quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Marvada Carne





A Marvada Carne (1985), primeiro longa de André Klotzel, teve sua estréia no Festival de Cannes/Semana da Crítica, e foi vencedor entre outros tantos prêmios de nove kikitos no Festival de Gramado. O filme é uma comédia que mostra as hilariantes aventuras de Carula (Fernanda Torres), uma garota simples, do interior, que tem um grande sonho na vida: se casar e para isso ela está disposta a tudo.

Já Nhô Quim (Adilson Barros) vive lá nos cafundós em companhia do cachorro e da cabra de estimação. Mas aquela vidinha besta de caipira no meio do mato não dá pé e resolve cair no mundo e procurar a solução para duas questões que o incomodam: arranjar uma boa moça para o casório, o que coincide com a pretensão de Carula e comer a tal carne de boi, um desejo que fica ruminando sem parar dentro dele como uma verdadeira obsessão.

Nas suas andaças Nhô Quim vai dar na casa de Nhô Totó (Dionísio Azevedo), cuja filha Carula está em conflito aberto com Santo Antônio, o casamenteiro, que não anda colaborando para ela arranjar um bom marido. E logo Nhô Quim descobre que o pai da moça tem um boi reservado para a ocasião do casamento da filha. Será este o momento para Nhô Quim realizar seus dois maiores desejos e de deglutir essa marvada carne.

 “A Marvada Carne”, de André Klotzel, é também uma metáfora de uma sociedade em transformação e em fase acelerada de urbanização, que não foi apenas um fenômeno brasileiro, mas uma tendência mundial e que se agudiza com o fenômeno da globalização. A cidade também atrai a população rural por oferecer melhores serviços de saúde, educação, infraestrutura e acesso ao mercado de trabalho. A contrapartida seria a desestruturação das famílias, o aumento do consumo de drogas, a prostituição e a marginalização dos que não têm qualificação e nem acesso ao mercado formal de trabalho,

O ponto de inflexão da trama nos permite identificar os elementos de uma tradição caipira definidos através da linguagem, dos costumes, vestuários, alimentação, e o seu contraste com a dinâmica cultural urbana, que só aparece concretamente no final do filme, embora esteja implícita desde o início da trama, agindo através do desejo do protagonista pela carne, como motor de uma odisséia que o tirará do isolamento social e culminará em sua inserção na cultura urbana. (Kleber Torres)





FICHA TÉCNICA
Direção: André Klotzel
Roteiro: André Klotzel e Carlos Alberto Soffredini
Elenco : Fernanda Torres (Carula), Dionísio Azevedo (Nhô Totó), Adilson Barros (Nhô Quim), Chiquinho Brandão, Regina Case (Mulher Diaba), Henrique Lisboa (Priest)
Ano: 1985
Gênero: Comédia

Duração: 78’

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