sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Cidadão Kane







A chave para a compreensão do Cidadão Kane está numa palavra Rosebud, murmurada pouco antes da sua morte pelo personagem central do filme dirigido e roteirizado por Orson Welles, que construiu em preto e branco uma das maiores obras-primas da história do cinema.  O enredo tem como pano de fundo a controvertida figura de um magnata que assume o comando de uma poderosa cadeia de jornais e mostra os bastidores do mundo corporativo, da política e das comunicações.
O filme começa no grande castelo de Xanadu, enquanto uma câmera vai passeando lentamente até uma janela, onde se vê  Charles Foster Kane, segurando um globo de vidro nas mãos e  murmurando a palavra “Rosebud”, momentos antes da sua morte e que é constatada por uma enfermeira alguns momentos depois. A sua morte no filme ocorre simbolicamente quando o globo cai das suas mãos e se espatifa no chão.
O filme tem continuidade com a realização de uma espécie  de um documentário sobre  Charles Foster Kane, um dos homens mais importantes da  sua época e que muitos confundiram com William Randolph Hearst, que fez tudo para impedir a sua exibição. Na tentativa de aprofundar a história, o diretor coloca a sua equipe de produção atrás da resposta sobre o enigma central do filme, ou seja, o que seria “Rosebud”, que significa botão de rosa e alegoricamente clitóris em inglês.
Na tentativa de conseguir  uma resposta a esta questão o jornalista Thompson (William Alland) entrevista diversas pessoas que tiveram algum tipo de relação com o magnata a exemplo da sua ex-mulher, a decadente Dorothy Comingore, interpretada por  Susan Alexander, o seu ex melhor amigo Jedediah Leland, interpretado por Joseph Cotten,  além do seu mordomo e outros empregados do castelo.
A construção do filme  numa linguagem inovadora e não linear, também incluiu  o uso flash-backs, um recurso hoje universalizado nos filmes, novelas e seriados de televisão, além do travelling e de fusões de imagens, com uma montagem perfeita.
O Cidadão Kane também introduz no cinema a figura de uma espécie de anti-herói, diferente dos galãs e mocinhos padrão do cinema americano, com um personagem central gordo e grosseiro. O roteiro é assinado por Herman  Mankiewicz em parceria com o próprio Welles, ganhou o único dos sete Oscar’s para os quais o filme foi indicado. Mas o seu reconhecimento como um dos melhores filmes de todos os tempos veio com o tempo e com uma revisão critica do filme que teve diversas releituras em função da incorporação de uma nova linguagem e de técnicas inovadoras para o cinema.
O espectador vai conhecendo assim  a vida de Kane através dos fragmentos de momentos de sua história, desde sua infância, quando morava com sua mãe em uma humilde casa no interior, sua trajetória como jornalista, como político fracassado e que comprava a tudo e a todos até a sua morte num castelo saturado de móveis e objetos colecionados ao longo de toda uma vida. Em função da herança de uma mina Kane, ainda menino, é tirado do convívio de seus pais e levado para ser educado por um grupo de empresários, que o moldam para a vida pública e para o exercício do poder.
Já adulto, por diversão e vaidade pessoal o Cidadão Kane compra um jornal, que transforma numa rede de comunicação e passa a se tornar um jornalista implacável e que esquece a sua carta de princípios éticos, que acabou rasgada ponto por ponto. Mostra também a sua vida e os seus  interesses pessoais, o luxo e a fama decorrentes da riqueza e do poder que concentrava.
Em sua velhice, Kane manda construir para si um castelo, batizado de Xanadu, numa alusão à mítica cidade asiática, conhecida como a capital do prazer. Ali, isolado de tudo e de todos, o cidadão morre sozinho, deixando para os personagens do filme uma tarefa impossível e para os espectadores mais atentos a tarefa de elucidar na última cena o enigma de sua última palavra, um trenó velho e que acaba no fogo como os trastes velhos e as coisas sem valor do castelo, que não seriam leiloados pelos herdeiros. (Kleber Torres)
Ficha técnica:   
Cidadão Kane – Citzen Kane
Direção: Orson Welles
Elenco -  Orson Welles , George Coulouris , William Allan,  Dorothy Comingore, Joseph Cotten  e  Philip Van Zandt       
• Roteiro: Orson Welles e Herman J. Mankiewicz
• Gênero: Drama
• Origem: Estados Unidos

• Duração: 119 minutos

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