficando louco e não irei mais aguentar mais isso”, que passa a  ser assimilado pelos telespectadores.

 O sucesso da atração acaba fazendo os altos executivos da empresa Arthur (Ned Beatty) e Frank (Robert Duvall) festejem os resultados econômicos com o aumento da audiência e consequentemente do faturamento do programa. Eles demitem a Max Schumacher (William Holden), que perde a sua diretoria para Diana, a qual o utiliza como trampolim para a sua escalada profissional.

O filme continua atual e evidencia os problemas dos veículos de comunicação na disputa pela audiência e pelo mercado, bem como questiona a sua função social de informar, educar e mostrar a realidade de forma critica. Os bastidores da televisão são mostrados com realismo, retratando até onde a ânsia pelo lucro e pelo sucesso acaba envolvendo a mobilização  dos telespectadores ou de grupos de interesse nem sempre legítimos, tendo como foco os índices de audiência e o faturamento.

O roteiro assinado por Paddy Chayefsky mostra diálogos e situações marcantes e conflitivas, evidenciando a partir dos bastidores, como as redes de televisão defendem seus próprios interesses, às custas da manipulação da informação e da alienação do telespectador, que não passa de um número para construção dos índices de audiência. O filme se destaca pela sua dialética e contemporaneidade, mostrando o mundo da televisão como uma continuidade do show da vida e os 15 minutos de fama a que cada um tem direito numa sociedade globalizada, em que ninguém se lembra nem mesmo da manchete do dia de ontem.

Vale registrar que a personagem de Faye Dunaway não fala diretamente em nenhuma cena com o de Peter Finch, a quem dirige de forma indireta, como se o mesmo fosse uma não pessoa, mas um objeto  e a única música ouvida ao longo do filme são as dos comerciais, evidenciando a sua importância no contexto econômico televisivo. A Rede de Intrigas é até hoje na historia do cinema  o segundo filme que mais levou Oscar’s de atuação na sua época, com três troféus ao todo, junto com “Uma Rua Chamada Desejo”, que tem como base uma peça de Tenesse Williams. (Kleber Torres)


Ficha Técnica
Network /Rede de Intrigas (BR)
Estados Unidos
1976
121 min
Direção:       Sidney Lumet
Roteiro:        Paddy Chayefsky
Narração:     Lee Richardson
Elenco:     Faye Dunaway, William Holden, Peter Finch, Robert Duvall, Ned Beatty e Beatrice Straight
Música         Elliot Lawrence

Venceu o Oscar nas categorias de Melhor Ator (Peter Finch), Melhor Atriz (Faye Dunaway), Melhor Atriz Coadjuvante (Beatrice Straight) e Melhor Roteiro Original (Paddy Chayefsky).