segunda-feira, 11 de agosto de 2014






Considerado um cult movie Queimada! (Burn!), 1969, de Gillo Pontecorvo, que também dirigiu   A Batalha de Argel, é um filme considerado de aventura, mas que se reveste da análise e da crítica política,  tendo como foco a questão do poder, da dominação e o colonialismo, que se fundem numa história sangrenta e de final trágico.  No Brasil, o filme chegou a mofar nas prateleiras da censura e só foi liberado posteriormente com muitos cortes.

A ação ocorre quando um agente do almirantado inglês William Walker (Marlon Brando) desembarca numa paradisíaca ilha tropical ficcional nas Caraíbas, que produzia cana de açúcar e pertenceria a Portugal. O cenário se assemelha com o Brasil colônia do século XIX, mostrando a dura relação entre senhores e escravos, com as sua contradições sociais e econômicas.

O enredo é baseado, parcialmente, na história do Haiti, a primeira república negra do mundo. O copião original referia-se a uma ilha espanhola, e isso pode ser comprovado pelo fato de grande parte dos personagens manterem os seus nomes espanhóis, como José Dolores em vez do correto José das Dores.

Em sua versão original e sem cortes o filme tem 112 minutos de duração e há quem veja similitudes com o Quilombo dos Palmares, no Brasil e as lutas dos negros escravos no Brasil, que substituíram os índios que resistiram à dominação portuguesa nas plantações por falta de adaptação ao trabalho braçal e de uma luta que também teria custado vidas humanas.

Um fato observado é que existiu na vida real um soldado americano chamado William Walker, que no período de 1856-1857 chegou a ser presidente da Nicarágua imposto e financiado pelo magnata Cornelius Vanderbilt. Mas no caso de Queimada, a função do agente do almirantado britânico seria o de manter contato com o líder negro liberto Santiago, que no dia da sua chegada à ilha acaba garroteado e morto.

Walker não desiste do seu intento  e acaba identificando outro líder potencial, o José Dolores, a quem propõe assaltar um banco. O objetivo da sua missão era, porém, fomentar na zona urbana uma rebelião de escravos e em seguida congregar mulatos e nativos para uma ação mais ampla, que seria a conquista da independência daquela colônia abrindo e conquistando novos mercados para o império britânico que necessitava da expansão de novos mercados para uma etapa imediatamente posterior à revolução industrial, quando passaram a ser produzidos em série tecidos e outros produtos processados.

O fato é que com a conquista da independência de Queimada os negros abandonaram a disputa pelo poder e voltaram ao campo, mas como a situação não mudou nos dez anos subseqüentes à revolta e nem, na relação entre exploradores e explorados, José Dolores resolve formar um exército de guerrilheiros, o que ameaçava a ordem interna e a segurança da nova nação, que havia assinado um contrato de exploração de 90 anos, com uma empresa britânica. 

Há quem considere que devido as ligações político ideológicas do diretor com o Partido Comunista Italiano, o filme Queimada se traduz em um retrato bastante nítido de como é possível produzir um líder popular e conduzir impulsos ou ações revolucionárias e de mudanças nem sempre para o bem comum de um povo. Isso fica evidente no diálogo entre  Walker e o escolhido, José Dolores visando produzir emoções e impulsos de iniciativa em geral revolucionária, num trabalho de doutrinação ideológica.(Kleber Torres)


Ficha Técnica
Gênero: Drama
Direção: Gillo Pontecorvo
Roteiro: Franco Solinas, Gillo Pontecorvo, Giorgio Arlorio
Elenco: Carlo Palmucci, Dana Ghia, Evaristo Márquez, Giampiero Albertini, Joseph P. Persaud, Marlon Brando, Norman Hill, Renato Salvatori, Thomas Lyons, Valeria Ferran Wanani
Produção: Alberto Grimaldi
Fotografia: Giuseppe Ruzzolini, Marcello Gatti

Trilha Sonora: Ennio Morricone

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