A
chave para a compreensão do Cidadão Kane está numa palavra Rosebud, murmurada pouco
antes da sua morte pelo personagem central do filme dirigido e roteirizado por Orson
Welles, que construiu em preto e branco uma das maiores obras-primas da
história do cinema. O enredo tem como
pano de fundo a controvertida figura de um magnata que assume o comando de uma
poderosa cadeia de jornais e mostra os bastidores do mundo corporativo, da
política e das comunicações.
O
filme começa no grande castelo de Xanadu, enquanto uma câmera vai passeando
lentamente até uma janela, onde se vê Charles
Foster Kane, segurando um globo de vidro nas mãos e murmurando a palavra “Rosebud”, momentos
antes da sua morte e que é constatada por uma enfermeira alguns momentos
depois. A sua morte no filme ocorre simbolicamente quando o globo cai das suas
mãos e se espatifa no chão.
O
filme tem continuidade com a realização de uma espécie de um documentário sobre Charles Foster Kane, um dos homens mais
importantes da sua época e que muitos
confundiram com William Randolph Hearst, que fez tudo para impedir a sua
exibição. Na tentativa de aprofundar a história, o diretor coloca a sua equipe
de produção atrás da resposta sobre o enigma central do filme, ou seja, o que seria
“Rosebud”, que significa botão de rosa e alegoricamente clitóris em inglês.
Na
tentativa de conseguir uma resposta a
esta questão o jornalista Thompson (William Alland) entrevista diversas pessoas
que tiveram algum tipo de relação com o magnata a exemplo da sua ex-mulher, a
decadente Dorothy Comingore, interpretada por
Susan Alexander, o seu ex melhor amigo Jedediah Leland, interpretado por
Joseph Cotten, além do seu mordomo e
outros empregados do castelo.
A
construção do filme numa linguagem
inovadora e não linear, também incluiu o
uso flash-backs, um recurso hoje universalizado nos filmes, novelas e seriados
de televisão, além do travelling e de fusões de imagens, com uma montagem
perfeita.
O
Cidadão Kane também introduz no cinema a figura de uma espécie de anti-herói,
diferente dos galãs e mocinhos padrão do cinema americano, com um personagem
central gordo e grosseiro. O roteiro é assinado por Herman Mankiewicz em parceria com o próprio Welles,
ganhou o único dos sete Oscar’s para os quais o filme foi indicado. Mas o seu
reconhecimento como um dos melhores filmes de todos os tempos veio com o tempo
e com uma revisão critica do filme que teve diversas releituras em função da
incorporação de uma nova linguagem e de técnicas inovadoras para o cinema.
O espectador
vai conhecendo assim a vida de Kane
através dos fragmentos de momentos de sua história, desde sua infância, quando
morava com sua mãe em uma humilde casa no interior, sua trajetória como
jornalista, como político fracassado e que comprava a tudo e a todos até a sua
morte num castelo saturado de móveis e objetos colecionados ao longo de toda
uma vida. Em função da herança de uma mina Kane, ainda menino, é tirado do
convívio de seus pais e levado para ser educado por um grupo de empresários,
que o moldam para a vida pública e para o exercício do poder.
Já
adulto, por diversão e vaidade pessoal o Cidadão Kane compra um jornal, que
transforma numa rede de comunicação e passa a se tornar um jornalista
implacável e que esquece a sua carta de princípios éticos, que acabou rasgada
ponto por ponto. Mostra também a sua vida e os seus interesses pessoais, o luxo e a fama
decorrentes da riqueza e do poder que concentrava.
Em
sua velhice, Kane manda construir para si um castelo, batizado de Xanadu, numa
alusão à mítica cidade asiática, conhecida como a capital do prazer. Ali, isolado
de tudo e de todos, o cidadão morre sozinho, deixando para os personagens do
filme uma tarefa impossível e para os espectadores mais atentos a tarefa de
elucidar na última cena o enigma de sua última palavra, um trenó velho e que
acaba no fogo como os trastes velhos e as coisas sem valor do castelo, que não
seriam leiloados pelos herdeiros. (Kleber Torres)
Ficha
técnica:
Cidadão
Kane – Citzen Kane
Direção: Orson Welles
Elenco - Orson
Welles , George Coulouris , William Allan,
Dorothy Comingore, Joseph Cotten
e Philip Van Zandt
• Roteiro: Orson Welles e Herman J. Mankiewicz
•
Gênero: Drama
•
Origem: Estados Unidos
•
Duração: 119 minutos
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