Um âncora de noticiário de uma rede de televisão
estadunidense é demitido em razão da baixa audiência do programa. Ele então
anuncia que irá cometer suicídio no ar. Por esta razão ele é readmitido e os
índices de audiência do programa voltam a crescer. O apresentador passa a ser
conhecido como o Profeta Louco, e que fala sobre tudo, mas seu comportamento
dúbio faz com que os responsáveis pela sua ascensão decidam detê-lo, justo
quando os índices de audiência estão caindo e se estabilizando numa tendência
negativa.
Com esta sinopse Sidney Lumet construiu uma
das suas obras primas e mais premiadas da história do cinema Rede de Intrigas (Network).
Ele também se imortalizou como diretor versátil e talentoso, executando obras
potentes, na sua maioria, sempre com um viés critico nos campos político,
econômico ou social.
Ninguém discute que este é um dos seus filmes
mais políticos e denunciadores, mirando diferentes alvos, mas tendo como
temática central os complicados bastidores da televisão e os alpinistas sociais
no mundo corporativo, com foco sempre nos resultados, ou seja, os índices de
audiência de cada programa mesmo com o uso de apelos sensacionalistas e dos
recursos da imprensa marrom.
No filme, uma emissora em decadência e com
seus índices de audiência em queda investe numa nova grade de programação na
tentativa de conquistar e se possível manter os índices em relação às redes concorrentes, numa disputa
que envolve um verdadeiro vale tudo. A empresa também passa por uma
reestruturação e sem funde com um grupo internacional ligado aos árabes para se
capitalizar.
É neste cenário que emerge Diana (Faye
Dunaway) ao assumir a diretoria de programação e investindo numa agressiva e
desumana política de marketing, que tem como meta virar este jogo da audiência
e do faturamernto independente dos limites que irá ultrapassar. Ele não hesita
entre o bem e o mal, nem mesmo em fazer concessões e favores sexuais para
atingir os seus objetivos ou fazer acordos com grupos terroristas para
transmitir assaltos e crimes ao vivo.
Para isso, ela não hesita em colocar de volta
no ar Howard Beale (Peter Finch), com um desempenho magistral, o qual lhe valeu um Oscar póstumo, intitulado de o “profeta
louco”, que dá vida a um personagem complexo que transita do caricato e
apático, assumindo a construção de um discurso radical de crítica ao
consumismo, à manipulação da informação e à globalização, questionando do mundo
da política até a compra da emissora que trabalha por investidores árabes,
ganhando assim a simpatia do público e inflando a massa com seus discursos
paranóicos tendo como base a afirmação: “estou ficando louco e não irei mais
aguentar mais isso”, que passa a ser
assimilado pelos telespectadores.
O
sucesso da atração acaba fazendo os altos executivos da empresa Arthur (Ned
Beatty) e Frank (Robert Duvall) festejem os resultados econômicos com o aumento
da audiência e consequentemente do faturamento do programa. Eles demitem a Max
Schumacher (William Holden), que perde a sua diretoria para Diana, a qual o
utiliza como trampolim para a sua escalada profissional.
O filme continua atual e evidencia os
problemas dos veículos de comunicação na disputa pela audiência e pelo mercado,
bem como questiona a sua função social de informar, educar e mostrar a
realidade de forma critica. Os bastidores da televisão são mostrados com
realismo, retratando até onde a ânsia pelo lucro e pelo sucesso acaba envolvendo
a mobilização dos telespectadores ou de
grupos de interesse nem sempre legítimos, tendo como foco os índices de
audiência e o faturamento.
O roteiro assinado por Paddy Chayefsky mostra
diálogos e situações marcantes e conflitivas, evidenciando a partir dos
bastidores, como as redes de televisão defendem seus próprios interesses, às
custas da manipulação da informação e da alienação do telespectador, que não
passa de um número para construção dos índices de audiência. O filme se destaca
pela sua dialética e contemporaneidade, mostrando o mundo da televisão como uma
continuidade do show da vida e os 15 minutos de fama a que cada um tem direito
numa sociedade globalizada, em que ninguém se lembra nem mesmo da manchete do
dia de ontem.
Vale registrar que a personagem de Faye
Dunaway não fala diretamente em nenhuma cena com o de Peter Finch, a quem
dirige de forma indireta, como se o mesmo fosse uma não pessoa, mas um objeto e a única música ouvida ao longo do filme são
as dos comerciais, evidenciando a sua importância no contexto econômico
televisivo. A Rede de Intrigas é até hoje na historia do cinema o segundo filme que mais levou Oscar’s de
atuação na sua época, com três troféus ao todo, junto com “Uma Rua Chamada
Desejo”, que tem como base uma peça de Tenesse Williams. (Kleber Torres)
Ficha Técnica
Network
/Rede de Intrigas (BR)
Estados
Unidos
1976
121
min
Direção: Sidney Lumet
Roteiro: Paddy Chayefsky
Narração: Lee Richardson
Elenco: Faye Dunaway, William Holden, Peter Finch,
Robert Duvall, Ned Beatty e Beatrice Straight
Música Elliot Lawrence
Venceu
o Oscar nas categorias de Melhor Ator (Peter Finch), Melhor Atriz (Faye
Dunaway), Melhor Atriz Coadjuvante (Beatrice Straight) e Melhor Roteiro
Original (Paddy Chayefsky).
Nenhum comentário:
Postar um comentário