quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Paris, Texas





O celebrado Paris, Texas, de Wim Wenders, considerado um cult movie,  conta a história de Travis, interpretado do Harry Dean Stantonm  um homem desmemoriado que parte em busca do seu passado, com a ajuda do irmão Walt (Dean Stockwell),  da cunhada Anne (Aurore Clemen) e do filho Hunter, que significa caçador ou justamente aquele que está à procura de algo.
Ao longo da história ele vai pegando os fragmentos da sua vida, como a foto de um terreno baldio em Paris, Texas, uma pequena cidade texana, ou captura informações esparsas  obtidas através da cunhada, que  mantinha um contato distante e incerto com a ex-mulher (Natassjia Kinsky) . A memória fragmentada também está num filme de super 8, com resgate de imagens familiares.
Sem dúvida, o tema central  do filme é a crise da família e da figura do paterna na sociedade capitalista e pós moderna. É também um filme sobre a solidão de cada um. Num primeiro momento, se percebe que Travis Henderson, é um homem que vive uma profunda crise existencial deflagrada por um desencanto amoroso e pela ruptura de uma relação conjugal. Este conjunto de fatores resulta nos ingredientes do quebra-cabeça existencial do próprio filme, a partir das imagens de um homem perdido no deserto texano, que seria uma metáfora do mundo com a sua complexidade e da própria solidão das pessoas com o seu drama existencial.
Como referência Travis carrega uma pequena foto de um terreno baldio em Paris, no estado do Texas, próximo do Red River, onde, segundo ele, seus pais se conheceram e onde fora concebido. Vale observar que busca das suas raízes   é feita a partir de um espaço territorial e não em termos biográficos que estão num emaranhado  perdido da sua memória pessoal.
O filme aborda em essência uma temática pós-moderna e profundamente  existencial que são as marcas do nosso tempo. A imagem de Paris, que nada tem com a capital francesa e sim com um povoado texano, serve de ponto de partida para a busca e reconstrução da verdade a partir  da imagem fragmentada e que se apresenta a partir de uma velha fotografia. Já o personagem central é um homem perdido no mundo e na vida em busca da sua essência existencial e de referências perdidas num passado remoto.
Ao encontrá-lo vagando pelo interior do Texas, o irmão Walt procura trazê-lo de volta à California, mas Travis, por medo, se recusa a viajar de avião. Os dois seguem de carro até Los Angeles, o que possibilita a sua  reaproximação do irmão. A viagem possibilita ao mesmo tempo, que após quatro anos de separação, Travis reencontre com o filho Hunter, de 8 anos, que havia sido deixado na casa dos tios pela mãe, após a separação do casal.
A desestruturação da família Henderson não ocorreu de uma vez, mas de forma gradual ao longo de um período de quatro longos anos.  Tudo começa com o desaparecimento de Travis, depois, a sua mulher some, deixando o filho Hunter com  os tios, que o adotam e o tratam  com carinho. Com a volta de Travis há a perspectiva do reencontro  com o filho e é deflagrada uma busca para a localização da mãe  numa espécie de uma odisseía para reconstrução impossível de um lar desestruturado e na busca de uma felicidade perdida.
Mas “Paris, Texas” é, também um filme sobre a crise do homem burguês e da desestruração da família no mundo pós moderno que é líquido, difuso, impessoal e desumano. O que se coloca, desde o principio, é a crise existencial de Travis, um homem maduro que se casa com uma bela ninfeta, adolescente imatura, mas um objeto de desejo e que se torna a mãe de seu filho. O universo do filme reflete um mundo social árido das relações impessoais, como o deserto do Texas e reflete as relações em uma sociedade mercantilizada em crise e em constante mudança.

Ficha técnica:
Direção: Wim Wenders
Roteiro: L. M. Kit Carson, Sam Shepard, Wim Wenders
Elenco: Aurore Clément, Dean Stockwell, Harry Dean Stanton, Hunter Carson, Nastassja Kinski
Produção: Anatole Dauman, Don Guest
Fotografia: Robby Müller
Trilha Sonora: Ry Cooder

Duração: 150 min.

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