O
celebrado Paris, Texas, de Wim Wenders, considerado um cult movie, conta a história de Travis, interpretado do
Harry Dean Stantonm um homem desmemoriado
que parte em busca do seu passado, com a ajuda do irmão Walt (Dean
Stockwell), da cunhada Anne (Aurore Clemen)
e do filho Hunter, que significa caçador ou justamente aquele que está à
procura de algo.
Ao
longo da história ele vai pegando os fragmentos da sua vida, como a foto de um
terreno baldio em Paris, Texas, uma pequena cidade texana, ou captura informações
esparsas obtidas através da cunhada,
que mantinha um contato distante e
incerto com a ex-mulher (Natassjia Kinsky) . A memória fragmentada também está
num filme de super 8, com resgate de imagens familiares.
Sem
dúvida, o tema central do filme é a
crise da família e da figura do paterna na sociedade capitalista e pós moderna.
É também um filme sobre a solidão de cada um. Num primeiro momento, se percebe
que Travis Henderson, é um homem que vive uma profunda crise existencial
deflagrada por um desencanto amoroso e pela ruptura de uma relação conjugal. Este
conjunto de fatores resulta nos ingredientes do quebra-cabeça existencial do próprio
filme, a partir das imagens de um homem perdido no deserto texano, que seria
uma metáfora do mundo com a sua complexidade e da própria solidão das pessoas com
o seu drama existencial.
Como
referência Travis carrega uma pequena foto de um terreno baldio em Paris, no estado
do Texas, próximo do Red River, onde, segundo ele, seus pais se conheceram e
onde fora concebido. Vale observar que busca das suas raízes é feita a partir de um espaço territorial e
não em termos biográficos que estão num emaranhado perdido da sua memória pessoal.
O
filme aborda em essência uma temática pós-moderna e profundamente existencial que são as marcas do nosso tempo.
A imagem de Paris, que nada tem com a capital francesa e sim com um povoado
texano, serve de ponto de partida para a busca e reconstrução da verdade a
partir da imagem fragmentada e que se
apresenta a partir de uma velha fotografia. Já o personagem central é um homem
perdido no mundo e na vida em busca da sua essência existencial e de referências
perdidas num passado remoto.
Ao
encontrá-lo vagando pelo interior do Texas, o irmão Walt procura trazê-lo de
volta à California, mas Travis, por medo, se recusa a viajar de avião. Os dois seguem
de carro até Los Angeles, o que possibilita a sua reaproximação do irmão. A viagem possibilita
ao mesmo tempo, que após quatro anos de separação, Travis reencontre com o
filho Hunter, de 8 anos, que havia sido deixado na casa dos tios pela mãe, após
a separação do casal.
A
desestruturação da família Henderson não ocorreu de uma vez, mas de forma
gradual ao longo de um período de quatro longos anos. Tudo começa com o desaparecimento de Travis,
depois, a sua mulher some, deixando o filho Hunter com os tios, que o adotam e o tratam com carinho. Com a volta de Travis há a
perspectiva do reencontro com o filho e é
deflagrada uma busca para a localização da mãe numa espécie de uma odisseía para reconstrução
impossível de um lar desestruturado e na busca de uma felicidade perdida.
Mas
“Paris, Texas” é, também um filme sobre a crise do homem burguês e da
desestruração da família no mundo pós moderno que é líquido, difuso, impessoal
e desumano. O que se coloca, desde o principio, é a crise existencial de
Travis, um homem maduro que se casa com uma bela ninfeta, adolescente imatura,
mas um objeto de desejo e que se torna a mãe de seu filho. O universo do filme
reflete um mundo social árido das relações impessoais, como o deserto do Texas
e reflete as relações em uma sociedade mercantilizada em crise e em constante
mudança.
Ficha técnica:
Direção: Wim Wenders
Roteiro: L. M. Kit
Carson, Sam Shepard, Wim Wenders
Elenco: Aurore
Clément, Dean Stockwell, Harry Dean Stanton, Hunter Carson, Nastassja Kinski
Produção:
Anatole Dauman, Don Guest
Fotografia:
Robby Müller
Trilha
Sonora: Ry Cooder
Duração:
150 min.
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