O
filme pornô obedece a uma série de clichês e fórmulas prontas, conceitos e
critérios, bem como de toda estrutura cenográfica e de marketing, chegando
mesmo a criar alguns estereótipos, os quais são aceitos pelo seu público aficionado
que não faz questionamentos e nem procura fazer uma análise crítica sobre o que
seria conceitualmente erótico ou pornográfico.
No
nível pornográfico ocorre o que seria uma perda da preocupação estética e uma mera
vulgarização do sexo ou do próprio ato sexual nas suas mais diversas formas e
posições como recomendava o Kama Sutra. Em síntese, haveria uma coisificação e banalização do sexo
em detrimento do artístico e da fruição da beleza em sua essência. Aqui vamos
falar de dois filmes que marcaram época: Objetos do Desejo e Rambone.
Considerado
um dos melhores filmes da safra de 1983, Objetos do Desejo – Objects os Desire
– dirigido por Ji Bourg Jime, aparece como
um dos clássicos do gênero. O roteiro
chega a incluir uma história com aparente começo, meio e fim de acordo com o
princípio aristotélico, sobre um bordel
que recebe uma virgem verdadeira para
descobrir os seus segredos e o vasto universo do sexo até mesmo pelos caminhos
tortuosos do sadomasoquismo.
O
elenco reúne Ron Heremy, Juliet Anderson, Mai Lin, Hershel Savag, Marilin
DePire e Bridget Danke, com fotografia de Percy Young, que utiliza com
abundância clichês e planos de detalhes
para acompanhar as várias linhas de ação consideradas importantes dentro
de uma história com aparente sequência lógica
e racional.
O
roteiro é narrado por uma terceira pessoa, ou seja, uma prostituta que conta a história de
Giovana e Baduque, um empresário que fez a sua opção epicurista pelo prazer,
através do sexo geral e irrestrito, sem fixações em uma mulher específica e que
opta pelos casos ligeiros e sem comprometimento, mas que acaba se transformando
no iniciador de uma virgem nos meandros
e segredos do sexo e do sofrimento.
Assim,
a curra, o estupro, sexo grupal, homossexual e todos os
demais ingredientes são inseridos no roteiro do filme, que obedece a uma
estrutura não linear, mas se desenha numa narração de atos sexuais sequenciados,
com uma estrutura de ação similar e ao
mesmo tempo comum aos demais filmes do
gênero. Tudo isso torna Objetos do Desejo uma verdadeira maratona sexual cujo objetivo
seria o de manter ligado e atento ao espectador. O filme previlegia a ação em
detrimento do diálogo e da razão.
Outro
exemplar desta safra foi Rambone, o Destruidor considerado um clássico no
gênero e que tem como espelho Rambo, um filme de violência e aventura no
sentido bélico. No caso de Rambone, the Destroyer, dirigido por William Wet, o
filme conta as aventuras de um exemplar raro de um super-bem-dotado Dick Rambone, que se destaca pela performance
com suas 15,5 polegadas de instrumental,
que lhe valeram o codinome de Destruidor.
Tudo
se desenrola em 75 minutos de ação num vale tudo de sexo em geral no atacado e
no varejo. O filme começa quando a namorada de Rambone se envolve emocionalmente
com outra mulher, com quem partilha uma série de experiências entre si ou em
encontros com homens e mulheres. No filme há uma predominância do sexo anal e das
penetrações duplas, além dos clichês amplamente usados nos filmes do gênero,
que se repetem infinitamente.
Rambone
se revolta ao saber que era traído e se esforça ao tentar fazer como que a sua
namorada insaciável abandone o sexo grupal, mas acaba neutralizado no seu
esforço e embarca nessa onda passando a participar da orgias, mas desta vez como
um vingador que usa uma arma destruidora e descomunal.
O
verbal de Rambone e do elenco cede espaço para a ação pela ação, ou seja, o
sexo pelo sexo, mas tanto ele como Objetos do Desejo podem ser vistos como
metáforas e até mesmo como uma espécie de metalinguagem em que o sexo fala de
sexo, de forma inesgotável e até insaciável, mas o resultado de tudo pode ser
avaliado pelo espectador que tanto pode se deliciar com os filmes do gênero,
como fazer uma profunda reflexão critica para distinguir os tênues caminhos que
separam o erótico, com seu conteúdo estético, do pornográfico ou distinguir até
quando o sexo vira mercadoria e um produto descartável. (Kleber Torres)
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