quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Rede de Intrigas






Um âncora  de noticiário de uma rede de televisão estadunidense é demitido em razão da baixa audiência do programa. Ele então anuncia que irá cometer suicídio no ar. Por esta razão ele é readmitido e os índices de audiência do programa voltam a crescer. O apresentador passa a ser conhecido como o Profeta Louco, e que fala sobre tudo, mas seu comportamento dúbio faz com que os responsáveis pela sua ascensão decidam detê-lo, justo quando os índices de audiência estão caindo e se estabilizando numa tendência negativa.

Com esta sinopse Sidney Lumet construiu uma das suas obras primas e mais premiadas da história do cinema Rede de Intrigas (Network). Ele também se imortalizou como diretor versátil e talentoso, executando obras potentes, na sua maioria, sempre com um viés critico nos campos político, econômico ou social.

Ninguém discute que este é um dos seus filmes mais políticos e denunciadores, mirando diferentes alvos, mas tendo como temática central os complicados bastidores da televisão e os alpinistas sociais no mundo corporativo, com foco sempre nos resultados, ou seja, os índices de audiência de cada programa mesmo com o uso de apelos sensacionalistas e dos recursos da imprensa marrom.

No filme, uma emissora em decadência e com seus índices de audiência em queda investe numa nova grade de programação na tentativa de conquistar e se possível manter os índices em  relação às redes concorrentes, numa disputa que envolve um verdadeiro vale tudo. A empresa também passa por uma reestruturação e sem funde com um grupo internacional ligado aos árabes para se capitalizar.

É neste cenário que emerge Diana (Faye Dunaway) ao assumir a diretoria de programação e investindo numa agressiva e desumana política de marketing, que tem como meta virar este jogo da audiência e do faturamernto independente dos limites que irá ultrapassar. Ele não hesita entre o bem e o mal, nem mesmo em fazer concessões e favores sexuais para atingir os seus objetivos ou fazer acordos com grupos terroristas para transmitir assaltos e crimes ao vivo.

Para isso, ela não hesita em colocar de volta no ar Howard Beale (Peter Finch), com um desempenho magistral, o qual  lhe valeu um Oscar póstumo, intitulado de o “profeta louco”, que dá vida a um personagem complexo que transita do caricato e apático, assumindo a construção de um discurso radical de crítica ao consumismo, à manipulação da informação e à globalização, questionando do mundo da política até a compra da emissora que trabalha por investidores árabes, ganhando assim a simpatia do público e inflando a massa com seus discursos paranóicos tendo como base a afirmação: “estou ficando louco e não irei mais aguentar mais isso”, que passa a  ser assimilado pelos telespectadores.

 O sucesso da atração acaba fazendo os altos executivos da empresa Arthur (Ned Beatty) e Frank (Robert Duvall) festejem os resultados econômicos com o aumento da audiência e consequentemente do faturamento do programa. Eles demitem a Max Schumacher (William Holden), que perde a sua diretoria para Diana, a qual o utiliza como trampolim para a sua escalada profissional.

O filme continua atual e evidencia os problemas dos veículos de comunicação na disputa pela audiência e pelo mercado, bem como questiona a sua função social de informar, educar e mostrar a realidade de forma critica. Os bastidores da televisão são mostrados com realismo, retratando até onde a ânsia pelo lucro e pelo sucesso acaba envolvendo a mobilização  dos telespectadores ou de grupos de interesse nem sempre legítimos, tendo como foco os índices de audiência e o faturamento.

O roteiro assinado por Paddy Chayefsky mostra diálogos e situações marcantes e conflitivas, evidenciando a partir dos bastidores, como as redes de televisão defendem seus próprios interesses, às custas da manipulação da informação e da alienação do telespectador, que não passa de um número para construção dos índices de audiência. O filme se destaca pela sua dialética e contemporaneidade, mostrando o mundo da televisão como uma continuidade do show da vida e os 15 minutos de fama a que cada um tem direito numa sociedade globalizada, em que ninguém se lembra nem mesmo da manchete do dia de ontem.

Vale registrar que a personagem de Faye Dunaway não fala diretamente em nenhuma cena com o de Peter Finch, a quem dirige de forma indireta, como se o mesmo fosse uma não pessoa, mas um objeto  e a única música ouvida ao longo do filme são as dos comerciais, evidenciando a sua importância no contexto econômico televisivo. A Rede de Intrigas é até hoje na historia do cinema  o segundo filme que mais levou Oscar’s de atuação na sua época, com três troféus ao todo, junto com “Uma Rua Chamada Desejo”, que tem como base uma peça de Tenesse Williams. (Kleber Torres)


Ficha Técnica
Network /Rede de Intrigas (BR)
Estados Unidos
1976
121 min
Direção:       Sidney Lumet
Roteiro:        Paddy Chayefsky
Narração:     Lee Richardson
Elenco:     Faye Dunaway, William Holden, Peter Finch, Robert Duvall, Ned Beatty e Beatrice Straight
Música         Elliot Lawrence

Venceu o Oscar nas categorias de Melhor Ator (Peter Finch), Melhor Atriz (Faye Dunaway), Melhor Atriz Coadjuvante (Beatrice Straight) e Melhor Roteiro Original (Paddy Chayefsky).

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