Considerado um cult movie Queimada! (Burn!), 1969, de Gillo Pontecorvo, que também dirigiu A Batalha de Argel, é um filme considerado de aventura,
mas que se reveste da análise e da crítica política, tendo como foco a questão do poder, da
dominação e o colonialismo, que se fundem numa história sangrenta e de final
trágico. No Brasil, o filme chegou a
mofar nas prateleiras da censura e só foi liberado posteriormente com muitos
cortes.
A
ação ocorre quando um agente do almirantado inglês William Walker (Marlon
Brando) desembarca numa paradisíaca ilha tropical
ficcional nas Caraíbas, que produzia cana de açúcar e pertenceria a Portugal. O cenário se assemelha com o Brasil colônia do século
XIX, mostrando a dura relação entre senhores e escravos, com as sua
contradições sociais e econômicas.
O
enredo é baseado, parcialmente, na história do Haiti, a primeira república negra do mundo. O copião original referia-se a uma ilha espanhola, e
isso pode ser comprovado pelo fato de grande parte dos personagens manterem os
seus nomes espanhóis, como José Dolores em vez do correto José das Dores.
Em
sua versão original e sem cortes o filme tem 112 minutos de duração e há quem
veja similitudes com o Quilombo dos Palmares, no Brasil e as lutas dos negros
escravos no Brasil, que substituíram os índios que resistiram à dominação
portuguesa nas plantações por falta de adaptação ao trabalho braçal e de uma
luta que também teria custado vidas humanas.
Um
fato observado é que existiu na vida real um soldado americano chamado William
Walker, que no período de 1856-1857 chegou a ser presidente da Nicarágua imposto e financiado
pelo magnata Cornelius Vanderbilt. Mas no caso de Queimada, a função do
agente do almirantado britânico seria o de manter contato com o líder negro
liberto Santiago, que no dia da sua chegada à ilha acaba garroteado e morto.
Walker não
desiste do seu intento e acaba
identificando outro líder potencial, o José Dolores, a quem propõe assaltar um
banco. O objetivo da sua missão era, porém, fomentar na zona urbana uma
rebelião de escravos e em seguida congregar mulatos e nativos para uma ação
mais ampla, que seria a conquista da independência daquela colônia abrindo e
conquistando novos mercados para o império britânico que necessitava da
expansão de novos mercados para uma etapa imediatamente posterior à revolução
industrial, quando passaram a ser produzidos em série tecidos e outros produtos
processados.
O fato é que
com a conquista da independência de Queimada os negros abandonaram a disputa
pelo poder e voltaram ao campo, mas como a situação não mudou nos dez anos
subseqüentes à revolta e nem, na relação entre exploradores e explorados, José
Dolores resolve formar um exército de guerrilheiros, o que ameaçava a ordem interna
e a segurança da nova nação, que havia assinado um contrato de exploração de 90
anos, com uma empresa britânica.
Há
quem considere que devido as ligações político ideológicas do diretor com o
Partido Comunista Italiano, o filme Queimada se traduz em um retrato bastante nítido
de como é possível produzir um líder popular e conduzir impulsos ou ações revolucionárias
e de mudanças nem sempre para o bem comum de um povo. Isso fica evidente no diálogo
entre Walker e o escolhido, José Dolores
visando produzir emoções e impulsos de iniciativa em geral revolucionária, num
trabalho de doutrinação ideológica.(Kleber Torres)
Ficha Técnica
Gênero: Drama
Direção: Gillo
Pontecorvo
Roteiro: Franco Solinas,
Gillo Pontecorvo, Giorgio Arlorio
Elenco: Carlo Palmucci,
Dana Ghia, Evaristo Márquez, Giampiero Albertini, Joseph P. Persaud, Marlon
Brando, Norman Hill, Renato Salvatori, Thomas Lyons, Valeria Ferran Wanani
Produção: Alberto
Grimaldi
Fotografia: Giuseppe
Ruzzolini, Marcello Gatti
Trilha Sonora: Ennio
Morricone
Nenhum comentário:
Postar um comentário