quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O universo dos clichês



O filme pornô obedece a uma série de clichês e fórmulas prontas, conceitos e critérios, bem como de toda estrutura cenográfica e de marketing, chegando mesmo a criar alguns estereótipos, os quais são aceitos pelo seu público aficionado que não faz questionamentos e nem procura fazer uma análise crítica sobre o que seria conceitualmente erótico ou pornográfico.
No nível pornográfico ocorre o que seria uma perda da preocupação estética e uma mera vulgarização do sexo ou do próprio ato sexual nas suas mais diversas formas e posições como recomendava o Kama Sutra. Em síntese,  haveria uma coisificação e banalização do sexo em detrimento do artístico e da fruição da beleza em sua essência. Aqui vamos falar de dois filmes que marcaram época: Objetos do Desejo e Rambone.
Considerado um dos melhores filmes da safra de 1983, Objetos do Desejo – Objects os Desire – dirigido por Ji Bourg Jime,  aparece como um dos clássicos do gênero.  O roteiro chega a incluir uma história com aparente começo, meio e fim de acordo com o princípio aristotélico,  sobre um bordel que recebe uma virgem verdadeira  para descobrir os seus segredos e o vasto universo do sexo até mesmo pelos caminhos tortuosos do sadomasoquismo.
O elenco reúne Ron Heremy, Juliet Anderson, Mai Lin, Hershel Savag, Marilin DePire e Bridget Danke, com fotografia de Percy Young, que utiliza com abundância clichês e planos de detalhes  para acompanhar as várias linhas de ação consideradas importantes dentro de uma história com aparente sequência lógica  e racional.
O roteiro é narrado por uma terceira pessoa, ou seja,  uma prostituta que conta a história de Giovana e Baduque, um empresário que fez a sua opção epicurista pelo prazer, através do sexo geral e irrestrito, sem fixações em uma mulher específica e que opta pelos casos ligeiros e sem comprometimento, mas que acaba se transformando no iniciador  de uma virgem nos meandros e segredos do sexo e do sofrimento.
Assim,  a curra,  o estupro, sexo grupal, homossexual e todos os demais ingredientes são inseridos no roteiro do filme, que obedece a uma estrutura não linear, mas se desenha numa narração de atos sexuais sequenciados, com  uma estrutura de ação similar e ao mesmo tempo  comum aos demais filmes do gênero. Tudo isso torna Objetos do Desejo  uma verdadeira maratona sexual cujo objetivo seria o de manter ligado e atento ao espectador. O filme previlegia a ação em detrimento do diálogo e da razão.
Outro exemplar desta safra foi Rambone, o Destruidor considerado um clássico no gênero e que tem como espelho Rambo, um filme de violência e aventura no sentido bélico. No caso de Rambone, the Destroyer, dirigido por William Wet, o filme conta as aventuras de um exemplar raro de um super-bem-dotado  Dick Rambone, que se destaca pela performance  com suas 15,5 polegadas de instrumental, que lhe valeram o codinome de Destruidor.
Tudo se desenrola em 75 minutos de ação num vale tudo de sexo em geral no atacado e no varejo. O filme começa quando a namorada de Rambone se envolve emocionalmente com outra mulher, com quem partilha uma série de experiências entre si ou em encontros com homens e mulheres. No filme há uma predominância do sexo anal e das penetrações duplas, além dos clichês amplamente usados nos filmes do gênero, que se repetem infinitamente.
Rambone se revolta ao saber que era traído e se esforça ao tentar fazer como que a sua namorada insaciável abandone o sexo grupal, mas acaba neutralizado no seu esforço e embarca nessa onda passando a participar da orgias, mas desta vez como um vingador que usa uma arma destruidora e descomunal.

O verbal de Rambone e do elenco cede espaço para a ação pela ação, ou seja, o sexo pelo sexo, mas tanto ele como Objetos do Desejo podem ser vistos como metáforas e até mesmo como uma espécie de metalinguagem em que o sexo fala de sexo, de forma inesgotável e até insaciável, mas o resultado de tudo pode ser avaliado pelo espectador que tanto pode se deliciar com os filmes do gênero, como fazer uma profunda reflexão critica para distinguir os tênues caminhos que separam o erótico, com seu conteúdo estético, do pornográfico ou distinguir até quando o sexo vira mercadoria e um produto descartável. (Kleber Torres)

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