A Marvada Carne (1985), primeiro longa de
André Klotzel, teve sua estréia no Festival de Cannes/Semana da Crítica, e foi
vencedor entre outros tantos prêmios de nove kikitos no Festival de Gramado. O
filme é uma comédia que mostra as hilariantes aventuras de Carula (Fernanda
Torres), uma garota simples, do interior, que tem um grande sonho na vida: se
casar e para isso ela está disposta a tudo.
Já Nhô Quim (Adilson Barros) vive lá nos
cafundós em companhia do cachorro e da cabra de estimação. Mas aquela vidinha
besta de caipira no meio do mato não dá pé e resolve cair no mundo e procurar a
solução para duas questões que o incomodam: arranjar uma boa moça para o
casório, o que coincide com a pretensão de Carula e comer a tal carne de boi,
um desejo que fica ruminando sem parar dentro dele como uma verdadeira obsessão.
Nas suas andaças Nhô Quim vai dar na casa de
Nhô Totó (Dionísio Azevedo), cuja filha Carula está em conflito aberto com
Santo Antônio, o casamenteiro, que não anda colaborando para ela arranjar um
bom marido. E logo Nhô Quim descobre que o pai da moça tem um boi reservado
para a ocasião do casamento da filha. Será este o momento para Nhô Quim realizar
seus dois maiores desejos e de deglutir essa marvada carne.
“A
Marvada Carne”, de André Klotzel, é também uma metáfora de uma sociedade em
transformação e em fase acelerada de urbanização, que não foi apenas um
fenômeno brasileiro, mas uma tendência mundial e que se agudiza com o fenômeno
da globalização. A cidade também atrai a população rural por oferecer melhores
serviços de saúde, educação, infraestrutura e acesso ao mercado de trabalho. A
contrapartida seria a desestruturação das famílias, o aumento do consumo de
drogas, a prostituição e a marginalização dos que não têm qualificação e nem
acesso ao mercado formal de trabalho,
O ponto de inflexão da trama nos permite
identificar os elementos de uma tradição caipira definidos através da
linguagem, dos costumes, vestuários, alimentação, e o seu contraste com a
dinâmica cultural urbana, que só aparece concretamente no final do filme,
embora esteja implícita desde o início da trama, agindo através do desejo do
protagonista pela carne, como motor de uma odisséia que o tirará do isolamento
social e culminará em sua inserção na cultura urbana. (Kleber Torres)
FICHA
TÉCNICA
Direção:
André Klotzel
Roteiro:
André Klotzel e Carlos Alberto Soffredini
Elenco
: Fernanda Torres (Carula), Dionísio Azevedo (Nhô Totó), Adilson Barros (Nhô
Quim), Chiquinho Brandão, Regina Case (Mulher Diaba), Henrique Lisboa (Priest)
Ano:
1985
Gênero:
Comédia
Duração:
78’
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